O Brasil no Oscar: Indicações, polêmicas e votação da maior premiação do cinema mundial

Brasil já foi indicado diversas vezes ao Oscar, mas ainda não levou nenhuma estatueta
Brasil já foi indicado diversas vezes ao Oscar, mas ainda não levou nenhuma estatueta (Reprodução)

A premiação mais importante do cinema mundial, o Oscar 2022, está aquecendo os motores. Para além de tapetes vermelhos, artistas famosos e o luxo hollywoodiano, a premiação visa reconhecer as melhores produções do ano na área das películas audiovisuais em diversas categorias. Na 94ª edição, o Academy Awards ocorre no dia 27 de março, a partir das 22h.

E por falar em Oscar, você certamente já ouviu dizer que a atriz Fernanda Montenegro esteve entre as finalistas da premiação, pela atuação no filme “Central do Brasil”, de 1999. A produção é apenas uma das que contam com brasileiros que estiveram no radar do Oscar.

Em 2022, apenas um brasileiro representa o país por lá. Apesar da falta de representatividade, a história do Brasil e dos brasileiros com o Oscar já possui mais de 70 anos. Durante essas décadas, ocorreram indicações nas categorias de canção original, melhor documentário, melhor filme internacional e melhor atriz, entre outras. Fora dos telões, os artistas brasileiros também foram reconhecidos e alguns já fazem parte do corpo votante da famigerada academia. Você sabia?

Prepare a pipoca e bora descobrir as curiosidades a respeito do Brasil no Oscar.

Em 2022, Seiva Bruta e ‘Lead Me Home’

Neste ano, o Brasil participou da lista de indicados na categoria de curta metragem com “Seiva Bruta”, dirigido por Gustavo Milan. O curta narra a história de uma imigrante venezuelana que encontra um casal com uma filha durante a viagem. O encontro liga os destinos deles para sempre. A produção ficou entre os 15 finalistas, mas não passou para a lista final de competidores. 

“Lead me Home”, dirigido pelo brasileiro Pedro Kos e produzido pela Netflix, também foi indicado e passou para a lista de finalistas na categoria documentário. O curta acompanha “Histórias emocionantes de pessoas sem-teto na Costa Oeste dos Estados Unidos que retratam a triste realidade que vem aumentando e a crise humanitária que surge”.

Primeiros passos…

A primeira aparição do Brasil no Oscar foi em 1945, na 17ª edição. Na época, o musical “Brazil”, uma produção ironicamente americana, foi indicada pela melhor composição original com a música Rio de Janeiro, de Ary Barroso. A melodia perdeu para “Going My Way”, do filme Bom Pastor.

Após 15 anos de espera, o país voltou a figurar na premiação em 1960 com grande estilo, conquistando a estatueta de melhor filme estrangeiro com Orfeu Negro, do diretor Marcel Camus. O filme baseado na peça Orfeu da Conceição, de Vinícius de Moraes, foi a primeira produção de língua portuguesa a ganhar o prêmio. Contudo, infelizmente a vitória não contou para o Brasil, uma vez que o longa era francês com coprodução do Brasil e da Itália.

Musical Brazil tinha música brasileira na trilha e foi indicado, mas perdeu
(Divulgação/Brazil)

A primeira indicação que realmente veio para um filme brasileiro foi apenas em 1963 com o longa metragem O Pagador de Promessas, na categoria de filme internacional. Dirigido por Anselmo Duarte, o longa baseado na peça teatral de Dias Gomes ganhou a Palma de Ouro no festival de Cannes, mas perdeu o Oscar para o francês “Sempre aos Domingos”, de Serge Bourguignon.

(O Pagador de Promessas/Divulgação)

Os anos 1990 também foram bem promissores para a história do Brasil no Oscar. Com indicações de melhor filme internacional, o Brasil acabou não levando nenhuma estatueta pelos filmes: O Quatrilho, de Fábio Barreto, com a história de dois casais imigrantes no Rio Grande do Sul (1996) e O Que É Isso, Companheiro?, de Bruno Barreto (1998), contando a história do sequestro do embaixador dos EUA durante a ditadura militar.

Fora da caixinha

Além de indicações, o Brasil já participou de uma grande polêmica no Oscar que revolta cinéfilos até hoje. A coprodução entre Brasil e França, Central do Brasil, dirigida por Walter Salles, foi indicada a melhor filme internacional e melhor atriz, com Fernanda Montenegro em 1999. A artista foi a primeira latino-americana e primeira mulher brasileira indicada na categoria. 

