Chamado de macaco por torcedor, Fellipe Bastos cobra punição e desabafa: ‘Só quem sofre é quem sente’

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O jogador relatou o caso em entrevista coletiva após o jogo (Rosiron Rodrigues/Goiás + Reprodução/Youtube/Goiás Esporte Clube)

O volante Fellipe Bastos, do Goiás, relatou ter sido alvo de xingamentos racistas depois da partida de ontem (8) contra o Atlético-GO, no estádio Antônio Accioly, do time atleticano. O atleta falou sobre o episódio durante entrevista coletiva após o jogo, e também fez uma postagem sobre o caso no Instagram.

“Aconteceu um ato racista. Eu estava saindo para o vestiário e um rapaz com óculos na cabeça me chamou de ‘macaco’. Eu voltei e falei para ele repetir. E ele falou: ‘macaco'”, denunciou Fellipe Bastos.

O Goiás repudiou o ato do torcedor e chamou atenção para a necessidade de investigar o homem, que ainda não foi identificado.

‘Poderiam ter identificado’

Bastos criticou e lamentou a falta de atitude dos presentes, que testemunharam o ato e nada fizeram. “No mundo em que a gente vive, o ato racista nos deixa entristecido porque as pessoas que estavam ali do lado viram (…). O policial e os seguranças poderiam ter identificado o torcedor. É recorrente”, denunciou.

“Temos que dar um basta nisso, só quem sofre é quem sente. Eu não queria que isso abafasse nossa primeira vitória no Campeonato Brasileiro [o Goiás venceu por 1 a 0], mas é importante falar. Estou assustado, pois é a primeira vez que acontece comigo”, afirmou o jogador.

Tristeza

O atleta também disse que se abalou com o ocorrido. “Estou muito triste, perplexo com o que aconteceu porque não foi só uma vez. Eu pedi para ele repetir e ele repetiu. Ou seja, ele é racista, não tem outra coisa para se falar de uma pessoa que repete o ato errado, que volta e repete o que falou”.

Na coletiva, Fellipe Bastos relembrou outros casos recentes que ocorreram com brasileiros. “Estamos vendo acontecimentos no futebol, a gente viu contra o Fortaleza e o Corinthians [na Copa Libertadores]”, disse.

Ao solicitar uma apuração do crime, Bastos defendeu que o time adversário não deve ser penalizado, e sim, o próprio infrator. “Essa pessoa tem que ser identificada, tem que sofrer punição. Não acho que é o clube que tem que sofrer, uma pessoa não diz o que é o Atlético-GO, mas a pessoa tem que sofrer a punição. É fácil identificar, pois ele me chamou duas vezes de ‘macaco'”, ressaltou.

‘Parece ter virado rotina’

Além da entrevista coletiva, Bastos também se manifestou por meio de seu Instagram. “Hoje era pra ser um domingo 100% feliz, pelo Dia das Mães e pela nossa vitória no clássico. Mas, infelizmente, aconteceu o que parece ter virado rotina nas arquibancadas de futebol”, lamentou o jogador na postagem.

“Mais um episódio lamentável de racismo, que já passou da hora de acabar. Não há mais espaço para pessoas e atitudes desse nível. NÃO AO RACISMO!”, concluiu Fellipe Bastos.

Ele também o apoio de diversos seguidores na rede social. “Força irmão”, escreveu um amigo. “Estamos contigo, você é muito maior que isso”, apoiou outro. “Parabéns aos responsáveis que fecham os olhos para esses tipos de situações”, criticou um usuário.

Goiás repudia

O Goiás, clube defendido por Fellipe Bastos, repudiou o fato, defendeu o volante e pediu a punição do torcedor. “Repudiamos veementemente esse ato vergonhoso e covarde, que infelizmente continua a acontecer no futebol. Chega! Isso precisa acabar! Racismo é crime e as medidas judiciais devem ser tomadas para punir o criminoso. Não iremos tolerar esse tipo de atitude”, escreveu o time.

Até o momento, o Atlético-GO ainda não se manifestou sobre o caso.

Problema estrutural e recorrente

Nos últimos anos, observa-se um aumento no número de denúncias de racismo no Brasil. No estado de São Paulo, um estudo feito pelo Tribunal de Justiça local apontou que o número de casos relacionados a racismo aumentou 746% no estado entre os anos de 2020 e 2021.

No ano passado, Minas Gerais registrou pelo menos um caso de racismo por dia, com aumento percentual de 14,3% em relação a 2020. Os dados são da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp-MG).

No âmbito esportivo, entre 2016 e 2019, os casos de discriminação (incluindo a racial), aumentaram gradativamente no Brasil. Os dados foram obtidos por estudo do Observatório da Discriminação Racial no Futebol.

Racismo é crime

De acordo com o CNJ (Conselho Nacional de Justiça), é classificada como crime de racismo – previsto na Lei n. 7.716/1989 – toda conduta discriminatória contra “um grupo ou coletividade indeterminada de indivíduos, discriminando toda a integralidade de uma raça”.

A lei enquadra uma série de situações como crime de racismo. Por exemplo: recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, impedir o acesso às entradas sociais em edifícios públicos ou residenciais, negar ou obstar emprego em empresa privada, além de induzir e incitar discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. O crime de racismo é inafiançável e imprescritível, conforme determina o artigo 5º da Constituição Federal.

Já a discriminação que não se dirige ao coletivo, mas a uma pessoa específica, também é crime. Trata-se de injúria racial, crime associado ao uso de palavras depreciativas referentes à raça ou cor com a intenção de ofender a honra da vítima. Quem comete injúria racial pode pegar pena de reclusão de um a três anos e multa, além da pena correspondente à violência, para quem cometê-la.

Edição: Roberth Costa
Beatriz Kalil Othero[email protected]

Jornalista formada pela UFMG, escreve para o BHAZ desde 2020, e atualmente, é redatora e fotógrafa do Portal. Participou de reportagens premiadas pela CDL/BH em 2021 e 2022, e pela Rede de Rádios Universitárias do Brasil em 2020.

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