O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) repetiu uma afirmação já desmentida anteriormente e alegou, em Dubai, que a Amazônia não pega fogo “por ser uma floresta úmida”. A declaração foi feita durante evento com investidores nos Emirados Árabes, nesta segunda-feira (15).
“Nós queremos que os senhores conheçam o Brasil de fato. Uma viagem, um passeio pela Amazônia é algo fantástico. Até para que os senhores vejam que a nossa Amazônia, por ser uma floresta úmida, não pega fogo. Que os senhores vejam, realmente, o que ela tem”, disse o presidente.
Ainda durante a abertura do Fórum “Invest in Brazil”, Bolsonaro se queixou dos “ataques” que o país recebe em relação ao desmatamento da Amazônia.
“A Amazônia é um patrimônio, é brasileira, e vocês lá comprovarão isso e trarão uma imagem que condiz com a realidade. Os ataques que o Brasil sofre com relação à Amazônia não são justos. Lá, mais de 90% daquela área está exatamente igual quando foi descoberta no ano de 1500″, pontuou.
Incêndios e desmatamento
O presidente da República já havia alegado que a Amazônia não pega fogo por ser úmida, em discurso na assembleia-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), em 2020.
Os dados do próprio Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), no entanto, apontam que entre janeiro e novembro deste ano 70.667 focos de queimadas foram registrados no bioma. A informação é do Programa de Queimadas do instituto.
“Afirmar que a floresta é úmida como um todo era algo verdadeiro há 60 ou 70 anos; hoje, com 20% desmatado, isso não é mais um fato”, explicou o ambientalista Antonio Oviedo, assessor do Instituto Sócio-Ambiental (ISA), ao desmentir ao Fato ou Fake a afirmação do presidente em 2020.
“Ela é úmida em áreas como no interior do Rio Solimões ou no alto do Rio Negro, onde não tem muitas estradas, mas mesmo lá o fogo já tem entrado, por conta do desmatamento. Quando se fragmenta a floresta em blocos, vem o efeito de borda. Quanto mais bordas tiver, mais seca fica, e facilita a entrada do fogo”, completou o especialista.
Também não procede a informação de que mais de 90% da Amazônia está completamente preservada. A declaração é ser desbancada por dados do Prodes (Projeto de Monitoramento do Desflorestamento na Amazônia Legal), outro projeto do Inpe.
Segundo monitoramento realizado a partir de imagens de satélite, cerca de 729 mil quilômetros quadrados da Amazônia, o que corresponde a 17% do total, foram desmatados até 2020.