Entretanto, a vencedora da categoria foi Gwyneth Paltrow por Shakespeare Apaixonado, o que gerou uma grande polêmica, uma vez que Montenegro era a favorita dos críticos para o prêmio. O assunto é delicado para os brasileiros até hoje e, na época, foi muito questionado se o avaliado pela academia era a atuação ou a campanha publicitária realizada pelos produtores.

(Central do Brasil/Divulgação)

A partir daí, para além da categoria de melhor filme internacional, o Brasil conseguiu extrapolar suas indicações para as categorias principais do Academy Awards. O país já marcou presença com melhor curta metragem em Live-Action, com Uma História de Futebol, de Paulo Machline, em 2001. O curta narra a história de Zuza na defesa da taça Júlio Ramalho, em 1950.

Em 2004, outro filme nacional de renome mundial entrou para a lista de indicados ao Oscar. Cidade de Deus ganhou o título de produção brasileira indicada em mais categorias da premiação, concorrendo para o prêmio de melhor diretor, melhor roteiro adaptado, melhor edição e melhor fotografia. 

Recentemente, o Brasil também fez história ao ser indicado para melhor filme de animação, com O Menino e o Mundo, de Alê Abreu, em 2016. A animação sensível de um menino que vai atrás do pai e acaba descobrindo um mundo diferente do esperado foi o primeiro filme animado latino-americano a concorrer na categoria, mas perdeu para Divertidamente, da Pixar.

Já em 2018, Democracia em Vertigem, documentário dirigido por Petra Costa, que acompanha o processo de Impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, concorreu ao Oscar e perdeu para “American Factory”.

Coproduções

Não só produções 100% brasileiras levaram o país ao Oscar. Diversas coproduções, ou seja, filmes realizados com outros países, também renderam aos brasileiros indicações e prêmios em diferentes categorias. Entre eles estão o documentário Raoni, dirigido por Jean-Pierre Dutilleux e Luiz Carlos Saldanha. Participante da premiação em 1976, ele conta a história do líder indígena Xingu, no Mato Grosso do Sul, e a luta dele pela proteção das terras.

Já o documentário Lixo Extraordinário, dirigido por Lucy Walker, concorreu ao Oscar em 2011 com um registro do trabalho do artista plástico Vik Muniz no aterro sanitário Jardim Gramacho. Por último, Sal da Terra, dirigido por Win Wenders e Juliano Salgado, concorreu em 2015 a melhor documentário contando a história do renomado fotógrafo Sebastião Salgado. 

Além das produções, o longa Diários de Motocicleta, de Walter Salles, concorreu em 2005, por melhor roteiro adaptado. Ele narra a história de dois amigos que viajam pela América Latina de moto. O filme também foi indicado e ganhou a categoria de melhor canção oringinal, com Al Otro Lado del Rio.  

As coproduções brasileiras mais famosas a participar do Oscar foram O Beijo da Mulher-Aranha, de Héctor Babenco, em 1986 e Me Chame pelo Seu Nome, dirigido por Luca Guadagnino, em 2018. Ambos concorreram para melhor filme, melhor ator e melhor roteiro adaptado. 

O Beijo da Mulher-Aranha, primeiro filme latino-americano a ser indicado na categoria principal, conta a história de dois presos colegas de cela e concorreu ainda a melhor diretor, mas levou mesmo a estatueta de melhor ator por William Hurt. Já Me Chame pelo Seu Nome, passado na Itália, concorreu também na categoria melhor canção original, com “Mystery of Love”, mas recebeu o prêmio pela adaptação do roteiro.

Brasileiros no estrangeiro

Os brasileiros estão em todos os lugares do mundo e, assim como este ano com o documentário “Lead me Home”, às vezes o país aparece indiretamente no Oscar representado por um conterrâneo. Uma figurinha carimbada do Brasil é Carlos Saldanha, diretor de animações que já concorreu ao Oscar em diversas categorias, como Rio e A Era do Gelo. Saldanha concorreu nominalmente ao prêmio em 2004, pelo curta Aventura Perdida de Scrat e, mais recentemente, em 2018 na categoria de melhor animação com Touro Ferdinando.

