Daniel ‘brocha’ em frente às câmeras do BBB: O que isso diz sobre a construção da masculinidade?

daniel brocha no bbb
Professor da UFMG comenta como a repercussão do caso evidencia uma pressão sobre os homens (Globoplay/Reprodução + Globoplay/Reprodução + Twitter/Reprodução)

Quase metade dos homens brasileiros já brocharam ao menos uma vez na vida. Porém, o ator Daniel Lenhardt passou pela situação em rede nacional e acabou virando motivo de deboche na web. Durante a manhã desta terça-feira (10), o assunto foi o mais comentado no Twitter, com mais de 70 mil publicações sobre o caso.

O momento que não para de repercutir ocorreu na noite dessa segunda-feira (9), quando o brother se deitou com a namorada do confinamento, a médica Marcela McGowan. Após o casal se movimentar debaixo do edredom, Daniel lamentou. “Eu não vou conseguir”, disse, enquanto Marcela se levantava. Ela soltou um “p*** que pariu”.

A cena rendeu ao brother o apelido de “Visconde de Sabubrocha” nas redes sociais, pela semelhança com o personagem do Sítio do Picapau Amarelo. “As duas cabeças do cara não funcionam, que incrível”, escreveu um usuário do Twitter.

As causas da disfunção erétil

A disfunção erétil já acometeu ao menos 25 milhões de homens brasileiros, segundo a Sociedade Brasileira de Urologia. Urologista e professor da UFMG, Bruno Mello Rodrigues explica que existem dois tipos de causas para a falha: psicogênicas e orgânicas.

A orgânica está ligada a problemas físicos. “Por exemplo, um paciente que é mais idoso, hipertenso, fumante, diabético ou sedentário”, enumera. Por outro lado, as causas psicogênicas estão ligadas ao estresse. “Pode acontecer em uma pessoa mais jovem, saudável, sem fator de risco. Ela é súbita, não vem piorando, pode acontecer em quem tem uma vida sexual normal”, detalha.

O urologista acredita que, no caso de Daniel, estar em um reality-show, filmado por câmeras e observado pela audiência pode ter sido um fator de estresse. “É muito comum na prática clínica esse tipo de caso, isso resolve sem medicamento nenhum. Pode ser resolvido com simples reforço positivo”, ressalta.

A brochada é o problema?

Apesar de ser uma situação comum, a grande repercussão da cena evidencia a construção da masculinidade na sociedade atual. Para o professor da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG Bruno Souza Leal, essa é uma violência que gera muita pressão, cobrança e exigência para os homens. “Numa construção tradicional, o homem se define pela ereção. O que é uma construção muito difícil, é uma associação de virilidade biológica com virilidade cultural”, explica.

Para o professor, encarar a brochada do homem como um problema é parte central da questão. “A ereção implica desejo. E desejo tem toda uma conformação emocional, de clima, claro que tem uma coisa orgânica, hormonal, mas o fato de alguém em algum momento não ter desejo é natural, é parte da vida. Então, o que é estranho é ter problema com isso”, afirma.

Além disso, Bruno acredita que tratar a falta de ereção como um impedimento para a relação sexual é uma visão limitada, já que reduz o ato sexual à penetração.

O professor explica que essa construção da masculinidade está associada à sociedade patriarcal. Nessa conformação, o homem tem o lugar de poder associado à virilidade física, representado pelo pênis ereto e à virilidade simbólica, representado pelas posses.

“Essa estrutura de poder coloca no corpo, em um mecanismo biológico um conjunto de pesos, de valores. O homem é um ser que deseja e a mulher é objeto de desejo, ele não pode não desejar, não pode não querer”, conclui.

Guilherme Gurgel[email protected]

Estudante de Jornalismo na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Escreve com foco nas editorias de Cidades e Variedades no BHAZ.

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