De visita em BH: O skatista herói que ganha a vida registrando sua rotina

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Ademar Lucas é bem “modesto” quando o assunto é skate. Prova disso é o nome da sua crew: Ademafia. No entanto, apesar do título sugestivo, seu trabalho diário é divulgar sua rotina aventureira com o skateboard. Recentemente, em uma viagem a BH, ele ainda ganhou um apelido um tanto “poderoso” ao resgatar uma bolsa furtada no centro da Capital: O skatista herói. Luquinhas, que nasceu e cresceu em uma comunidade carente do RJ, vive hoje uma aventura diária por onde passa. Seu trabalho é também seu lazer e tudo é a realização de um sonho: Viver do que ama, viver do skate!

O skatista, de 25 anos, começou a praticar o esporte ainda criança, com apenas 10 anos. O movimento Ademafia, por sua vez, nasceu há dois anos. “O intuito era convidar a galera, marcar uma sessão, gravar e colocar nas redes sociais pra divulgar a nossa correria“, contou Ademar em entrevista ao Cultura de Rua. O canal do coletivo no YouTube é alimentado semanalmente e já acumula mais de 100 mil seguidores de todo o país.

Composto por vários quadros, como o Adelife, no qual eles gravam uma espécie de “vídeo diário” mostrando as aventuras de um dia com o skate e amigos, o canal é super interativo. A equipe produz inclusive um jornal, o Adenews. No informativo semanal eles divulgam novidades do movimento skateboard e afins. De acordo com Luquinhas, a relação do coletivo com outras atividades aconteceu de forma espontânea. “Como o skate está relacionado com várias outras vertentes da cultura urbana, como grafite e música, foi inevitável que no decorrer do tempo fôssemos acrescentando isso também aos vídeos”.

Um dos pontos fortes dos registros da crew é a valorização das relações feitas por onde passam. Prova disso são as diversas participações de moradores de rua nas andanças da equipe. “Como passo a maior parte do meu tempo na rua, acabei aprendendo como é importante ter essa relação saudável com todos que estão nela, inclusive os moradores de rua. Esse respeito influencia diretamente no meu bem-estar e segurança“, afirma o skatista.

O trabalho promissor do movimento Ademafia funciona como uma união de talentos, sua jornada vai além de andar de skate por aí… A equipe realiza diversas atividades que giram em torno do esporte: viajam para competições, filmam manobras, fazem suas próprias trilhas sonoras e até produzem festas. Afinal, lazer também dá trabalho. Prova disso é o Baile do Ademar, evento promovido pela crew que já chegou a reunir um público de 10 mil pessoas no Rio de Janeiro.

Mas engana-se quem pensa que viver da prática do skate é fácil, exige habilidade, desenvoltura e o principal: oportunidade. “Sobreviver do skate é muito difícil, na verdade, são poucos os sortudos que conseguem ter um apoio”. Segundo Ademar, foi por esse motivo que eles criaram o movimento. “Queríamos canalizar todos os nossos trabalhos para poder ter mais facilidade na hora de apresentar para o patrocinador“. O skatista acredita que trabalhos fora da escala de 44 horas semanais normalmente não têm o valor reconhecido no mercado. “Não só o skate, acho que o esporte em geral e a arte e cultura no Brasil não são bem remunerados“.

Confira a entrevista dele a Bhaz:


Parada em BH

Luquinhas costuma visitar Belo Horizonte sempre que pode. Inclusive, sua primeira viagem pelo esporte foi para a Capital para participar do Circuito Mineiro de Skate. E foi também em BH onde ele ganhou a fama de skatista herói. O apelido foi dado pelo Portal Bhaz e acabou pegando. Ademar confessa que a repercussão do vídeo onde alcança o ladrão na Praça da Estação o pegou de surpresa. “Não estava esperando chegar ao nível que chegou. Muita gente compartilhando. Fico feliz de estar somando positivamente pra imagem do skate”. As cenas de heroísmo alcançaram quase 3 milhões de visualizações.

Entretanto, o rapaz afirma que nem sempre é assim, comumente a visão que as pessoas têm dos skatistas é de que eles são marginais, mas que essa não é a verdade. “Não é só vagabundo que pratica, a maioria é de bem. Quando a gente tá na rua, a gente soma pra cidade, e muita gente vê o skate como problema”. Luquinhas conclui que o skate tem uma parcela de influência na sociedade. “Além de um estilo de vida, ele contribui para a transformação social”.

Sobre o resgate da bolsa, ele conta que, quando percebeu o furto, estava em um grupo com cerca de 50 skatistas. Ele e aproximadamente mais cinco foram atrás do ladrão. “Fui na frente e quando estava chegando perto, vi que o cara estava desarmado e tentei pará-lo”. O vídeo chama a atenção pelo fato de ser o próprio skatista o responsável por filmar a ação onde captura o ladrão, como num game em primeira pessoa.

Os amigos de Ademar que contribuem para a captura são de um coletivo de skate de Belo Horizonte, a G7 Crew. Aqui, o aventureiro diz ter feito muitas amizades. “O ‘life style’ do Rio é muito parecido com o de BH. Acho similar e me identifico muito“, afirma o skatista, que costuma se hospedar na casa de amigos quando visita outras cidades. “O skate é uma família grande, independente de o cara ter uma crew ou não, ele é recebido em qualquer lugar no mundo que ele vá”.

 

Jéssica Munhoz

Jessica Munhoz é redatora do Portal Bhaz e responsável pela seção Cultura de Rua.

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