Estudo afirma que não há distanciamento seguro, sem máscara e vacinação, contra Covid-19

O distanciamento de 2m. não garante a proteção contra Covid-19
O distanciamento de 2m. não garante a proteção contra Covid-19 (Imagem Ilustrativa/Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Segundo estudo publicado na revista Physics of Fluids, o distanciamento de 2 metros não garante a proteção contra partículas aéreas infectadas pelo Sars-CoV-2, nem em ambientes abertos. O estudo da Universidade de Cambridge, no Reino Unido afirma que essa medida foi definida de forma arbitrária e não impede a transmissão do vírus na ausência de máscara. Dessa forma, liberar o uso do protetor facial ao ar livre pode não ser seguro.

Os pesquisadores usaram modelagem de computador para acompanhar o comportamento das gotículas quando as pessoas tossem. Dessa forma, foi constatado que cada gotícula segue um caminho diferente, sendo impossível prever seu curso, da mesma forma que uma “distância segura” pode variar entre um metro ou mais de três.

Por isso, na pesquisa, os autores destacam que o distanciamento social não é uma medida eficaz de diminuição da contaminação se usada sozinha. Assim, é necessário o uso de máscaras mesmo em ambientes externos, vacinar-se e ventilar os ambientes fechados. A maior transmissão do Covid-19 é por vias aéreas, então pessoas infectadas disseminam o vírus por meio de tosse, espirro ou até mesmo fala, a partir de gotículas que flutuam no ar.

Em nota, o professor do Departamento de Engenharia de Cambridge e líder da pesquisa, Epaminondas Mastorakos, rememorou o início da pandemia. “Lembro-me de ouvir muito sobre como a Covid-19 estava se espalhando pelas maçanetas no início de 2020, e pensei comigo mesmo: se fosse esse o caso, o vírus deveria deixar uma pessoa infectada e pousar na superfície. Ou, então, se dispersar no ar, através de processos mecânicos”, disse.

Ao longo da pandemia, Mastorakos e outros pesquisadores desenvolveram vários modelos de como a Covid-19 se espalha. “Uma parte da forma como essa doença se espalha é a virologia: a quantidade de vírus que você tem em seu corpo, quantas partículas virais você expulsa quando fala ou tosse”, explicou o pesquisador Shrey Trivedi, ao site da Universidade de Cambridge. “Mas outra parte é a mecânica dos fluidos: o que acontece com as gotas depois de serem expelidas, é aí que entramos. Como especialistas em mecânica dos fluidos, somos como a ponte da virologia do emissor para a virologia do receptor e podemos ajudar na avaliação de risco”.

Transmissão do vírus

Durante as simulações, os pesquisadores descobriram que as gotículas de tosse espalham-se para além de dois metros. Quando a pessoa está sem máscara, a maior parte das gotas cai em superfícies próximas, porém as menores ficam suspensas no ar e podem espalhar-se longas distâncias.

Entretanto há outras variantes na quantidade de vírus expelida além da ventilação do ambiente e o uso de máscaras. “Cada vez que tossimos, podemos emitir uma quantidade diferente de líquido. Então, se uma pessoa está infectada com Covid-19, ela pode estar emitindo muitas partículas de vírus ou muito poucas, e por causa da turbulência eles se espalham de forma diferente a cada tosse”, explicou Trivedi.

“Mesmo que eu expulse a mesma quantidade de gotas toda vez que tossir, porque o fluxo é turbulento, há flutuações”, ressaltou Mastorakos. “Se estou tossindo, as flutuações na velocidade, temperatura e umidade significam que a quantidade que alguém consegue (emitir) na marca de 2 metros pode ser muito diferente a cada vez.” 

Embora a mensagem do distanciamento de 2 metros seja prática e eficaz na maioria dos casos, os pesquisadores ressaltam a importância da vacina, ventilação e uso de máscaras. “Estamos todos desesperados para ver o fim desta pandemia, mas recomendamos fortemente que as pessoas continuem usando máscaras, especialmente em espaços internos, como escritórios, salas de aula e lojas”, disse Mastorakos. “Não há nenhuma boa razão para se expor a esse risco, desde que o vírus esteja conosco”.

Aglomerações

O pesquisador da Universidade de Leicester (Reino Unido), Julian Tang ressaltou a importância das máscaras, também ao ar livre, quando há aglomerações. “Por exemplo, se você estiver em uma fila para pegar o ônibus, mesmo com mais de 2 metros de distância usar uma máscara reduzirá ainda mais a transmissão de qualquer vírus transportado pelo ar. Pense assim: se você está parado e alguém está fumando, mesmo se você estiver a mais de dois metros de distância pode sentir o cheiro”, compara.

Segundo o virologista, como o vírus é aerossol acontece algo semelhante. “As pessoas expiram de meio litro a um litro de ar, 12 a 16 vezes por minuto (essa é a taxa da respiração normal). Então, cada respiração pode bombear mais vírus no ar se você estiver infectado. O vírus pode sobreviver por mais tempo nos dias mais frios e escuros de inverno – portanto, é capaz de viajar na direção do vento para que outras pessoas respirem – mais além dos 2 metros”, diz.

“Portanto, com base no que sabemos sobre a física e a fisiologia da transmissão do vírus aerossol, usar uma máscara ao ar livre em filas ou locais com concentração de pessoas ajudará a reduzir a transmissão.”  

Edição: Vitor Fernandes
Giulia Di Napoli[email protected]

Estudante de Jornalismo na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

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