O Ministério das Relações Exteriores do Brasil colocou sobre sigilo de cinco anos os relatórios da viagem feita pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) à Rússia, em fevereiro. Os gastos e outras informações do presidente e de sua comitiva só poderão ser divulgados após o dia 21 de fevereiro de 2027. A viagem ocorreu poucos dias antes do início da invasão da Rússia à Ucrânia.
A decisão é do MRE recai sobre o documento produzido pela embaixada de Moscou e foi publicada em fevereiro deste ano. Porém, a descoberta do sigilo tornou-se pública apenas no último dia 12, em resposta ao requerimento de informações (RIC) apresentado pela bancada do PSol (Partido Socialismo e Liberdade) na Câmara dos Deputados.
Foram 15 perguntas ao todo, entre elas questionamentos sobre a agenda, participantes da comitiva e assuntos tratados durante a viagem. O documento ainda pergunta especificamente sobre o assunto tratado entre Bolsonaro e Vladmir Putin. Os parlamentares queriam saber se houve menções ao conflito iminente entre Rússia e Ucrânia e em qual tom a conversa teria ocorrido.
O questionamento que trata sobre o documento sigiloso pede para o MRE “encaminhar cópia de relatório da viagem, com descrição detalhada dos atos praticados pelo Governo Federal na Rússia, tais como os compromissos assumidos e os temas tratados com o Presidente Vladimir Putin, autoridades do governo russo e empresários”. Além disso, o documento solicita “atas das reuniões, documentos e informações relacionadas a acordos e compromissos assumidos, e demais documentos pertinentes”.
Resposta do Itamaraty
O Itamaraty respondeu aos parlamentares que comentar declarações do presidente durante a viagem “foge à competência institucional do MRE”. As respostas foram evasivas, o palácio não explicou porque Carlos Bolsonaro (Republicanos), filho do presidente, fazia parte da comitiva nem deu maiores detalhes sobre seus membros.
O Itamaraty respondeu a questões como a sobre os gastos. De acordo com o palácio foram utilizados quase US$ 97 mil em diárias, mais de US$ 6 mil com intérpretes, cerca de US$ 125 mil com aluguel de veículos, US$ 12.595 com material de apoio ou escritório e US$ 890 com serviço de cerimonial. O ministério acrescentou que não houve gastos na viagem com o deputado Carlos Bolsonaro. “A designação da comitiva é da competência da Presidência da República”, afirmou.
Sobre os questionamentos que tratavam, a temática das conversas, como a menção ao aplicativo telegram ou a agenda LGBTQIA+, o Itamaraty disse que os tópicos não constavam no registro feito na Nota à Imprensa nº 24, publicada em 16 de fevereiro, com o título “Comunicado Conjunto do Presidente da República Federativa do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, e do Presidente da Federação da Rússia, Vladimir Putin”.
A bancada do PSol ficou insatisfeita em descobrir o sigilo dos documentos e com as respostas evasivas e apresentou um pedido de convocação do Chanceler Carlos França para prestar esclarecimentos.