Denúncia contra PM e ‘lacração de humildade’: Deputado mineiro torna-se sensação da internet

Reprodução/Cleitinho/Facebook + Sarah Torres/ALMG

Antes mesmo do início da atual legislatura, marcada pela intensa renovação, um deputado caiu nas graças da internet após comparecer a uma reunião formal, tomada por engravatados, de camiseta estampada e sair em defesa de um copeiro. Nesta semana, o mesmo político ganhou os holofotes novamente após fazer grave denúncia contra a Polícia Militar de Minas Gerais – e, assim, provocar uma reação dos militares.

O nome dele é Cleiton Gontijo de Azevedo – ou, para os eleitores, apenas Cleitinho. Nascido em Divinópolis (cidade no Centro-Oeste mineiro a cerca de 120km de BH), o hoje deputado estadual com 36 anos possui traços inusitados desde o momento em que decidiu entrar na política. “Eu trabalhava no caixa do sacolão da minha família e cantava em um grupo sertanejo, inclusive, cheguei a fazer mais de 12 shows por mês”, começa a contar sua trajetória ao BHAZ, com seu sotaque característico.

“Porém, eu era muito crítico aos políticos no palco e, por isso, comecei a ser boicotado. Ninguém me contratava, tiraram a minha alegria que era cantar, então eu resolvi entrar na política para tirar a alegria deles, que é roubar”, explica Cleitinho, eleito pelo PPS a uma cadeira na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) com 115.492 votos. Antes, em 2016, foi eleito vereador em Divinópolis com 3.023 votos.

Seguindo os passos do modo atual de fazer política, Cleitinho investe nas redes sociais e na produção própria, com publicações diárias: tem 400 mil seguidores no Facebook e 40 mil no Instagram. O que aparentava ser, inicialmente, uma tática para tornar-se conhecido, começa a apresentar algum resultado prático. Através de um vídeo com quase 2 milhões de visualizações, Cleitinho conseguiu pressionar a PM mineira a utilizar dezenas de viaturas zeradas – e inutilizadas.

‘Não resolve b… nenhuma’

“Não adianta ficar no ar-condicionado, naqueles gabinetes bonitos, mandando ofício. Ofício não resolve b… nenhuma, não. Ofício não vai mostrar essa quantidade de viatura aqui. Eu faço vídeo para escancarar essa pouca vergonha, pois ofício e requerimento, nem retorno tem”, disparou, ao seu melhor estilo, Cleitinho no mais novo vídeo publicado, no último domingo.

Durante minha campanha prometi que ia mostrar toda sujeira da política, olha essa farra com dinheiro público.

Posted by Cleitinho Azevedo on Sunday, March 24, 2019

O deputado estadual entrou em um pátio em Betim, na Grande BH, e mostrou mais de 150 viaturas da PM zeradas e paradas. Em conversa com um dos funcionários do local, o deputado verificou que os carros estão no local há cinco meses. Resultado: mais de 114 mil compartilhamentos e a denúncia recebida por quase 2 milhões de pessoas.

Dada a repercussão, a corporação mineira prometeu colocar as viaturas nas ruas no próximo mês, que começa já na semana que vem. Questionada pelo BHAZ o motivo das viaturas ficarem tanto tempo paradas, qual o custo da aquisição dos carros e a função dos mesmos, a PM limitou-se a enviar uma nota sem abordar todas as perguntas.

“A Polícia Militar esclarece que as viaturas foram adquiridas por meio de emendas parlamentares federais, e o processo de aquisição cumpre todos os requisitos normais e está em sua fase final. O próximo passo é a entrega das viaturas pela PM às unidades que serão beneficiadas, o que deve ocorrer no mês de abril”, afirma.

“O processo de aquisição cumpre todos os requisitos normais e está em sua fase final. O próximo passo é a entrega das viaturas pela PMMG às unidades que serão beneficiadas, o que deve ocorrer no mês de abril”, afirmou.

‘Primeiro os copeiros’

Não é a primeira vez que Cleitinho chama a atenção. Em sua primeira reunião na ALMG, ele agiu de forma surpreendente. Ele pediu ao diretor-geral da Casa, Cristiano Felix, que presidia o encontro, apresentasse primeiro os copeiros que o estavam servindo. “Eles têm a mesma importância para mim que vocês”, diz ele na filmagem.

