Medo, angústia e ansiedade? Especialistas explicam o que fazer para cuidar da mente em tempos de pandemia

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Isolamento social causa ansiedade e angústia (Free-Photos/Pixabay)

Apreensão, ansiedade, medo, angústia… Algum desses sentimentos – ou outro semelhante – já pegou você nesses tempos de isolamento social? Pois saiba que esta, segundo especialistas, é a primeira de três fases pelas quais devemos passar nos próximos dias. O BHAZ conversou com estudiosos para entender melhor essas etapas e listar dicas para atravessarmos o confinamento da melhor forma possível.

Prevenção versus pânico

O primeiro passo é entender a importância da prevenção para superar a pandemia de coronavírus e saber distinguir esse tipo de cuidado de pânico. Para o psicólogo, psicanalista e escritor Eduardo Andrade, esse desafio é maior para o brasileiro justamente pela ausência de cultura de prevenção, o que gera desespero por causa do despreparo.

“É uma cultura que paga pra ver, que procrastina cuidados e é isso que apavora. Daí quando o pior aponta, começamos a correr atrás do prejuízo de forma eufórica e irracional”, avalia.

“As pessoas devem buscar informações nos lugares mais fiéis e não lotar-se de informações vagas e sem referências que circulam pela internet. A perversão humana sabe usar a internet  para ampliar o horror com Fake News”, detalha.

As três fases da pandemia

Na quinta-feira passada, dia 19, Brasil tinha 621 casos de infecção por coronavírus confirmados, segundo o Ministério da Saúde. O último boletim da pasta, divulgado ontem, mostra um salto dessa estatística: já são 2.433 casos confirmados e 57 mortes.

A velocidade de crescimento do contingente de doentes no país se assemelha ao que aconteceu em outros lugares, como a Itália e o Irã. Nesses locais, a situação se agravou e toda a população vive em isolamento total.

Com essa perspectiva também para o Brasil, o psiquiatra e professor da Faculdade de Medicina da UFMG Frederico Garcia explica que a pandemia pode ser dividida em três etapas, quanto ao impacto na saúde mental.

. Ansiedade

A primeira é a que vivemos atualmente, com o isolamento social. Frederico explica que algumas questões se colocam com a impossibilidade de mobilidade. “Em curto prazo, a mudança na rotina causa um aumento na ansiedade e o medo se instaura por não sabermos o que vai acontecer”, detalha.

. Luto

Em seguida, com o aumento de casos e, consequentemente, o aumento de mortes vem a dificuldade de lidar com o luto. Segundo o psiquiatra, a quarentena é um cenário propício para desenvolvimento do luto patológico. “Como está acontecendo na Itália, não tem enterro, não tem velório, os rituais de luto não vão acontecer. Essas cerimônias são importantes para o luto saudável”, afirma.

. Pós-pandemia

Por fim, quando passar a fase mais grave da pandemia no país, a população terá que lidar com uma economia desestruturada. Frederico explica que esse contexto também gera um aumento na ansiedade e depressão nas pessoas.

7 dicas para ficar bem

Para o psicólogo Eduardo, esse é um momento de buscar amparo mental sem colocar a saúde do corpo em risco. Por isso, o BHAZ reuniu algumas dicas dos especialistas para passar pela quarentena com o corpo e a mente sãos.

Mantenha uma rotina
Para o psiquiatra Frederico Garcia, esse é um dos hábitos mais importantes para ficar bem durante a quarentena. Ele ressalta que não devemos cair no erro de trocar a noite pelo dia. “Devemos ter hora de levantar, hora de dormir, hora de fazer ginástica, hora de fazer comida, etc. Perder a rotina gera ansiedade e até dor muscular”, reforça.

Converse com as pessoas
O professor Frederico é também um pesquisador que observou a saúde mental dos atingidos por barragem em Mariana. Nessa população, ele observou uma ruptura no suporte entre as pessoas após a tragédia. O que causou um aumento na prevalência dos transtornos mentais.

Por isso, durante a quarentena o psiquiatra reforça a importância do suporte social. “São os amigos, as pessoas que você gosta, que você pode contar, que podem te dar ideias. Sugiro que conversem por telefone ou por videochamada, para oferecer ajuda, mas também receber ajuda”, salienta.

Faça da casa um lar
O psicólogo e escritor Eduardo ressalta a importância de dar vida à casa e não deixá-la com caráter de prisão ou um local sufocante. “Organizar a casa de modo que sobre espaço para curtir parte da vida nela. Os que conseguirem, poderão alternar entre trabalhos em casa e momentos de lazer. Fazer da casa um lar é não ficar o tempo todo se confrontando com o ócio em lamentações”, afirma.

