Saltburn: Filme embeleza trambicagem e faz questionar os limites da obsessão

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Saltburn mostra jornada do humilde Oliver no meio da aristocrática família dos Catton (Reprodução/Prime Video)

Saltburn é o mais novo queridinho filme dos apaixonados por fotografias bem executadas em tramas misteriosas. O longa-metragem estreou na Amazon Prime no dia 22 de dezembro, tendo como protagonistas Barry Keoghan e Jacob Elordi, e tem dado o que falar nas redes sociais.

Alerta: esta crítica contém uma pequena dose de spoilers!

A razão pela qual os telespectadores são atraídos para assistir Saltburn é, talvez, pela fotografia atraente. Dois belos protagonistas vivendo o auge da jovialidade em um castelo de veraneio no interior da Inglaterra com a promessa de um romance é a mais irresistível das tramas.

No entanto, a grande surpresa da obra é que nem tudo são flores – e nem romance – em Saltburn. No fim das contas, o filme cumpre a proposta de ser o que é, e que talvez deixamos passar na hora de ler a sinopse: um thriller psicológico, misterioso e cheio de momentos incômodos.

Saltburn foi escrito e dirigido por Emerald Fennell, que escreveu, dirigiu e produziu o filme “Bela Vingança” (2021).

Eterna friendzone

O filme mostra a relação entre o humilde Oliver Quick (Barry Keoghan) e o ricaço Felix Catton (Jacob Elordi), que começa na Universidade de Oxford após a entrada de Oliver. Desde o início, fica claro o interesse romântico de Oliver em Felix, e ambos se aproximam e tornam-se amigos.

Após Oliver dar uma notícia chocante sobre sua família a Felix e demonstrar tristeza por ter que ficar com a mãe, o jovem privilegiado convida Quick para passar as férias de verão em sua nada simples casa em Saltburn, junto com os pais e a irmã (e os hóspedes e os empregados).

Oliver demonstra deslumbramento pela casa e pela vida que a família em Saltburn leva, ao mesmo tempo em que parece um peixe fora d’água. No entanto, sua atração por Felix é o que o mantém naquele contexto, que exibe com certa ironia as extravagâncias e até onde vai a falsidade de famílias aristocratas.

Barry Keoghan como Oliver Quick em Saltburn (Reprodução/YouTube)

O verão se desenrola e Oliver conquista cada vez mais a confiança de todos na casa. A partir disso, o personagem vai se mesclando ao estilo de vida privilegiado e bizarro de Saltburn, cheio de convenções, regras, liberdade e uma aura sexual forte, como se, a qualquer momento, tudo fosse se transformar em uma grande orgia.

Em termos de sexo, o foco é o desejo de Oliver. A grande vontade dele é Felix, que em alguns momentos, parece retribuir amorosamente o amigo. Porém, a relação dos dois não passa da amizade, e é esse ponto que frustra os telespectadores, que esperavam o desenrolar dos dois.

No entanto, o desenvolvimento de uma relação amorosa e sexual entre Oliver e Felix não é o ponto de foco do filme, e sim, até onde Oliver iria por seu desejo e obsessão por Felix.

O flerte com a matriarca da família, Elspeth Catton (Rosamund Pike), o sexo oral no jardim com Venetia (Alison Oliver), irmã de Felix, e o voyerismo quando o galã se masturba no banho são apenas alguns dos momentos em que Ollie (como ele passa a ser carinhosamente chamado) expressa sua vontade de estar com Felix.

Algumas cenas beiram o nojo, como o sexo oral em Venetia durante o período menstrual e a lambida na banheira em que Felix tomou banho. Tudo isso mostra, aos poucos, em um ritmo lento, mas instigante, o lado psicótico de Oliver.

O outro lado de Oliver

O telespectador pode chegar a pensar que Saltburn e o estilo de vida extravagante mudaram o “pobre” Oliver. Porém, chegando ao final da trama, fica claro que o jovem era bem mais ambicioso e perverso do que qualquer um naquele castelo poderia demonstrar ser.

O clímax do filme acontece quando Oliver é pego em uma mentira e volta para Saltburn para ter sua grande festa de aniversário, promessa de Elspeth. No evento, ele finalmente se declara para Felix, mas as coisas não saem conforme Ollie esperava, e então, o jovem atinge o limite de seu amor e obsessão pelo personagem de Jacob Elordi.

Me limito aqui a dar mais detalhes sobre a trama, pois nada como ter a surpresa de tudo o que sucede à festa.

Trambicagem e obsessão bonitamente executadas

Toda a psicodramatia da história é retratada de forma bonita pelas cores do filme, formatos de filmagem e pela escolha do elenco. Barry Keoghan dá um show de atuação, fazendo uma bela transição da ingenuidade à frieza de Oliver Quick.

A intenção da diretora foi exatamente de causar incômodo, conforme ela disse em entrevista à Glamour UK, e isso é o que não falta. Desde a vontade desesperada de Oliver em virar amigo de Felix, até o ponto em que o personagem dança no horror.

Oliver consome tudo e a todos num belo exemplo de até onde o amor não correspondido pode levar um ser humano sem o mínimo de terapia. O trabalho feito pela direção e montagem do filme embelezam essa trama que tinha tudo para ser sombria, ao estilo da série “You” (Warner).

É como colocar a cena mais horripilante em uma tela de um quadro bem projetado. É bonito de se ver, além de ser muito intrigante, pois testa os nossos sentidos e reações a tudo o que está sendo exposto.

Minha nota para Saltburn é 10 por não se colocar limites e por limitar o que todos queriam ver, com o objetivo de ser uma obra causadora de profundo desconforto, e não apenas mais um romance entre dois homens atraentes.

Porém, minha nota também é 9 pelo roteiro ter tido muita previsibilidade em certos pontos. Se a trambicagem era o que faltava no catálogo de filmes LGBTs, Saltburn veio com maestria preencher essa lacuna.

Edição: Lucas Negrisoli
Andreza Miranda[email protected]

Graduada em Jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2020. Participou de duas reportagens premiadas pela CDL/BH (2021 e 2022); de reportagem do projeto MonitorA, vencedor do Prêmio Cláudio Weber Abramo (2021); e de duas reportagens premiadas pelo Sebrae Minas (2021 e 2023).

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