Em conversa com o BHAZ, na época, o deputado disse que, além da apresentação na reunião, ficou incomodado com as mordomias da ALMG. “Eu cheguei e vieram seguranças para abrir a porta para mim, começou uma bajulação, a mesa farta de comida e pessoas para servir o pessoal técnico da casa. Uma coisa desnecessária”, conta.

Todos somos iguais.1º reunião na Assembléia Legislativa.

Posted by Cleitinho Azevedo on Wednesday, October 24, 2018

Dormir na ALMG?

Logo em seguida, o deputado fez barulho novamente ao cogitar dormir na Assembleia, já que mora em Divinópolis e recusou-se a usar a verba extra de R$ 4,3 mil para alugar um imóvel em BH. “Nunca falei em morar na ALMG. Eu cogitei dormir aqui o dia no qual ficasse até muito tarde, já que é um local espaçoso. Mas, como não permitiram, o dia que precisar vou dormir em um hotel e pagar do meu próprio bolso”, afirma.

Outro penduricalho, o famoso auxílio-paletó, já foi doado por Cleitinho. “A gente recebe R$ 18 mil no início e no fim do mandato. Como é meu, posso fazer o que quiser. O doei para a Sociedade Protetora dos Animais de Divinópolis (Spad) e vou doar quando receber em 2022”, promete.

“O auxílio moradia, que os deputados recebem todos os meses, eu abri mão de receber, porque esse não tem como doar”.

Cantor

O parlamentar, que mostra bastante indignação com a “velha política”, também protagoniza cenas curiosas na Casa. No fim de fevereiro, por exemplo, o deputado utilizou sua fala em plenário para cantar uma música destinada ao PT e PSDB, que governaram o Estado nos últimos anos.

Com a base da música Meu Coração Deu PT, do cantor Wesley Safadão, o deputado disparou: “PT e PSDB, a culpa é sua, se Minas está quebrada e com a conta suja. Chega de mentiras e hipocrisias, eu fui tão inocente em acreditar no Pimentel e no Anastasia”.

Histórico

Cleitinho não canta só na ALMG. Antes de entrar na política, ele já se aventurou nos palcos e em um negócio de família. “Eu trabalhava no caixa do sacolão da minha família e cantava em um grupo sertanejo, inclusive, cheguei a fazer mais de 12 shows por mês”, relembra.

Após ser boicotado, segundo o próprio, por ser crítico aos políticos, Cleitinho resolveu entrar na política “para tirar a alegria deles, que é roubar”.

Ele conta que também teve a ajuda do irmão gêmeo que o incentivou a entrar na política. “Ele fazia entregas pela cidade enquanto eu ficava no caixa, e as pessoas ficavam dizendo para ele se candidatar achando que era eu. Com isso, ele começou a me incentivar”, conta.

Cleitinho não é um político de primeira viagem. Em 2016, foi eleito vereador na cidade de Divinópolis, na região Centro-Oeste de Minas. Na Câmara, ele teve 12 projetos aprovados.

“Quem me conhece sabe que eu sou assim, contra o sistema. Sou presente nas ruas da cidade e todos têm meu telefone. Minha proposta é, antes de tudo, fazer uma reforma na consciência das pessoas. Os políticos precisam servir o povo e não o contrário”, diz.

Em 2016, quando foi eleito em Divinópolis, gastou R$ 4 mil na campanha. No ano passado, para ocupar uma cadeira na ALMG, Cleitinho gastou R$ 29,4 mil e recebeu 115 mil votos. Para efeito de comparação, o deputado estadual mais votado em Minas, Mauro Tramonte (PRB), gastou R$ 443 mil e recebeu 516 mil votos.

Rafael D'Oliveira[email protected]

Repórter do BHAZ desde janeiro de 2017. Formado em Jornalismo e com mais de cinco anos de experiência em coberturas políticas, econômicas e da editoria de Cidades. Pós-graduando em Poder Legislativo e Políticas Públicas na Escola Legislativa.

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