PM aposentado morre após tomar cervejas em MG e exame sugere intoxicação; marca nega

Cerveja
A marca de cerveja nega que a substância seja usada na fabricação dos produtos (FOTO ILUSTRATIVA: Envato Elements)

A Polícia Civil investiga a morte de um homem de 61 anos ocorrida em Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira. A suspeita é de que ele teria morrido em decorrência de intoxicação por dimetil glicol, possivelmente causada pela ingestão de uma cerveja. De acordo com a esposa do policial militar aposentado, o marido tomou duas latas da bebida da marca Brussels no dia 7 de maio, e começou a se sentir mal no dia seguinte. Em 13 de maio, ele foi internado no CTI (Centro de Terapia Intensiva) com um quadro de insuficiência renal e foi intubado, mas morreu na quinta-feira (27). A marca de cerveja nega que a substância seja usada na fabricação dos produtos (veja mais abaixo).

Segundo a Polícia Militar, que foi acionada pelo hospital Albert Sabin, o paciente deu entrada no centro de saúde pela primeira vez na madrugada do dia 9 de maio, com quadro característico de intoxicação alimentar. Ele foi atendido, medicado e liberado às 6h da manhã. Já no dia 13, voltou ao hospital, desta vez com insuficiência renal e vomitando, e foi levado diretamente ao CTI, onde foi submetido a hemodiálise. No dia seguinte, o homem foi intubado.

Já em 15 de maio, o hospital solicitou biópsia renal, que sugeriu no dia 19 a intoxicação por dimetil glicol. Foi quando o centro de saúde acionou a Vigilância Sanitária de Juiz de Fora. “Entre os trabalhos investigativos, também será aguardado o laudo de necropsia para determinar a causa da morte. Mais informações serão repassadas em momento oportuno”, declarou a Polícia Civil por meio de nota (leia na íntegra abaixo).

Marca nega

Procurada pelo BHAZ, a cervejaria Brussels garantiu que segue todas as normas determinadas pelas autoridades. “Seguimos todas as normas vigentes e utilizamos apenas Álcool Etílico Potável para o sistema de resfriamento, na concentração de 18%. Não fazemos uso de nenhuma outra substância, em qualquer parte do processo. Inclusive, passamos por inspeção do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA, que atestou isso”, afirmou a marca.

O MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) confirmou que a fábrica onde a cerveja é feita foi fiscalizada no ano passado. “Foram coletadas amostras dos produtos, que deram negativo para a presença de glicóis. Documentos e informações do sistema produtivo mostram que a empresa não utiliza nenhum glicol, nem mesmo os aprovados para uso alimentar, como líquidos refrigerantes. Eles utilizam amônia para o resfriamento”, diz nota do órgão (leia na íntegra abaixo).

Sequência de eventos

De acordo com a esposa do policial aposentado, na tarde do dia 7 de maio, ele almoçou em um restaurante e comeu dois pratos de feijoada. Mais tarde, ele comprou quatro latas 473 ml de cerveja e bebeu apenas duas em casa. Ainda segundo a esposa, o homem tinha o costume de beber cerveja ao redor de mercados da cidade, e não sabe se ele consumiu mais bebidas ao longo do dia, antes de voltar para casa.

No dia seguinte, ele queixou que se sentia “empanzinado” por causa da feijoada, e ficou em casa repousando. Já na madrugada do dia 9, por volta das 2h, ele se sentiu muito mal e foi ao hospital, onde foi medicado e liberado. Ainda segundo a esposa, o PM aposentado passou os dias 10, 11 e 12 de maio com dores abdominais, se alimentando pouco e somente com sopas, e tomando muita água.

Já no dia 13 de maio, por volta das 6h, ela encontrou o marido com a “boca torta”, se contorcendo de dor, e o levou novamente ao hospital, onde ele foi internado no CTI. No dia 20, ela foi comunicada do resultado da biópsia renal solicitada pelo centro de saúde. De acordo com a esposa, a médica disse que o exame sugeriu “envenenamento por dimetil glicol, substância altamente tóxica”. Segundo o registro policial, os médicos não podem precisar a forma como a substância entrou no corpo do paciente, nem a fonte do composto.

