Com dois anos de papado, o Papa Francisco beatificou o padre Francisco de Paula Victor, primeiro padre ex-escravizado do Brasil, nascido na cidade de Campanha, no sul de MG, em 1827. Em 12 anos como chefe da Igreja Católica, o pontífice argentino, que morreu aos 88 anos nesta segunda-feira (21), beatificou outras duas mineiras.
Com cerca de 20 mil fiéis, a cerimônia de beatificação ocorreu na cidade de Três Pontas, no sul de Minas, em 14 de novembro de 2015. Na ocasião, o Vaticano reconheceu um milagre ocorrido na cidade de Campanha. De acordo com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a professora Maria Isabel Figueiredo, de 37 anos, engravidou, em 2010, com a intercessão do beato padre Victor, mesmo com a retirada de uma de suas trompas.
No dia seguinte à beatificação, conforme a CNBB, o Papa o recordou a trajetória do padre brasileiro. “No Brasil, está proclamado beato Francisco de Paula Victor, sacerdote brasileiro de origem africana, filho de uma escrava. Pároco generoso e excelente na catequese e na ministração dos sacramentos, distingue-se sobretudo pela sua grande humildade. Possa o seu extraordinário testemunho servir de modelo para todos os sacerdotes, chamados a ser humildes servidores do povo de Deus”, disse durante oração na Praça de São Pedro, no Vaticano.
Saiba quem foi o Padre Victor
Francisco de Paula Victor nasceu em 12 de abril de 1827, na vila de Campanha da Princesa da Beira, que, na época, reunia fazendeiros em busca de ouro e seus escravizados. A lei do ventre livre, que dava liberdade aos filhos de pessoas escravizadas, só foi assinada em 1871. No entanto, o futuro padre não viveu como escravizado. Isso porque ele foi apadrinhado por Mariana Bárbara Ferreira, que, sob sua tutela, aprendeu a ler, escrever, tocar piano e falar em francês.
O jovem Francisco ingressou no seminário em 1849 e foi ordenado em 1851. Ele exerceu seu pastorado durante 53 anos na cidade Três Pontas, onde permaneceu até o seu falecimento, em 1905. Conforme biografia publicada pela Diocese de Campanha, o padre é lembrado por “sua humildade, total dedicação às pessoas e persistência ante obstáculos racistas”. Ainda de acordo com a Diocese, o processo de canonização do Padre Victor continua pela Igreja Católica em Três Pontas (MG).
Conheça as mineiras beatificadas por Papa Francisco
Nhá Chica
Embora a aprovação da beatificação tenha ocorrido durante o papado de Bento XVI, Francisca de Paula de Jesus, conhecida como Nhá Chica, foi beatificada pelo Papa Francisco em 2013. Nascida em Campanha, em 1808, mesma cidade de Padre Victor, Francisca também era filha e neta de escravizados. A beata era analfabeta, ficou órfã ainda criança e viveu no escondimento, na pobreza e na simplicidade.
De acordo com a CNBB, Nhá Chica era devota Nossa Senhora da Conceição e “consagrou seu tempo e consumiu sua vida, como leiga que testemunha a fé, servindo às pessoas, especialmente na nobre tarefa de escutar e aconselhar”. Por isso, ela recebe o título de “Mãe dos pobres”.
Isabel Cristina
A última mineira a ser beatificada pelo Papa Francisco, em 2022, foi a barbacenense Isabel Cristina Mrad Campos. Nascida em 1962, ela tinha uma vida de oração e sonhava ser pediatra para ajudar crianças carentes. No entanto, Isabel morreu em 1982 de forma cruel, com 15 facadas após uma tentativa de estupro.
Devido à crueldade do crime e por seu testemunho de fé durante a vida, o pedido de beatificação partiu de populares e iniciou em 2001. Seu martírio foi reconhecido pelo Papa Francisco, por meio de decreto, em outubro de 2020.