A Sociedade da Neve: Filme evidencia o embate entre o moralismo e a sobrevivência

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Sobreviventes do acidente do voo 571 nos Andes (Imagem Ilustrativa/Netflix/Divulgação)

No vasto e assustador cenário dos Andes, onde a frieza da neve se mistura à intensidade ardente para sobreviver, “A Sociedade da Neve” nos leva a uma jornada angustiante frente ao embate dos personagens entre a moralidade e a sobrevivência.

Sob a direção magistral de Juan Antonio Bayona, o filme retrata o desespero enfrentado pelos 29 sobreviventes do voo 571, da Força Aérea Uruguaia, que caiu na Cordilheira dos Andes em 1972. A película mergulha fundo na complexidade humana quando confrontada com condições extremas.

Netflix/Divulgação

Em um ambiente inóspito, onde o certo e o errado se entrelaçam em meio à luta pela vida, Bayona tece uma narrativa que desafia não apenas os personagens, mas também a audiência, a questionar seus princípios quando empurrada para além de seus limites convencionais. 

A habilidade do diretor em criar tensão e capturar a brutalidade do acidente inicial é feito com maestria. As cenas, fortemente detalhadas e angustiantes, captam a atenção do telespectador e mantém o público cativo por mais de duas horas. Em questão de minutos, a aeronave e o sonho dos 45 passageiros se desfazem de uma forma visceral, impulsionando os personagens a enfrentarem a dura realidade da situação.

Antropofagia: Uma abordagem sensível na luta pela vida

A decisão de recorrer à antropofagia para sobreviver, é tratado com uma sensibilidade que evita o sensacionalismo. A trama conduz essa representação com discrição, focando na necessidade emergencial sem explorar excessivamente a crueza do ato.

“A Sociedade da Neve” não é apenas uma obra cinematográfica; é uma experiência desesperadora para o telespectador. Assistir a essa narrativa angustiante no conforto do lar, nos faz questionar como reagiríamos em circunstâncias semelhantes.

Sobreviventes do voo 571 – Netflix/Divulgação

Frequentemente lembrado se tratar de uma película que retrata um acontecimento real, quem assiste fica em uma frenesi mudança de emoções ao se apegar às histórias dos tripulantes e ter que vê-los lidar com a crueldade do ambiente e do destino durante 72 dias.

“A Sociedade da Neve” é uma história de amor, superação, tristeza e desespero. O filme nos confronta com uma pergunta angustiante: até onde estaríamos dispostos a ir para sobreviver? 

Alerta: contém spoilers a seguir!

Numa Turcatti: ‘Não há amor maior do que aquele que dá a vida por seus amigos’

Ao me deparar com a história de Numa Turcatti, esperava um desfecho diferente, principalmente por ele ser o protagonista. Confesso que me apeguei ao jovem de 24 anos, repleto de sonhos, princípios e vontade de viver. O ator uruguaio Enzo Vogrincic conseguiu transmitir bem essa essência.

Num primeiro momento, fiquei aliviada ao pensar: “A história é contada do ponto de vista dele, não tem como ele não ter sobrevivido.” No entanto, eu nem imaginava o que estava por vir. Nesse ponto, afirmo que o diretor atingiu seu objetivo: desviar o foco dos resgatados e dar voz àqueles que não sobreviveram, mas se dedicaram de corpo e alma para ajudar os amigos, literalmente.

Enzo Vangrincic como Numa Turcatti – Netflix/Divulgação

É que desde o início até o final, Trucatti se mostrou disposto a ajudar. Após uma avalanche bloquear a saída dos destroços do avião, ele quebrou uma janela com o pé e conseguiu escapar. O ato de bravura ajudou a salvar a vida dos companheiros, mas foi fatal para ele mesmo. Ao quebrar a janela, o jovem se feriu e contraiu uma infecção.

Turcatti foi uma das poucas pessoas que se recusava a comer carne humana. Com apenas 25 quilos, a infecção acelerou todo o processo. Ciente de que provavelmente não sobreviveria, o jovem deu o consentimento para que os amigos se alimentassem dele após sua morte.

Trucatti passou o aniversário de 25 anos dele nas montanhas, em 30 de outubro. Menos de dois meses depois, ele morreu em 11 de dezembro, 11 dias antes do resgate. Mesmo após sua morte, Turcatti não abandonou sua essência, deixando um bilhete para os companheiros com as palavras marcantes: “Não há amor maior do que aquele que dá a vida por seus amigos”.

Amanda Serrano[email protected]

Foi estagiária do Jornal Estado de Minas e da TV Band Minas. Também trabalhou na assessoria política. Atualmente é repórter do Portal BHAZ.

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