‘Sumiço’ de arara, considerada mascote de Moeda, mobiliza população e políticos

17/06/2025 às 13h18 - Atualizado em 17/06/2025 às 15h52
Arara era vista diariamente interagindo com a população de Moeda (Instagram/Evaldo Itor)

De um dia para o outro, o sossego de Moeda, cidade com cerca de 5 mil habitantes e a apenas 59 quilômetros da capital mineira, deu lugar a um alvoroço e clima de dúvidas. Na última semana, uma arara que rodava livre pelo município e interagia com a população não foi mais vista. A história tem dividido opiniões e mobilizado até mesmo políticos.

Um dia após o desaparecimento da arara-canindé, os moradores já começaram a divulgar mensagens nas redes sociais em busca de informações sobre o animal, considerado por alguns como o mascote da cidade.

Veja também


Uma publicação desvendou o mistério. Uma mulher, que se mudou a cerca de dois anos para o município, revelou que entregou a ave ao Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetras-MG), do IBAMA. Em diversas postagens, a moradora alegou que o animal não tinha o tratamento adequado, era alimentada com comidas indevidas para animais e, quando precisava de ajuda, não tinha. A mulher relatou episódios em que a arara azul e amarela foi atacada até mesmo por cães.

A explicação da moradora convenceu parte da população, mas não toda a cidade. Uma rede de pessoas começou a se mobilizar para tentar resgatar a ave. Políticos entraram na jogada. O assunto ficou tão sensível que o prefeito Décio Lapa teme reações mais exaltadas.

“Estou com medo de alguém fazer algo com esta moradora. A prefeitura me pediu para orientá-la a evitar sair de casa até mesmo para levar o filho para a escola”, contou o chefe do Executivo ao BHAZ.

Embora preocupado com a segurança da moradora que entregou a ave para o Ibama, Lapa está do lado da população que quer a arara de volta, livre e solta pela cidade. Ele tem feito reuniões com representantes do órgão ambiental, mas ainda não conseguiu chegar a uma solução.

“Eles nos falaram que, agora, ela precisa ficar isolada para desacostumar o contato com seres humanos. A equipe nos disse que ,se quisermos tentar tê-la de volta, precisamos montar um projeto, contratar um biólogo, um veterinário e criar um viveiro em uma fazenda fora da área urbana”, explicou o prefeito.

Segundo o político, as adequações teriam um custo de R$ 60 mil para a prefeitura. Devido ao gasto elevado para a pequena cidade, ele analisa a viabilidade jurídica e financeira para entender o que pode ser feito pela arara.

“A gente fica chateado com tudo isso porque a arara ia na casa de todo mundo, visitava a escola, a prefeitura e nunca machucou ninguém. Ela é muito mansa e adora crianças”, conta sobre a personalidade da ave que faz parte da paisagem da cidade há cerca de cinco anos.

O BHAZ entrou em contato com o Ibama e, segundo o órgão, o animal foi entregue voluntariamente por um morador de Moeda ao Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) de Belo Horizonte em 13 de junho.

O Ibama informou que o animal apresentava condição corporal boa, sem sinais de lesões. “Porém, seu comportamento não condiz com o de um animal de vida livre. A ave foi submetida a avaliação médico-veterinária, quando foram coletadas amostras biológicas para exames laboratoriais para avaliação de sua saúde. Foi vermifugada e recebeu anilha em uma das patas”, explicou o órgão em nota.

Segundo o Ibama, o espécime seguirá em observação durante 15 dias, período em que ocorre sua adaptação à dieta balanceada indicada para a espécie. Em seguida, será iniciado o processo de reabilitação da ave com sua inclusão em um grupo. “Assim, em um futuro próximo, após avaliação da equipe do Cetas, ela terá condições de retornar à natureza”, informa a nota.

Ainda de acordo com o Ibama, a região de Moeda possui ocorrência histórica de araras, porém os últimos registros remontam a 1890. “Dessa forma, a equipe do Cetas avalia que soltar essa arara, sozinha, na região não é o melhor destino para ela. Araras são animais de bando e devem permanecer junto aos seus”, ponderou o órgão.

“Em reunião realizada com o prefeito de Moeda, o Ibama propôs a elaboração de um projeto de reintrodução de araras-canindés que contemple os requisitos determinados na legislação, de forma ecologicamente correta e focada no bem-estar do animal. A ideia é que o projeto seja adotado e executado pela prefeitura do município. A equipe do Ibama está disposta a contribuir tecnicamente para esse projeto, o qual, caso venha a ser concretizado, será o primeiro de reintrodução de araras ao habitat no Estado de Minas Gerais”, finalizou o Ibama.

Pablo Nascimento

Mais lidas do dia

Leia mais

Acompanhe com o BHAZ