Pesquisa testa aparelho que limita a abertura da boca para perda de peso

Aparelho odontológico para perda de peso
Participantes convocados relataram dificuldade em pronunciar algumas palavras (Reprodução/Nature)

Uma estudo clínico da Universidade de Otago, na Nova Zelândia, e do Hospital Escola de Leeds, na Inglaterra, desenvolveu um dispositivo odontológico para promover a perda de peso. O dispositivo limita a abertura da boca por meio de ímãs que prendem os molares superiores aos molares inferiores, fazendo com que o paciente apenas consiga ingerir líquidos. A ideia é que o paciente consiga emagrecer rapidamente, na medida em que não consegue ingerir alimentos sólidos. Contudo, especialista alerta para perigo desta prática.

Sete obesos saudáveis ​​participaram da pesquisa. Eles utilizaram o aparelho e receberam uma dieta líquida disponível comercialmente por duas semanas. O conforto e tolerabilidade do dispositivo foram avaliados por meio de um questionário de qualidade de vida durante as consultas de revisão em 1, 7 e 14 dias e duas semanas após a remoção do dispositivo.

Como resultado, após duas semanas de uso do dispositivo, os participantes conseguiram uma perda considerável de peso, mas relataram dificuldade em pronunciar algumas palavras, além de desconforto ocasional e sentimento de que a vida em geral era menos satisfatória. A perda média de peso foi de 6,36 quilogramas, o que representa aproximadamente 5,1% do peso corporal.

O artigo, publicados na revista científica “The British Dental Journal“, da Nature, ainda aponta que os participantes “quase nunca” relataram uma mudança na sensação do paladar ou se sentiram desconfortáveis ​​ao beber, e se sentiram tensos e envergonhados “apenas ocasionalmente”. Os pesquisadores concluíram que os convocados toleraram o dispositivo – por um período de duas semanas – com perda de peso satisfatória, ficaram felizes com o resultado e motivados para perder mais peso.

Solução para a obesidade?

Os pesquisadores argumentam que o aparelho pode ser particularmente útil para aqueles que precisam perder peso antes de se submeter à cirurgia e para pacientes com diabetes para os quais a perda de peso pode iniciar a remissão. O artigo ainda apresenta a obesidade como uma epidemia global em países desenvolvidos e em desenvolvimento. Uma pesquisa da PUC Minas, realizada no ano passado, apontou que 52,2% da população de Belo Horizonte e região metropolitana ganhou peso durante o isolamento social. 

“Estudos recentes relataram que 1,9 bilhão de adultos estão com sobrepeso e 650 milhões são obesos, com aproximadamente 2,8 milhões de mortes relatadas anualmente como resultado de excesso de peso ou obeso. Além disso, em 2030, estima-se que 57,8% da população adulta poderia estar com sobrepeso ou obesidade”, aponta os pesquisadores da Nova Zelândia e Inglaterra.

Dispositivo intraoral para perda de peso (Reprodução/Nature)

Para o nutricionista Victor Lemuchi, porém, a restrição alimentar pode gerar outras complicações psicológicas no paciente. “Isso pode acarretar em compulsões alimentares, estresse, mau humor, desnutrição, e carência de vitaminas e minerais. A pessoa pode ficar mais ansiosa e com isso vem as alterações psicológicas”, pontua o profissional.

O uso do dispositivo também pode levar à própria perda do movimento de mastigação. “Isso também acaba alterando fatores fisiológicos da pessoa, ela pode precisar de uma reabilitação [na mandíbula] após o estudo, um trabalho de fisioterapeuta, de um fonoaudiólogo”, afirma Lemuchi.

Dietas líquidas

O nutricionista ainda pontua que dietas líquidas não são recomendadas para todas as pessoas que desejam emagrecer. “Não é pra qualquer pessoa, depende do grupo, depende da anamnese feita em cada pessoa, isto é, daquela primeira parte da consulta, quando perguntamos o lado da pessoa, estilo de vida, comorbidade, histórico familiar, aquela pesquisa em geral que fazemos antes”.

“A dieta é uma individualidade de cada pessoa, não existe uma padrão para todo mundo, é individual. Teria que ter uma avaliação”, explica. O profissional ainda lembra que, caso a pessoa opte por seguir uma dieta líquida, ela ainda deve se atentar à ingestão de nutrientes. “Depende do alimento que a pessoa vai ingerir, porque ela precisa dos nutrientes necessários, vitamina, proteína in natura”, reforça.

Lemuchi ainda diz que não prescreve dietas líquidas para os pacientes dele. “Não recomendaria. Acaba que a comida fica sendo um vilão”, finaliza.

Edição: Vitor Fernandes

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