Brasileiro Carlos Saldanha dirigiu o filme Rio (Rio/Divulgação)

Ainda sobre o filme Rio, dois músicos nacionais receberam a indicação na categoria de melhor canção original. Em 2018 Carlinhos Brown e Sérgio Mendes quase levaram a estatueta por “Real in Rio”. Outra cineasta que rompeu a bolha do Brasil foi Tetê Vasconcellos, com o documentário “El Salvador. Another Vietnam”, que analisa o envolvimentos dos EUA com a guerra em El Salvador.  

O Oscar já passou muito perto de vir para o Brasil diversas vezes, e a diretora de arte Luciana Arrighi conquistou uma das estatuetas. A figurinista é natural do Brasil, porém, filha de pai italiano e mãe australiana. Ela saiu do país com dois anos e cresceu do outro lado do mundo. Assim, suas três indicações contam para a Austrália, país que tem cidadania. São elas: Retorno a Howards End, Vestígios do Dia e Anna e o Rei. Em 1993 a mulher ganhou a categoria de design de produção com Retorno a Howards End.

A Academia

Todo ano a famosa Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, responsável pelo Oscar, elege, a partir de critérios, as obras que participarão da votação do prêmio. No caso da categoria de melhor filme internacional, por exemplo, o longa deve passar por uma comissão oficial do Brasil para ser escolhido como representante do país. Além disso, o filme precisa ser produzido majoritariamente por brasileiros, passar nos cinemas por pelo menos 7 dias consecutivos, ou estrear em festivais, e não conter mais de 50% do diálogo em inglês. 

Para poder ser eleito nas categorias principais, os filmes precisam ser exibidos nos Estados Unidos, pelo menos em Los Angeles, ficar em cartaz por 7 dias consecutivos e possuir cópias com legendas em inglês. Em outras categorias como curta-metragem e documentário as regras são mais específicas. 

Por causa das normas da cerimônia, poucos filmes brasileiros concorrem à categoria principal. Seria necessário um investimento alto para concorrer com as produções norte-americanas e suas campanhas de publicidade. Em 2008, o governo chegou a criar, por meio da Ancine  (Agência Nacional do Cinema), o “Programa de Apoio ao Oscar” que liberava recursos financeiros para as campanhas de divulgação dos filmes representantes na categoria de melhor filme internacional. Porém, desde 2018, a agência não apoia mais os candidatos. 

Recentemente, a academia ainda passou por diversos escândalos e críticas em relação a diversidade dos filmes e das indicações. Desde 2018, o Academy Awards tenta fazer a premiação ficar mais diversa, convidando novas pessoas para ingressarem como votantes. Para tornar-se membro, é necessário a indicação de pelo menos dois jurados e muito prestígio na indústria cinematográfica. Com mais de 9 mil membros, a academia conta atualmente com integrantes brasileiros que podem indicar filmes para o prêmio e votar nos vencedores.

Entre os brasileiros da academia estão as atrizes Alice Braga, Fernanda Montenegro e Sônia Braga. Entre os homens figuram Rodrigo Santoro e Wagner Moura. Na categoria de direção estão Fernando Meirelles, Kleber Mendonça, Alê Abreu e Petra Costa. Representando os músicos temos Carlinhos Brown. Há ainda maquiadores, produtores, editores e roteiristas brasileiros.

Brasileiros no palco do Oscar

Além de participar internamente e nas produções indicadas, o Brasil já estrelou os palcos do Oscar em duas ocasiões diferentes. Em 1987, a atriz Sônia Braga apresentou ao lado de Michael Douglas a categoria de melhor curta-metragem. A atriz foi cotada para a apresentação por causa de seu papel no filme O Beijo da Mulher-Aranha. Em um mimo para o Brasil, Michael disse: “Você deveria dizer alguma coisa para seus amigos no Brasil”. E Sônia Braga respondeu em português: “Estou com muitas saudades”.

O cantor Caetano Veloso também esteve nos palcos do Oscar, em 2003. A música Burn It Blue, tema do filme Frida, concorreu na categoria de melhor canção original. Caetano foi chamado ao palco apresentado pelo ator Gael Garcia Bernal como “o brasileiro mais incrível que eu já conheci, talentoso, grande cantor e grande amigo”. O vanguardista ainda participou da trilha sonora de outros filmes que levaram o prêmio: Fale Com Ela (2002), de Pedro Almodóvar, e Moonlight (2016), de Barry Jenkins. 

Edição: Roberth Costa
Giulia Di Napoli[email protected]

Estudante de Jornalismo na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

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