A arte é companheira
O psiquiatra Frederico reforça que o preparo para a quarentena vai além do estoque de alimentos e produtos da casa. Para a saúde mental, é importante ter também um estoque de bons livros para ler, filmes que quer assistir e músicas para ouvir.

Eduardo resume isso com a frase “a arte é companheira”. “A arte faz da possibilidade de solidão um momento de companhia. Escutar músicas, dançar, cantarolar, ver filmes, etc. servirá de amaciante para o dia”, exalta.

Limite o acesso às informações negativas
Além de ter as informações adequadas de fontes confiáveis, Frederico reforça a importância de limitar o acesso às notícias ruins. “Devemos estabelecer um horário para isso e fazer só uma vez por dia”, orienta.

Tenha benevolência e empatia
O psiquiatra compara o isolamento dentro de casa com o confinamento do Big Brother. No entanto, ressalta que não vai ter câmera, não vai ter brincadeira e nem charme. “Mas aqui as pessoas vão ter que se esforçar para conviver bem”, reforça.

Para isso, ele acredita que as pessoas vão ter que ter benevolência e muita empatia. Principalmente com as dificuldades financeiras que surgem para alguns. “Além das ajudas sociais que espero que venham do governo, temos que contar com os amigos e com a comunidade que vivemos”, acrescenta

Reflita sobre sua vida
Por fim, os dois especialistas concordam que, apesar do cenário trágico, o isolamento é também uma oportunidade. Frederico ressalta que as pessoas vão ter tempo para o que não costumam ter. “Como ficar perto da família e contatar quem a gente gosta”, exemplifica.

Eduardo sugere ainda que podemos aproveitar o momento para refletir sobre o que cada um tem priorizado em sua vida. “Já estávamos mesmo necessitando repensar a correria do dia a dia, a gente resvala nas pessoas e raramente as encontra, agora sentimos falta. Depois que isso passar, pois vai passar, poderemos ser diferentes. Quem sabe poderemos melhorar as qualidades nas relações?”, propõe.

Ajuda profissional

Mesmo com todas as recomendações de autocuidado, permanece a orientação de procurar atendimento profissional caso seja necessário. “Se a ansiedade, angústia, tristeza ou medo da morte vir de forma mais intensa e visceral procure um profissional de saúde mental, um psicólogo ou psicanalista. Estes também estão repensando a forma de atender, inclusive intensificando o acesso de atendimento via virtual”, orienta Eduardo.

Pensando nisso, o Conselho Federal de Psicologia já publicou uma portaria que flexibiliza as regras de atendimento a distância. “A medida se deu para tentar atenuar os impactos do vírus na sociedade, assim como para facilitar o atendimento e o trabalho das(os) psicólogas(os), tão necessário para a saúde mental da população, especialmente em um momento de pandemia, no qual há implicações emocionais de uma possível quarentena e de aspectos psicológicos do isolamento”, publicou por meio de nota.

Os especialistas consultados pelo BHAZ garantem também que os profissionais da saúde mental estão agindo e se preparando para atender a população no momento de crise. No momento, algumas plataformas oferecem atendimento terapêutico gratuito e perfis de redes sociais espalham informações e recomendações.

Fique de olho!

Uma dessas opções é o Conexão Afetiva, um grupo formado por psicólogos voluntários, especializados para oferecer apoio psicológico nesse momento de pandemia e quarentena, de forma on-line. “Os psicólogos estarão disponíveis de segunda a sábado, 8h às 0h (horário de Brasília),  atendendo via WhatsApp, as solicitações de qualquer pessoa (maior de 18 anos) que esteja passando por momentos difíceis”, afirma o grupo. Para receber o atendimento, basta se cadastrar aqui.

A plataforma “A Chave da Questão” oferece atendimento terapêutico virtualmente. Durante a pandemia do coronavírus, os profissionais do site criaram canais de atendimento e grupos de suporte com participação gratuita (inscreva-se aqui)

Pelo Instagram também é possível curtir um festival de música sem sair de casa. As atrações do Festival Fico em Casa incluem grandes artistas, como Adriana Calcanhoto, Fafá de Belém e Davi Sabbag (acompanhe por aqui).

O psicólogo, escritor e psicanalista Eduardo Lucas Andrade, com quem conversamos nesta reportagem, aposta na interação pela arte e nas ponderações que tocam na saúde mental por meio do seu perfil no Instagram.

Para quem tem crianças em casa, a contadora de histórias Carol Levy tem feito uma live às 20h todos os dias. A cada dia, Carol lê uma história diferente para entreter os pequenos (acesse o perfil dela aqui).

Guilherme Gurgel[email protected]

Estudante de Jornalismo na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Escreve com foco nas editorias de Cidades e Variedades no BHAZ.

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