Após morte de recém-nascido em Betim, comunidade indígena venezuelana teme surto de coqueluche

09/01/2025 às 09h57 - Atualizado em 09/01/2025 às 12h39
Danilo Gozalez Perez morreu após cerca de 20 dias internado (Divulgação/Comunidade Warao Betim)

Um recém-nascido, de quatro meses, morreu com suspeita de complicações possivelmente causadas por coqueluche em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, nessa quarta-feira (8). A vítima é o pequeno Danilo Gonzales Perez, da Comunidade Indígena Venezuelana Warao. Após o caso, a aldeia teme um surto da doença entre crianças e adolescentes.

Após a publicação da reportagem, a Secretaria Municipal de Saúde de Betim informou que os exames de Danilo Gonzales Perez deram negativo para coqueluche e positivo para influenza B, adenovírus e rinovírus. Os representantes da aldeia, no entanto, afirmam que os médicos haviam informado sobre um diagnóstico de coqueluche durante a internação.

Dayane da Cruz Leite, representante da comunidade, explica que o bebê começou a apresentar os sintomas gripais há cerca de um mês. “Ele foi levado para a UPA e orientaram a voltar para a comunidade e fazer lavagem nasal, mas o quadro foi só piorando. Quando a criança estava com muita dificuldade para respirar, o Serviço de Atendimento Médico de Urgência (SAMU) foi chamado e a criança ficou 20 dias internada no hospital”, detalha.

A representante afirma que durante a internação os médicos realizaram exames que, segunda ela, constataram um quadro de coqueluche.

A enfermidade, comum entre crianças, é uma doença infecciosa respiratória, causada pela bactéria Bordetella pertussis. O principal sintoma é a tosse seca e intensa.

O atestado de óbito indica como possível causa da morte quadro de pneumotórax, choque cardiogênico, pneumonia necrosante e pneumonia por citomegalovírus.

O corpo de Danilo Perez será sepultado na tarde desta quinta-feira (9), no Cemitério Parque Jardim da Cachoeira, em Betim.

Medo de surto

A morte do bebê deixou a comunidade indígena Warao em alerta. As lideranças temem um surto de coqueluche entre as quase 70 crianças e adolescentes que vivem na aldeia.

“Assim que eu soube do resultado dos exames do Danilo, eu entrei em contato com a Secretaria de Saúde de Betim para pedir uma intervenção na comunidade porque muitas crianças estavam com sintomas gripais. Eles queriam que eu as levasse na UBS [Unidade Básica de Saúde], mas eu disse que seria impossível sair com 70 crianças pelo bairro. Então, enviaram um médico que fez uma consulta breve, de cerca de uma hora, e sem realizar exames”, denuncia Dayane Leite.

Em uma nota divulgada após a morte do recém-nascido, a comunidade cobrou uma maior presença do poder público na aldeia. “Será que teremos que perder mais quantas crianças para este grupo de socorro ser ouvido? Vivemos de forma desumana. Pela memória do nosso waraozinho. Ajude os Waraos Betim”, diz trecho do texto.

Segundo Dayane, as crianças enfrentam surto de piolho na comunidade e têm muitos problemas dentários.

Procurada, a Prefeitura de Betim afirmo que tem dado assistência à aldeia. “A Secretaria Municipal de Saúde ressalta que tem desenvolvido ações estratégicas para prestar assistência aos indígenas da etnia Warao na Ocupação Terra Mãe, em colaboração com a unidade de saúde referência do território e lideranças locais que têm laços com os indígenas. Desde junho de 2024, visitas da Estratégia de Saúde da Família (ESF) vem sendo realizadas buscando construir um cuidado em saúde dessa comunidade”, explicou.

“Apesar do apoio de lideranças da tribo, que atuam como intermediadores por sua fluência em português, a equipe enfrenta desafios significativos, incluindo resistência e desconfiança de muitos indígenas, que ainda não estabeleceram vínculo com os profissionais e recusam atendimento. Essa dificuldade em criar laços compromete a assistência, embora alguns indígenas já estejam buscando a unidade de saúde por demanda espontânea para resolver questões específicas. No dia 28 de novembro de 2024, profissionais de saúde estiveram no local novamente oferecendo aos indígenas: atendimento médico, de enfermagem e vacinação com a presença do Vacimóvel. Devido a conflitos internos na ocupação, o atendimento não teve o êxito esperado. Para este ano, a Secretaria Municipal de Saúde ja está traçando um plano de ações específico para a população indígena Warao. Vale ressaltar ainda que todas as unidades de saúde são porta aberta para a população”, completou.

Vacinação

A vacinação contra coqueluche faz parte do esquema vacinal gratuito do Governo Federal. A orientação é que o imunizante seja aplicando aos dois, quatro e seis meses de idade. Em seguida, dois reforços: um aos 15 meses e outro aos quatro anos.

De acordo com os representantes da comunidade Warao Betim, Danilo Perez havia recebido a primeira dose.

Pablo Nascimento

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