Vendas de ‘kit Covid’ diminuem nos primeiros cinco meses de 2021 e vacinas podem ter influenciado baixa

cloroquina
Apesar da queda nos últimos meses, venda dos medicamentos ainda está em alta (Marcelo Casal Jr/Agência Brasil)

As vendas de medicamentos aos quais são atribuídas, ainda que sem nenhuma evidência científica, propriedades de cura ou prevenção à Covid-19, registraram queda entre janeiro e maio deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado. O conjunto de remédios, chamado informalmente de “kit Covid”, foi amplamente divulgado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Os dados são do Conselho Federal de Farmácia (CFF) a partir do banco de dados da consultoria IQVIA.

A maior redução foi nas vendas de vitamina C (63%) e do paracetamol (63%), além do antimalárico hidroxicloroquina (34%) e do antiparasitário ivermectina (31%). Em fevereiro deste ano, a empresa fabricante da ivermectina, a Merck, publicou um comunicado afirmando a não-eficácia do medicamento no tratamento contra a Covid-19. Outros remédios indicados pelo governo federal no tratamento precoce, como o vermífugo nitazoxanida (53%) e o antimicrobiano azitromicina (50%), também registraram queda. Veja gráfico:

Comparativo de 2017 a 2021 (Reprodução/CFF)

A diminuição coincide com o período de acesso às vacinas. “É possível que a chegada da vacina aos braços dos brasileiros tenha neutralizado, em parte, a histeria que desencadeou uma verdadeira epidemia de uso irracional de medicamentos no país”, avalia o farmacêutico Wellington Barros, consultor do Conselho Federal de Farmácia (CFF).

A oscilação na venda dos medicamentos durante a pandemia (veja gráficos aqui) também pode ser explicada rigidez ou afrouxamento das normas sanitárias que regularizam a necessidade – ou não – de prescrição médica para a compra de remédios. Houve época em que nitazoxanida, a hidroxicloroquina e a ivermectina permaneceram sob controle especial, por exemplo. Nesses períodos, houve certa redução das vendas.

O Conselho destaca, contudo, que as mudanças na legislação normalmente não têm efeito instantâneo sobre os números. Isso acontece porque medicamentos em estoque não são imediatamente incluídos no controle quando as normas são baixadas.

Crescimento

Apesar da redução nos últimos meses, os medicamentos registraram um aumento enorme no começo da pandemia. De janeiro a março do ano passado, em comparação com o mesmo período de 2019, as vendas de ivermectina tiveram um crescimento de 560%, assim como a hidroxicloroquina (111%), as vitamina D (83%) e C (59%), a azitromicina (65%) e a nitazoxanida (10%). Com isso, de forma geral, as vendas continuam em alta.

Segundo o Conselho, os números dos 15 meses de pandemia mostram um aumento de 763% nas vendas de ivermectina, comparando ao mesmo período anterior. A segunda colocada na classificação é a hidroxicloroquina, com 167%. Em seguida vêm a vitamina D, com 119%, e o azitromicina, com 96%. Um caso à parte é o ibuprofeno, que tem observado queda nas vendas desde quando, por um breve período, foi relacionado ao agravamento de casos de Covid-19.

No levantamento, o CFF ainda calculou o número de unidades vendidas e a dosagem de princípio ativo contida em cada uma. Com a estimativa, chegou-se a conclusão que foram parar na casa dos brasileiros, nos 15 meses, 259,4 toneladas de medicamentos de alguma forma relacionados ao “tratamento precoce para Covid-19”. Desse número, 44 toneladas são de vitamina C; quase 26 toneladas de azitromicina; 6,6 toneladas de nitazoxanida; 2 toneladas e meia de vitamina D; 1,2 tonelada de hidroxicloroquina e mais de meia tonelada de ivermectina. Veja gráfico abaixo:

Quantitativo no período de 15 meses, entre março de 2020 e maio de 2021 (Reprodução/CFF)

“O CFF ressalta que todos os medicamentos podem gerar efeitos adversos e que os riscos são ainda maiores para os medicamentos tarjados (aqueles de venda sob prescrição médica). Esses riscos não podem nunca ser negligenciados, especialmente considerando uma doença tão desafiadora como a Covid-19. A automedicação nesses casos é fortemente desaconselhada”, alerta o farmacêutico Wellington Barros.

Kit Covid

No Brasil, o governo recomendou o “kit Covid” como tratamento precoce da Covid-19, mesmo sem eficácia comprovada. Dados sigilosos da CPI da Covid no Senado revelaram que a farmacêutica Vitamedic, uma das maiores produtoras da ivermectina no país, bancou a publicação em fevereiro de anúncios da Associação Médicos pelo Brasil em defesa do tratamento.

Os anúncios publicitários foram veiculados nos principais jornais do país e tinham como autor apenas o grupo Médicos pela Vida. Alguns integrantes da associação compõem o chamado gabinete paralelo, que serviu de aconselhamento ao presidente fora da estrutura do Ministério da Saúde (veja mais aqui).

Em abril, documento que circulou pelas redes sociais mostra que os medicamentos foram sugeridos até mesmo a policiais e bombeiros militares de Minas Gerais (veja mais aqui).

Com CFF

Edição: Vitor Fernandes

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