Enquanto os órgãos de Saúde descartaram nesta terça-feira, 27, o caso do passageiro que chegou em Guarulhos (SP) com suspeita da Mpox, a vacina brasileira contra a doença aguarda resposta da Anvisa para ser testada em humanos. O imunizante passa por um processo de desenvolvimento do método de produção no CTVacinas (Centro de Tecnologia de Vacinas) da UFMG, segundo explicou o pesquisador da UFMG, Flávio da Fonseca, em conversa com o BHAZ.
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A vacina brasileira contra a mpox é a mesma que foi utilizada para combater a varíola humana, há 40 anos. Segundo Flávio, o laboratório está desenvolvendo um processo de escalonamento industrial desse imunizante.
“Esse processo sim é complicado, poucos países detém essa tecnologia, e ela é essencial para que o Brasil consiga produzir esse tipo de vacina”, explica Fonseca ao BHAZ. De acordo com o pesquisador, o laboratório trabalha em desenvolver um método de produção do imunizante e transferir esse método para as fábricas que irão produzir.
Laboratório aguarda resposta da Anvisa
Conforme Flávio, a Anvisa ainda não está certa se serão necessários testes em seres humanos, uma vez que a vacina já foi utilizada antes. “De qualquer forma, aqui no CTVacinas, nós começamos uma série de testes em animais para nos prepararmos para eventuais testes em humanos. Mas, como a gente não sabe se serão necessários, a Anvisa não tem essa resposta ainda, nós não temos uma previsão para fazer testes em seres humanos ainda”, completa.
Fonseca explica que o laboratório fez uma consulta à Anvisa no ano passado, por causa do surto global de mpox, iniciado em 2022. No mesmo momento, o CTVacinas começou a trabalhar no desenvolvimento da produção desse imunizante.
“Como os surtos de monkeypox de 2022 meio que perderam força, não houve mais interesse oficial, pelo menos de órgãos do Governo Federal ou Estadual, para dar seguimento nessa conversa”, diz. Com a confirmação de casos ao redor do mundo e uma suspeita no Brasil, a expectativa é que a pauta a respeito da vacina brasileira volte a ser discutida na Anvisa.
A Anvisa informou que foi acionada pelo serviço de saúde local após a identificação de um passageiro no Aeroporto Internacional de Guarulhos, nesse domingo (25), com sintomas compatíveis com a mpox. Nesta quinta, 27, o caso foi descartado para mpox e confirmado para varicela, após exame realizado pelo Instituto Adolfo Lutz.
“Estamos em contato com a Anvisa atualmente para, de novo, perguntar como vão ser as circunstâncias, se será necessário. Porque existe essa dúvida? Por que essa vacina não é nova, ela já foi usada em seres humanos, então realmente temos essa dúvida, se serão necessários novos testes de segurança nos humanos”, afirma o pesquisador.
Eficácia da vacina brasileira contra a mpox
A vacina brasileira contra a mpox tem 80% a 90% de eficácia, segundo cálculo da fabricante estadunidense Bavarian Nordic. A dose utiliza um vírus não replicativo, ou seja, enfraquecido por um processo laboratorial. Com isso, pessoas grávidas e imunossuprimidas poderão receber o imunizante, uma vez que ele não causa a doença.
Segundo Fábio Fonseca, o Ministério da Saúde será o responsável por definir a estratégia de vacinação com base nas condições epidemiológicas do momento.
“O que a gente imagina que vai acontecer, já que hoje não temos disponibilização de tantos imunizantes assim, é que serão vacinados grupos populcionais de maior risco, por exemplo, pessoas imunossuprimidas, homens que fazem sexo com homens, que era um grupo que foi particularmente afetado no surto de 2022”, especula o pesquisador.