Após dois anos tentando chegar às telonas brasileiras, “Marighella”, filme dirigido por Wagner Moura, ganhou data de lançamento: dia 4 de novembro. Em entrevista à Folha de S. Paulo sobre a obra, o ator e diretor comentou sobre a relação do longa com o governo atual, e não poupou críticas a Jair Bolsonaro: “Veio do esgoto da história”.
O lançamento de Marighella foi marcado por adiamentos, por conta de um conflito com a Ancine (Agência Nacional do Cinema). A instituição chegou a arquivar duas vezes o projeto de lançamento do filme, que conta sobre a luta do guerrilheiro comunista contra a ditadura militar.
Durante a entrevista, Wagner Moura disse não ter dúvidas que o motivo dos atrasos por parte da Ancine foram censura. “Eu tenho uma visão muito clara sobre isso e não tenho a menor dúvida de que o filme foi censurado”, afirmou.
‘Arquivamentos não têm explicação’
“As negativas da Ancine para o lançamento e, depois, o arquivamento dos nossos pedidos não têm explicação. E isso veio numa época em que o Bolsonaro falava publicamente sobre filtragem na agência, que filmes como ‘Bruna Surfistinha’ eram inadmissíveis”, acrescentou o artista.
O diretor de Marighella disse que os filhos de Jair Bolsonaro (sem partido) foram até as redes sociais comemorar a negativa da Ancine. “Talvez, hoje, haja uma maior compreensão de que isso é um produto cultural brasileiro, que o fato de ser proibido, censurado, atacado pelo governo é um absurdo”, pontuou.
‘Bolsonaro está conectado ao esgoto da história’
Quando questionado sobre como avaliava o governo Bolsonaro, Wagner Moura apontou que a eleição do atual presidente se mostrou “trágica, mas pedagógica”. O ator-diretor disse: “Esse cortejo de mediocridade que vem atrás dele mostra que o Bolsonaro não é um alien, não veio de Marte”.
“Ele é um personagem profundamente conectado ao esgoto da história brasileira, que nos mostra que o Brasil não é só um país de originalidade, de beleza, de potência, de diversidade, de biodiversidade”, avaliou.
Para Moura, Boslonaro fez o favor de “revelar esse outro Brasil, que estava camuflado”, e de “nos mostrar que nós também somos um país autoritário, violento, racista, de uma elite escrota”. Segundo o artista, estrangeiros agora costumam conversar com brasileiros sentindo pena.
Wagner Moura votaria em Lula
Ainda na entrevista, o diretor de Marighella revelou que votaria no ex-presidente Lula (PT), caso as eleições fossem hoje: “Eu reconheço ele, talvez, como o presidente mais importante da história do Brasil. Mas lá no primeiro mandato eu já reconhecia que nós temos que sair daqui para algo além”.
Apesar disso, Wagner avalia que a ideia de país esboçada pelo PT ainda não é o suficiente. “Por um tempo eu achei que a Marina Silva representava esse passo adiante, mas eu ainda procuro por esse alguém, seja na figura de um partido ou de um político”, pontuou.
O filme
As sessões de pré-estreia do filme Marighella se iniciarão na próxima segunda-feira (25). O elenco conta com Humberto Carrão, Adriana Esteves, além de Seu Jorge no papel principal. A classificação indicativa é de 16 anos. Confira o trailer: