Reeleito prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman, do PSD, começa agora as articulações em torno dos apoios para conseguir garantir maioria na Câmara dos Vereadores e ter um mandato bem mais tranquilo do que o atual, quando precisou travar embates e herdar rusgas da administração passada. No entanto, resta saber quais alianças pretende priorizar. De perfil de centro e com dúvidas sobre o apoio da ala mais radical da direita, uma aliança com membros da esquerda e da centro-esquerda, que o apoiaram no segundo turno, pode se tornar essencial para garantir, pelo menos, as 21 cadeiras necessárias. Juntos, PT, PSOL, PCdoB, PV e PDT elegeram 10 vereadores.
Fuad Noman já conta com a adesão de dez vereadores de legendas que fazem parte da coligação que o deu à vitória. O PSD, partido do prefeito, elegeu Helinho da Farmácia, Helton Junior e Maninho Félix. O União Brasil, legenda do vice-prefeito eleito, Álvaro Damião, elegeu Janaina Cardoso. Dra Michelly Siqueira e Wanderley Porto foram eleitos pelo PRD. Juninho Los Hermanos, do Avante, e Leonardo Ângelo da Itatiaia, do Cidadania, completam o grupo de vereadores eleitos pela aliança em torno do nome de Fuad para um segundo mandato, agora uma realidade referendada pelas urnas.
A declaração dada por Bruno Engler (PL) após o resultado do pleito deu o sinal de que, se depender do partido do adversário derrotado, os seis vereadores eleitos pela legenda irão compor a base de uma oposição pouco amistosa, com a qual Fuad não vai poder contar. “O PL elegeu a maior bancada da Câmara dos Vereadores, com seis representantes que vão fiscalizar a próxima gestão, que vão fiscalizar a elaboração do novo contrato de ônibus, porque a gente já sabe qual será a intenção do prefeito e quem ele vai tentar favorecer”, declarou Engler, em discurso.
O NOVO, que fez oposição ao prefeito durante o primeiro mandato, conquistou três cadeiras. Foram eleitos pelo partido Fernanda Pereira Altoé, Marcela Trópia e Braulio Lara. O analista político Rodrigo Lopes acha que esses dois partidos dificilmente irão aderir ao novo governo, ao menos de forma mais transparente, menos por uma questão ideológica e mais por uma estratégia pragmática, muito em função de 2026, quando podem estar em lados opostos. É por Belo Horizonte, principal cidade de Minas, onde se começa, segundo o analista, a disputa para governador.
“O Zema já anunciou o Matheus Simões como seu sucessor, ainda que muita água possa passar debaixo da ponte. E do outro lado você tem o PSD que, ao meu ver, se tornou o partido mais forte de Minas e que tem tudo para lançar um candidato próprio, pode ser o próprio Rodrigo Pacheco, pode ser o Alexandre da Silveira ou até um terceiro nome”, explica Lopes.
No caso do Republicanos, que lançou Mauro Tramonte (terceiro colocado) e declarou apoio a Bruno Engler no segundo turno, a história pode ser outra. O partido elegeu três vereadores: Irlan Melo, Osvaldo Lopes e Arruda. “Não colocaria a mão no fogo. Acho que os vereadores do Republicanos podem fazer essa mudança [e apoiar o prefeito eleito]”, diz.
O Partido Progressistas (PP), com dois vereadores, ainda segue sendo a maior incógnita. Uma das eleitas é a Professora Marli, mãe de Marcelo Aro, atual chefe da Casa Civil do governo de Romeu Zema. “A gente tem que ver quem que da centro-direita vai [com Fuad], que ainda não se manifestou, da família Aro, se vai compor ou não [o apoio], essa pode ser talvez o fiel da balança”, aposta Rodrigo Lopes.
Fontes consultadas pelo BHAZ dão conta de que já há conversas em torno das possíveis candidaturas à presidência da Câmara. Uma delas seria ligada justamente à família Aro, que, de partida, contaria com o apoio de cerca de 6 a 7 vereadores, número que, segundo interlocutores, pode chegar a ser muito maior, incluindo vereadores do partido de Bruno Engler e até mesmo da coligação que elegeu Fuad . O favorito desse grupo para comandar a Casa a partir de 2025 é Juliano Lopes, do Podemos.
O caminho pela esquerda
Pedro Rousseff, o vereador mais votado pelo Partido dos Trabalhadores (PT), acredita que o apoio na reta final da campanha, dado pela esquerda, foi decisivo para a vitória do atual prefeito e que, por isso, é mais que ‘natural que nas próximas semanas e durante o mandato’ ela busque participar de forma proativa. “Tanto com as pautas e os projetos da prefeitura, tanto dentro da Câmara, vai ser importantíssimo [esse apoio], pode ter certeza que nós vamos participar dessa atuação”, revelou.
Na próxima quarta-feira, a bancada petista, composta por quatro vereadores, se reúne para definir como deve ser a participação da legenda no próximo governo de Fuad. Além de Rousseff, o PT elegeu Bruno Pedralva, Luiza Dulci e Pedro Patrus.
De acordo com o analista político Rodrigo Lopes, os sinais dados nos últimos dias e durante o discurso da vitória do atual prefeito dão conta de que o partido já parece ter embarcado no novo governo.
“A gente viu, até na vitória do Fuad, na comemoração, o candidato do PT, o Rogério, participando na festa, presente ali no evento”, lembra Lopes.
Mesmo sem um engajamento forte e explícito de Lula e do PT nacional, Lopes lembra que houve um apoio local ‘importante’. “Talvez tenha sido, dos derrotados do primeiro turno, o que mais se manifestou favoravelmente ao Fuad, que deixou mais explícito esse apoio”.
Além do PT, quatro outros partidos de esquerda também elegeram vereadores. O PSOL conquistou três cadeiras, com as vitórias de Iza Lourença, Cida Falabella e Juhlia Santos. Edmar Branco, do PCdoB, e Wagner Ferreira, do PV, inclusive, fizeram campanha para o prefeito eleito durante o segundo turno. Já o PDT elegeu Bruno Miranda para um segundo mandato. Atualmente, Miranda é líder do governo de Fuad no Legislativo e, entre membros dos blocos de esquerda e centro-esquerda, vem ganhando força o nome dele para a presidência da Casa.
Para Rodrigo Lopes, seja à direita ou à esquerda, o prefeito não terá, ao menos num primeiro momento, dificuldade para formar maioria, devido à habilidade dele e seu partido, o PSD, de conversar com diferentes espectros. “Pela própria fisiologia do PSD, que tem essa característica, com DNA da negociação. Se ele fizer jus a essa condição, quase genética do PSD, ele vai conseguir”, garante.