Uma padaria resolveu mudar o nome do bolo conhecido como “nega maluca” para “bolo afrodescendente”. A alteração viralizou nas redes sociais e gerou polêmica, sendo criticada pelo Presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo. A alteração aconteceu após um ofício do Sindicato dos Industriais de Panificação e Confeitaria de São Paulo (Sampapão), mas com a polêmica, a padaria acabou voltando ao nome anterior.
No ofício, de agosto de 2021, compartilhado pela própria padaria nas redes sociais, o sindicato sugere a revisão de alguns nomes de receitas. O Sampapão cita “nega maluca”, “teta de nega” e “língua de sogra” como exemplos de termos que “podem levar a constrangimentos e acusações de crime racial, machismo, preconceito e etc”.
“Dessa forma, recomendamos a nossos associados a tomarem cuidado com nomes de produtos que possam trazer dissabores para a padaria e seus proprietários”, complementou o ofício. Segundo o estabelecimento, a mudança veio após a orientação do sindicato.
Web reage
Nas redes sociais, muitas pessoas criticaram a mudança, por acreditarem ser um exagero do “politicamente correto”. “É tão tosco que nem dá pra ficar com raiva só evidencia o quão ridícula é essa patrulha do politicamente correto”, comentou um usuário do Twitter.
Quando o politicamente correto vira obsessão. Exagero ridículo. Excesso de zelo.
— Pedro de Vasconcelos Lima (@PedroMMVLima) March 18, 2022
Quando o povo começa a se importar com nome de bolo no meio de tanto problema sério, chegou o fim do mundo.
— Bárbara 🌎🕊 (@BarbaraOK123) March 16, 2022
Por outro lado, algumas pessoas defenderam que a expressão “nega maluca” realmente não é adequada. Por isso, a padaria deveria ter rebatizado o bolo, porém com outros nomes, sem associar a receita a um termo racial. “Galera não entendeu que dá pra usar só: bolo de chocolate”, sugeriu um usuário do Twitter.
Podia usar criatividade p rebatizar bolo! E noticiar solução como ação positiva! Melhor mesmo rever terminologias que ressaltam diferenças entre iguais.
— alice rosas (@alicerosas1) March 17, 2022
O grito que eu dei imaginando a pessoa: AIII TÁ BOM POVO DO MIMI, NÃO CHAMO MAIS DE NEGA MALUCA. E esqueceu do básico da confeitaria que é o CHOCOLATE
— Tati (@tatialooca) March 17, 2022
Presidente da Fundação Palmares comenta
Pelas redes sociais, Sérgio Camargo tem criticado duramente a mudança no nome do bolo. Em várias publicações, o presidente da Fundação Palmares promoveu campanha para que a receita voltasse ao nome anterior. “Cumpro meu dever como negro de direita, antivitimista, livre e INIMIGO do politicamente correto”, escreveu em uma postagem no Twitter.
“Se ainda resta um fiapo de bom senso, a padaria voltará a vender o bolo com o legítimo, tradicional e querido nome: nega maluca! Estou certo de que os clientes aplaudiram a decisão”, acrescentou.
Temos uma relação de afeto com esses doces. Fazem parte das nossas vidas. -Deixem a Nega Maluca em paz. Não existe “bolo afodescendente”!
— Sérgio Camargo (@CamargoDireita) March 16, 2022
Basta de tanto mimimi. Ninguém aguenta mais! #BolosDeChocolateImportam #VivaANegaMaluca
Padaria se manifesta
Pelas redes sociais, o estabelecimento compartilhou o ofício do sindicato e exemplificou com as mudanças que teriam feito nos nomes de outras receitas. Segundo a publicação, “língua de sogra” teria passado a se chamar “pão doce mole”. “Maria mole” teria virado “sorvete mole” nas etiquetas da padaria. “Teta de nega” foi rebatizado como “nha benta”.
“Nossa Padaria Aveiro está sempre em constante evolução para se adequar as mudanças, sendo assim a padaria ela é um lugar democrático onde não há espaço para ‘RACISMO’, preconceito e muito menos machismo”, publicou.
Em entrevista à Folha, o dono da padaria afirmou que sofreu ameaça de cerca de 12 clientes, por causa do nome do bolo. Ele explicou que achou que o nome, afrodescendente, remeteria à origem do bolo e, por isso, não causaria constrangimento. O empresário garantiu que não queria polemizar e, após a polêmica, está “desorientado”, sem saber como agir.
Sindicato publica nota
Após as críticas de Sérgio Camargo, o Sampapão publicou uma nota, reforçando a posição a favor da “evolução” e “adaptação à realidade que se impõe”. “A realidade que está posta demonstra que comportamentos que eram socialmente aceitáveis no século XX podem não ser mais tolerados pela sociedade, ou parcela desta, no século XXI”, afirmou no comunicado (leia na íntegra abaixo).