‘O Menino Marrom’: Prefeito diz que obra fica suspensa até ser ‘esclarecida’ aos pais

20/06/2024 às 08h54
o menino marrom
O prefeito de Conselheiro Lafaiete disse que o livro "O Menino Marrom" ficaria suspenso das escolas municipais até que seja esclarecido (Reprodução/Redes sociais)

O prefeito de Conselheiro Lafaiete, Mário Marcus (União Brasil), disse nesta quinta-feira (20) que o livro “O Menino Marrom”, de Ziraldo, permanecerá suspenso das escolas municipais até que haja um “esclarecimento” sobre a obra. O clássico infantil, lançado em 1986, foi retirado das salas de aula depois que alguns pais apontaram a história como “agressiva”.

“Não haverá mudança de conduta por parte da Secretaria. Avalio que ela tomou a medida certa. Sempre que existe algo que gera dúvida, deve haver um trabalho de esclarecimento”, disse ele em entrevista à jornalista Gina Costa, da rádio local Carijós.

Mário Marcus disse que a prefeitura “sempre respeitou muito esse livro” e que ele foi distribuído para todos os alunos de 8 a 10 anos da rede municipal de ensino. Ele avalia que a suspensão não deve ser interpretada como um ato de censura e que a obra voltará a ser trabalhada com as crianças assim que os pais “tirem suas dúvidas” sobre o teor dela.

“Através das redes sociais as pessoas se manifestam muito rápido. Houve uma pressão muito rápida de pais e vereadores, não uma ‘pressão’, mas uma reclamação, uma colocação a respeito do livro. Quando se trata de educação, não pode deixar dúvidas”, declarou.

Livro foi suspenso por ‘teor agressivo’

A Secretaria Municipal de Educação de Conselheiro Lafaiete, cidade do Alto Paraopeba, orientou nessa terça-feira (18) que as escolas não utilizem o livro “O Menino Marrom”, do escritor Ziraldo, para atividades em sala de aula.

O livro foi lançado em 1986 pelo escritor mineiro e logo se tornou um clássico nas escolas infantis brasileiras. A obra fala sobre a amizade do protagonista, que dá nome ao livro, com o menino cor-de-rosa.

Em nota de orientação enviada às unidades escolares, a Secretaria diz que a decisão foi tomada “diante de diversas manifestações”. Em um áudio que circula nas redes sociais, um pai diz que a capa do livro “remete para assuntos de racismo”, mas que esse não seria o conteúdo do livro.

“Esse livro tem um conteúdo agressivo no sentido de que ele induz a criança a cortar os próprios pulsos. E não só isso, tem uma página que fala que quer que a velhinha morra atropelada”, diz o homem na mensagem.

No trecho citado por ele, Ziraldo descreve a cena em que o menino marrom e o menino cor-de-rosa resolvem selar a amizade deles fazendo um “pacto de sangue”, mas acabam usando tinta azul ao invés de furar os dedos. “Estávamos fazendo um pacto de sangue azul, amigos para sempre, Milord!”, diz um trecho do livro.

Em nota enviada ao BHAZ, a Prefeitura de Conselheiro Lafaiete reconhece que o livro é “uma das principais obras infantis a abordar os temas sociais” e que ele “aborda de forma sensível e poética temas como diversidade racial, preconceito e amizade”.

A prefeitura lamenta que “tenham havido interpretações dúbias acerca do mesmo e levando em conta nosso respeito aos pais e a comunidade escolar” e diz que, diante das diversas manifestações e divergência de opiniões, “procedeu a solicitação de suspensão temporária dos trabalhos realizados sobre o livro a fim de melhor readequação da abordagem pedagógica evitando assim interpretações equivocadas”

Ziraldo deixou legado na literatura brasileira

O escritor e desenhista Ziraldo morreu aos 91 anos em abril deste ano, no Rio de Janeiro. Criador de personagens famosos, como “O Menino Maluquinho”, o artista era mineiro de Caratinga, na região do Vale do Rio Doce.

Em 1960, ele lançou a Turma do Pererê, cancelada pela ditadura em 1964. Em 1980 lançou o livro “O Menino Maluquinho”, o maior sucesso de sua carreira, adaptado para a televisão e no cinema.

Com mais de 200 livros publicados, Ziraldo teve vários outros best-sellers. Uma Professora Muito Maluquinha, Menina Nina, O Bichinho da Maçã, O Planeta Lilás, e Flicts estão entre os sucessos do artista.

Larissa Reis

Graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2021. Vencedora do 13° Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão, idealizado pelo Instituto Vladimir Herzog. Também participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.

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