Figurantes? Mulheres em BH chamam a atenção ao receber apenas um voto

Vilma Rodrigues (PRP), Bruna Reis (PRP), Alcilene (PRTB) e Bebel Medeiros (PRTB) receberam apenas um voto (Divulgação/TSE)

Ao longo dos últimos anos, as leis eleitorais foram modificadas para incentivar e garantir a participação feminina. Uma das mudanças prevê que ao menos 30% dos candidatos a cargos do sistema proporcional – vereador, deputado federal e deputado estadual -, sejam do sexo feminino. Mas, o que era para ser um estímulo, se tornou um fardo para alguns partidos, que acabam convidando mulheres para cumprir a exigência. Em Belo Horizonte, chama a atenção o fato de, dos 25 candidatos com a pior votação – abaixo de dez votos -, 20 são mulheres. E quatro delas possuem apenas um voto.

As candidatas são Alcilene (PRTB), 19 anos, estudante; Bebel Medeiros (PRTB), 35, manicure; Bruna Reis (PRP), 25, sem ocupação, e Vilma Rodrigues (PRP), 62, dona de casa. Procurada pelo Bhaz na tarde desta segunda-feira (3), Vilma ainda não estava ciente de quantos votos havia recebido. “Acho que ninguém quis votar”.

Ela ainda afirmou que, apesar de ser casada, não esperava o voto do marido porque os dois pensam de formas diferentes. “Ele votou no Kalil, por exemplo, e eu não”. A candidata dedica o pouco número de votos a falta de investimento na campanha, e diz ter falado apenas com algumas pessoas do bairro sobre sua candidatura. Mas deve tentar novamente nas próximas eleições. “Sempre fui engajada em política”.

A reportagem tentou contato com as outras candidatas, no entanto, não obteve sucesso. De acordo com Maria Lúcia, avó da candidata Alcilene, ela não tinha sido informada sobre a candidatura da neta. “Eu votei em outra pessoa, não sabia que ela era candidata. Ela nem me falou isso”. Alcilene mora com a avó e o marido, que afirmou não votar. “Deve ter sido ela mesma quem votou nela”, disse Maria Lúcia.

O PRTB, por exemplo, partido de duas das quatro mulheres que receberam apenas um voto, passou raspando no índice da cota: 30,4%. Levantamento realizado pelo Bhaz revelou que 93% dos partidos e coligações apresentaram chapas formadas com menos de 33% por mulheres.

Tendência

Uma pesquisa feita pelo Instituto Patrícia Galvão, organização social sem fins lucrativos voltada à comunicação e aos direitos das mulheres, revela que o convite dos partidos a mulheres é feito com um ou dois meses de antecedência das campanhas políticas, mostrando o baixo interesse dos partidos em formar candidatas com chance real de vitória. O estudo mostra ainda que as candidatas mulheres não são vistas pelos partidos como participantes ativas, mas figurantes.

“Para contornar essa exigência, na medida que eles efetivamente fecham as portas para as mulheres – esse é um dado histórico -, eles preferem colocar falsas candidatas”, afirma Fátima Pacheco Galvão, socióloga e especialista em pesquisas de opinião. A especialista define essa atitude dos partidos como uma “fraude misógena”.

“Está transcendendo as práticas partidárias e preocupando o Tribunal Superior Eleitoral. O TSE está investigando a utilização dessas mulheres ‘laranjas’ e irá punir os partidos”, diz.

Jéssica Munhoz

Jessica Munhoz é redatora do Portal Bhaz e responsável pela seção Cultura de Rua.

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