‘História não perdoa a prática da traição’, diz Dilma em resposta a Temer

Dilma e Temer
No comunicado, Dilma chama o ex-presidente de golpista (José Cruz/Agência Brasil)

A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) divulgou, nesta sexta-feira (22), uma nota em resposta às declarações de Michel Temer (MDB) sobre o impeachment de 2016. No comunicado, ela chama o ex-presidente de golpista e diz que “a história não perdoa a prática da traição”.

A nota foi divulgada após Temer defender, nessa quinta-feira (21), a constitucionalidade do impeachment. “Não houve golpe. Eu quero dizer que a ex-presidente é honesta. Eu sei que não há nada que possa apodá-la de corrupta. Ela é honestíssima. Mas houve problemas políticos. Ela teve dificuldades no relacionamento com a sociedade e com o Congresso Nacional”, disse ele em entrevista ao UOL.

Em resposta, Dilma pediu que Temer “não mais buscasse limpar sua inconteste condição de golpista” usando a “inconteste honestidade pessoal e política” dela. A petista classificou o ocorrido em 2016 como uma das maiores traições políticas dos tempos recentes.

Ela defende que as dificuldades de relacionamento com o Congresso, citadas pelo ex-mandatário, não seriam razão legal e constitucional para o impeachment.

“O senhor Michel Temer não engana mais ninguém. O que se conhece dele é mais que suficiente para evitá-lo, razão pela qual não pretendo mais debater com este senhor”, finaliza a nota (leia na íntegra abaixo).

Entrevista de Temer

Na entrevista de Michel Temer ao UOL, o ex-presidente afirma que um conjunto de fatores, como a dificuldade de diálogo com a oposição e com a sociedade, “levou multidões às ruas” e acabou levando ao impeachment de Dilma Rousseff.

Para ele, a queda de um presidente não é iniciativa do legislativo, e sim da população, que influencia as decisões dos parlamentares. Sobre a possibilidade de um impeachment de Jair Bolsonaro (PL), Temer diz que a situação só seria viável com pressão popular.

Ainda durante a entrevista, o emedebista descartou se candidatar a novo cargo político nas eleições deste ano. Sobre apoiar Lula (PT) em um eventual segundo turno contra Bolsonaro, Michel Temer disse que “vai decidir na hora certa”.

“O ex-presidente Lula fala em todo momento em ‘golpe’, que a reforma trabalhista foi coisa de escravocrata, que o teto de gastos prejudicou o país. Então, como eu vou dizer que eu vou apoiar alguém que quer destruir um legado positivo para o nosso país?”, disse.

Nota de Dilma Rousseff

“Eu agradeceria que o senhor Michel Temer não mais buscasse limpar sua inconteste condição de golpista utilizando minha inconteste honestidade pessoal e política. É justamente essa qualidade que despreza, rejeita e repudia uma avaliação que parte de alguém que articulou uma das maiores traições políticas dos tempos recentes.

É de todo inócuo afirmar que não houve um golpe, pois este personagem se ofereceu como vice-presidente por duas vezes. E, assim, sabia por duas vezes qual era o programa político das chapas vitoriosas que foram eleitas em 2010 e 2014.

As provas materiais da traição política estão expressas na PEC do Teto de Gastos, na chamada reforma trabalhista e na aprovação do PPI para as quais não tinha mandato. Nenhum desses projetos estavam em nossos compromissos eleitorais, pelo contrário, eram com eles contraditórios. Trata-se, assim, de traição ao voto popular que o elegeu por duas vezes.

Lembro ainda que a “dificuldade de diálogo com o Congresso” não é razão legal e constitucional para impeachment em um regime presidencialista, como ele bem sabe.

Tal “dificuldade” era uma integral rejeição às práticas do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, criador do Centrão, que queria implantar com o meu beneplácito o “orçamento secreto”, realizado, hoje, sob os auspícios de um dos seus mais próximos auxiliares na Câmara Federal.

Finalmente, relembro que a História não perdoa a prática da traição. O senhor Michel Temer não engana mais ninguém. O que se conhece dele é mais que suficiente para evitá-lo, razão pela qual não pretendo mais debater com este senhor”.

Edição: Roberth Costa
Sofia Leão[email protected]

Repórter do BHAZ desde 2019 e graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Participou de reportagens premiadas pelo Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, pela CDL/BH e pelo Prêmio Sebrae de Jornalismo em 2021.

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