PM dá socos em mãe e filha e quebra o dedo de uma delas na Grande BH; vítimas relatam medo

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Caso ocorreu em salão de beleza de Caeté, na Grande BH (Reprodução/Street View + Arquivo pessoal)

Um policial militar da cidade de Caeté, na região metropolitana de Belo Horizonte, será investigado por agredir duas mulheres em um salão de beleza, no último dia 23. Fora do horário de trabalho, o oficial acusou as vítimas, mãe e filha, de tramarem para destruir o casamento dele, além de agredi-las. O homem é cunhado e tio delas, respectivamente. Ou seja, a esposa dele é irmã da denunciante mais velha. E ambas dividem a propriedade do salão.

Lirian Cassiane, 37, e Naione Cristiane, 27, mãe e filha, relatam que o policial, de 39 anos, foi até o salão de beleza, no sábado (23), e começou a discutir com a “sobrinha”, filha da irmã da esposa dele. O PM acusava a jovem de querer destruir o casamento dele.

“Ele chegou apontando o dedo na minha cara, me acusando falando que era eu quem estava tentando acabar com o casamento dele. E eu falando ‘eu não tenho culpa de nada’. Minha tia entrou na frente pedindo para ele parar, e ele gritou demais apontando o dedo na minha cara e mandando eu calar a boca”, relatou Naione Cristine ao BHAZ. Ao ouvir a discussão, Lirian Cassiane, a mãe, foi até o local para ver o que ocorria por lá.

“Quando eu cheguei lá ele estava mandando a Naione calar a boca, e o salão cheio de clientes, aí eu falei ‘aqui não, dá licença, depois você resolve isso, dá licença daqui’. Aí ele falou ‘vocês estão querendo acabar com meu casamento’, e falei ‘você está ficando doido?’, e foi onde ele me agrediu”, relembra Lirian Cassiane. Segundo a cabeleireira, o PM deu socos no rosto e peito dela, além de ter quebrado um dedo da mão.

Socos e fratura na mão

“Ele me deu um soco no rosto primeiro, um no peito, e na hora que ele foi me dar mais um soco no rosto, eu coloquei a mão na frente, e foi onde o meu dedo quebrou”, explica Lirian. A cabeleireira contou que está internada no hospital Santa Casa de Caeté aguardando para fazer cirurgia no dedo, que sofreu uma fratura grave. “Mas mesmo assim que corre o risco de não dar certo e ele [o dedo] ficar virado para fora”, relata.

Ao ver que a mãe estava sendo agredida, Naione Cristine entrou no meio para intervir, mas acabou levando socos e chutes. “Quando eu vi que ele estava batendo na minha mãe, eu corri, puxei ele e falei ‘não faz isso com a minha mãe’. Ele virou e me deu um soco na minha cabeça, aí eu caí e ele começou a chutar minha cabeça”. Lirian contou que o marido ouviu a confusão e correu até o salão para ver do que se tratava.

“Minha irmã estava tentando conter ele mas não conseguia, aí o meu esposo chegou e segurou ele, falou ‘que isso, o que está acontecendo?’, aí ele [o policial] falou ‘em respeito a ele que a coisa não ia ficar pior’”, relembra Lirian. Segundo as vítimas, o policial deixou o salão de beleza após as agressões. Lirian e Naione, por sua vez, foram a uma unidade da PM para registrar um Boletim de Ocorrência.

“Eles me encaminharam para a Santa Casa de Caeté e eu estou aqui até hoje. A cirurgia eu vou fazer em Belo Horizonte, estou aqui esperando o risco cirúrgico”, disse Lirian Cassiane. Segundo a cabeleireira, ela teme por não poder voltar a trabalhar, pois seu dedo pode não voltar ao normal. “Corre o risco de não dar certo, e eu sou autônoma, eu sou cabeleireira, eu dependo da minha mão para trabalhar”, completou.

Vítimas estão com medo

Naione Cristine conta que também foi ao médico após as agressões, e que ainda sente dores. “Peguei meu laudo médico, deu fratura na cabeça, e minha cabeça está inchada até hoje, não para de doer. Eu estou dolorida e vou ter que fazer um raio-x da cabeça porque não está dando”. Ambas disseram que irão pedir medida protetiva contra o policial, já que estão com medo se tornarem alvo de ataques novamente.

