Uma pesquisa da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) da Universidade de São Paulo (USP) identificou que os atendimentos individuais nos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) de Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte, mais que dobraram, se comparados aos outros municípios de Minas Gerais, após a tragédia do rompimento da barragem da Vale em janeiro de 2019.
De acordo com o estudo, também houve tendência de aumento no número de internações por abusos de substâncias psicoativas. Os resultados foram analisados a partir do dados do Departamento de Informação e Informática do Sistema Único de Saúde do Brasil (DataSUS).
O rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão provocou a morte de 272 pessoas, incluindo dois bebês, de duas gestantes, além de ter causado impactos ambientais e socioeconômicos.
Para avaliação dos efeitos do desastre, Priscila Porrutilizou, pesquisadora responsável pelo estudo, usou um método chamado de “controle sintético”, uma ferramenta que, segundo a USP, compara dados referentes a uma realidade impactada por um determinado fenômeno (no caso da pesquisa, o rompimento da barragem, que impactou no número de atendimentos feitos no Caps e no número de internações hospitalares por causas psicológicas), com dados prospectados, caso não tivesse ocorrido o rompimento da barragem.
Foram analisados dados que abrangeram dois períodos: antes do rompimento da barragem, de 2013 a 2018, para atendimentos no Caps, e de 2009 a 2018, para internações hospitalares; e após o rompimento, de 2019 a 2022, para ambos os casos.
Segundo o estudo da USP, a prevalência de Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) acomete em torno de 5% a 60% das pessoas quando elas experienciam desastres naturais como furacões, inundações, epidemias; e de 25% a 75% quando presenciam desastres derivados da ação humana, como catástrofes industriais que envolvem contaminantes, rompimento de barragens, desastres radioativos, dentre outros.
A pesquisa comparou o número de atendimentos e internações em Brumadinho com a realidade de outras cidades do estado com características semelhantes, inclusive em termos de tamanho da população, Produto Interno Bruto (PIB), que recebem Compensação Financeira pela Exploração Mineral (CFEM) e Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM – grupos controle), utilizando a métrica de uma “razão por 100 mil habitantes”.
De acordo o estudo, o número de atendimentos individuais do Caps de Brumadinho sempre foi cerca de duas a três vezes maior do que em outros municípios. Depois de 2019, após a tragédia, a diferença no número de atendimentos aumentou em cinco vezes, passando de cerca de 10 mil para 30 mil atendimentos por 100 mil habitantes.
Entre 2019 e 2022, o número de internações também aumentou, quando se consideram as hospitalizações devido ao uso de substâncias psicoativas, os transtornos do humor, os casos de esquizofrenia, transtornos esquizotípicos e delirantes.
Em 2019, a “Brumadinho sintética” (dados estimados caso não houvesse o desastre) registrou hospitalizações por causas psicológicas superiores às de “Brumadinho real”. No entanto, a partir de 2020, essa tendência se inverteu, com “Brumadinho real” apresentando números de hospitalizações por causas psicológicas três vezes maiores do que de “Brumadinho sintética”.
O BHAZ procurou a Vale, o governo do estado e a Prefeitura de Brumadinho e aguarda um posicionamento.
Com informações do Jornal da USP