Flamengo precisará explicar judicialmente falta do número 24 em camisas na Copinha

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O clube tem 48 horas para responder aos questionamentos (Gilvan de Souza/Flamengo)

O Flamengo terá de explicar à Justiça do Rio o motivo de não ter adotado o número 24 na camisa de jogador durante a Copa SP de Futebol Júnior, a Copinha, deste ano. A ação é movida pelo Grupo Arco-Íris, uma organização de defesa e promoção dos direitos da população LGBTQI+. Dentre os pedidos judiciais do grupo, está a solicitação de 6 respostas sobre essa omissão (leia mais abaixo).

Para os ativistas, a ação do Flamengo corrobora para a discriminação e preconceito contra a população LGBTQI+ na sociedade. O pedido foi assinado por Carlos Nicodemos, advogado do Arco-Íris, e presidido por Cláudio Nascimento. A informação foi divulgada hoje (25) pelo blog da jornalista Gabriela Moreira, no ge.

Estigma do número 24

No pedido do grupo, há uma explicação sobre o preconceito associado à numeração 24, que muitas vezes, é ignorada pelos times na escolha dos números das camisas. “O número 24 ganhou forte associação à temática gay, pois era o número utilizado no jogo do bicho (muito popular e conhecido no Brasil) para a identificação do veado/cervo”, inicia o texto.

“O animal, de igual forma, ganhou forte referência à temática homossexual, pois se popularizou o comportamento da espécie de relações sexuais entre animais do mesmo sexo, mesmo não se tratando de comportamento exclusivo entre esses animais”, relembra.

Segundo o grupo, o futebol reproduz a homofobia da sociedade. “Sendo assim, o número 24 é constantemente e historicamente relacionado com o homem gay por conta do jogo do bicho, que associa este número ao veado, animal, que por sua vez, é utilizado como forma de ofensa para a comunidade LGBTI+”, completa o pedido.

Lista dos jogadores do time rubro-negro na Copinha (Divulgação/Flamengo)

Apenas 1 em 2019

No pedido, eles também citam dado da reportagem do Esporte Espetacular. Na matéria, foi revelado que “na última rodada do Campeonato Brasileiro da série A de 2019, dos 419 jogadores inscritos para os 10 jogos, apenas 1 jogador estava registrado com o número 24”. 

Alto índice de violência

Para o grupo, a inclusão do número 24 poderia simbolizar uma forma de resistência à discriminação à comunidade LGBTQI+. No texto, o coletivo ressalta que o Brasil “possui um dos maiores índices de violência contra as pessoas cuja orientação sexual, identidade e/ou expressão de gênero e características sexuais divergem do padrão aceito pela sociedade de toda discriminação e violência endêmicas que ocorrem no país”.

Lembrando dados da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, o Arco-Íris defende que a “proteção envolve, essencialmente, a criação e o fortalecimento de mecanismos voltados ao atendimento a essas pessoas, além de políticas e projetos para promover seus direitos, incluindo a mudança cultural por meio de uma educação inclusiva de perspectiva diversificada de gênero”.

48 horas

A decisão foi tomada pela juíza Simone Gastesi Chevrand, da 25ª Vara Cível do Rio de Janeiro, e despachada na última segunda-feira (21). Na ação, é solicitado um posicionamento do Flamengo em 48 horas depois da notificação. Procurado pelo ge, o clube carioca não retornou sobre o caso.

Perguntas

Confira as interrogações feitas pelo Grupo Arco-Íris ao Flamengo. Na ação, o clube foi interpelado judicialmente, ou seja, foram solicitados esclarecimentos ao rubro-negro carioca.

  • A não inclusão do número 24 no uniforme oficial na Copa São Paulo de Juniores de 2022 constitui uma política deliberada da interpelada?
  • Em caso negativo, qual o motivo da não inclusão do número 24 no uniforme oficial da interpelada na mencionada competição?
  • Qual o departamento dentro da interpelada, que é responsável pela deliberação dos números do uniforme do Clube?
  • Quais as pessoas e funcionários (nomes e identificação) da Interpelada, que integram este departamento que delibera sobre a definição de números no uniforme oficial?
  • Existe alguma orientação da FEDERAÇÃO PAULISTA DE FUTEBOL, CBF, CONMEBOL ou FIFA sobre o registro de jogadores com o número 24 na camisa?
  • A Interpelada possui algum programa de salvaguarda e enfrentamento à discriminação contra a comunidade LGBTQIA+ na sua estrutura funcional?
Edição: Roberth Costa
Beatriz Kalil Othero[email protected]

Jornalista formada pela UFMG, escreve para o BHAZ desde 2020, e atualmente, é redatora e fotógrafa do Portal. Participou de reportagens premiadas pela CDL/BH em 2021 e 2022, e pela Rede de Rádios Universitárias do Brasil em 2020.

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