A jovem conta ainda que o psicológico é um outro fator que está pesando. “Eu não tenho psicológico para nada, não consigo pensar em nada, não consigo trabalhar, não tenho reação para nada e não tenho vontade nem de sair na rua. Eu não tenho vontade de nada. Infelizmente o que aconteceu conseguiu acabar comigo. Estou preocupada com a minha mãe, estou preocupada comigo”, diz.

“Eu espero justiça, que ele pague os danos que ele fez comigo e com minha mãe, que ele pague pelas palavras que ele falou. Que a justiça tome as providências, porque ele fica aí trabalhando, fica aí igual um ‘bonzão’ e e eu e minha mãe prejudicadas, eu não aceito isso não. Me sinto muito humilhada, porque ele passa no carro dele, fardado, com óculos escuros, com o vidro todo aberto, e eu estou aqui presa dentro da loja porque eu não consigo dar um tchau na rua”, finaliza.

Caso está sob investigação

A Polícia Civil informou que está apurando os fatos e que o suspeito apresentou uma versão diferente da história. O BHAZ tentou entrar em contato com o policial militar, mas não obteve respostas. Ainda segundo a Polícia Civil, Lirian Cassiane e Naione Cristine ainda não compareceram na delegacia de Caeté. Contudo, a investigação segue em andamento por parte da Polícia Civil.

De acordo com Naione Cristine, ela e a mãe, Lirian Cassiane, ainda não foram até a delegacia justamente por conta da internação provocada pela fratura no dedo da mais velha. Naione disse que está esperando a liberação da mãe do hospital para irem juntas relatar o fato.

Ao ser procurado pelo BHAZ a respeito das agressões do PM contra as mulheres no salão de beleza, o 61° Batalhão da Polícia Militar explicou, por meio de nota, que “o fato ocorrido não teve nenhuma relação com a atividade policial militar”. “O militar encontrava-se no horário de folga quando se envolveu em um atrito familiar. Foi lavrado um boletim de ocorrência e prestada assistência às envolvidas”, diz outro trecho do comunicado (veja na íntegra abaixo).

Onde e como denunciar?

Na capital mineira, além da Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher, existem ao menos outras três instituições que atendem esse público: Nudem (Núcleo de Defesa da Mulher), da Defensoria Pública; Casa Benvinda, da Prefeitura de Belo Horizonte; e Casa de Referência Tina Martins, do chamado terceiro setor, sem vínculo governamental. Ademais, existe também o aplicativo MG Mulher, do governo de Minas (veja aqui).

  • Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher: av. Barbacena, 288, Barro Preto | Telefones: 181 ou 197 ou 190
  • Casa de Referência Tina Martins: r. Paraíba, 641, Santa Efigênia | 3658-9221
  • Nudem (Núcleo de Defesa da Mulher): r. Araguari, 210, 5º Andar, Barro Preto | 2010-3171
  • Casa Benvinda – Centro de Apoio à Mulher: r. Hermilo Alves, 34, Santa Tereza | 3277-4380

Nota da PM na íntegra

O comando do Sexagésimo Primeiro Batalhão diante da demanda apresentada a qual o Sr Cb PM Cláudio Antônio Vigário teria se envolvido em uma ocorrência no último sábado, esclarece que o fato ocorrido não teve nenhuma relação com a atividade policial militar. O militar encontrava-se no horário de folga quando se envolveu em um atrito familiar. Foi lavrado um boletim de ocorrência e prestada assistência às envolvidas. O Comando do 61º BPM abrirá um procedimento administrativo para apurar o caso.

Edição: Roberth Costa
Andreza Miranda[email protected]

Graduada em Jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2020. Participou de duas reportagens premiadas pela CDL/BH (2021 e 2022); de reportagem do projeto MonitorA, vencedor do Prêmio Cláudio Weber Abramo (2021); e de duas reportagens premiadas pelo Sebrae Minas (2021 e 2023).

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