Vigilância Sanitária analisa

O hospital, ainda no dia 20 de maio, acionou a Vigilância Sanitária de Juiz de Fora, que foi até a residência do casal e recolheu as latas de cerveja. De acordo com a prefeitura do município, o material recolhido está sendo analisado na Funed (Fundação Ezequiel Dias) e o caso segue em investigação. “Divulgaremos assim que o resultado do exame for informado”, completou o município, em nota (leia na íntegra abaixo).

Semelhança

A potencial intoxicação pela cerveja se assemelha às intoxicações por dietilenoglicol provocadas pelo consumo da cerveja Belohorizontina, da Backer, no início de 2020. No total, 26 pessoas foram afetadas pelo produto, sendo que 10 delas morreram. A Polícia Civil indiciou 11 pessoas por crimes diversos no início de junho (relembre aqui). A denúncia contra 10 pessoas foi feita à Justiça pelo MPMG (Ministério Público de Minas Gerais) no dia 4 de setembro.

A Polícia Civil chegou à conclusão de que a contaminação das cervejas da Backer ocorreu por conta de dois pontos de vazamento no processo de refrigeração da bebida. Esses “furos” permitiram que o dietilenoglicol tivesse contato com a bebida. O dietilenoglicol é um anticongelante bastante usado na indústria, mas sua ingestão pode causar intoxicação com sintomas como insuficiência renal e problemas neurológicos. 

“As cervejas demandam tempo nesse tanque para serem maturadas. A Belorizontina [marca da Backer] demora 14 dias de maturação, existem outros tempos para outros produtos. Nós encontramos o vazamento dentro do tanque, literalmente dentro do tanque, jogando o tóxico para dentro da cerveja”, informou, à época, o delegado do caso, Flávio Grossi (relembre aqui).

Nota da Polícia Civil

“O caso foi encaminhado para à 6ª Delegacia de Polícia Civil em Juiz de Fora, onde um procedimento investigativo foi instaurado pela delegada responsável, a fim de apurar o fato. Entre os trabalhos investigativos, também será aguardado o laudo de necropsia para determinar a causa da morte. Mais informações serão repassadas em momento oportuno”.

Nota da Brussels

“Queremos te tranquilizar sobre a qualidade de nossos produtos. Seguimos todas as normas vigentes e utilizamos apenas Álcool Etílico Potável para o sistema de resfriamento, na concentração de 18%. Não fazemos uso de nenhuma outra substância, em qualquer parte do processo. Inclusive, passamos por inspeção do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA, que atestou isso”.

Nota do MAPA

“A fábrica responsável pela referida cerveja (Cervam) foi fiscalizada pelo Mapa no ano passado, quando foram coletadas amostras dos produtos, que deram negativo para a presença de glicóis. Documentos e informações do sistema produtivo mostram que a empresa não utiliza nenhum glicol, nem mesmo os aprovados para uso alimentar, como líquidos refrigerantes. Eles utilizam amônia para o resfriamento.

O Mapa ainda aguarda o resultado das análises realizadas pela Vigilância Sanitária de Minas Gerais para analisar as possíveis ações futuras.

Em relação ao produto referido como dimetil glicol, não há conhecimento do uso desta substância no processo de fabricação de cerveja”.

Nota da Prefeitura de Juiz de Fora

“O Departamento de Vigilância Sanitária da Secretaria de Saúde (SS) da Prefeitura de Juiz Fora (PJF), a pedido do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde de Minas Gerais, recolheu e enviou para análise alimento suspeito, que pode estar relacionado a caso grave de intoxicação alimentar. O material recolhido está sendo analisado na Fundação Ezequiel Dias (Funed) e o caso segue em investigação. Divulgaremos assim que o resultado do exame for informado”.

Edição: Roberth Costa
Sofia Leão[email protected]

Repórter do BHAZ desde 2019 e graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Participou de reportagens premiadas pelo Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, pela CDL/BH e pelo Prêmio Sebrae de Jornalismo em 2021.

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