PBH alega ter recebido menos doses que o esperado e não amplia grupos de vacinação

Jackson Machado
Secretário afirma que população de BH foi privada de 50 mil doses da vacina (Moisés Teodoro/BHAZ)

A PBH (Prefeitura de Belo Horizonte) acusa o Governo de Minas de enviar menos doses da vacina contra Covid-19 para a capital mineira por motivo político. De acordo com o secretário Municipal de Saúde, Jackson Machado, a cidade deveria ter recebido cerca de 70 mil doses na última semana, mas recebeu pouco mais de 19 mil, dificultando a ampliação das faixas etárias a serem imunizadas nesta semana. Já o secretário de Estado de Saúde, Fábio Baccheretti, explicou, também em coletiva de imprensa realizada hoje, que mudanças nos critérios de distribuição da vacina, que têm como objetivo equilibrar a quantidade de doses em cada cidade, fizeram com que BH recebesse menos imunizantes desta vez (veja detalhes abaixo). “Não é decisão do Estado, é uma decisão colegiada”, disse, citando o Conselho dos Secretários Municipais de saúde.

“De doze capitais brasileiras, BH recebe a menor proporção de vacinas distribuídas em relação à população do estado. Uma determinação do Coes [Centro de Operações de Emergência em Saúde] corroborada pelo Governo de Minas privou a população de Belo Horizonte de 50 mil doses. Não me resta a menor dúvida de que isso foi por uso político da vacina”, declarou o secretário em coletiva de imprensa nesta terça-feira (15).

Segundo Jackson Machado, as cidades brasileiras que estão vacinando faixas etárias mais avançadas – como São Luís, no Maranhão, que já está imunizando a população de 28 anos – estão à frente porque “doses que deviam ter vindo para BH não vieram”. O secretário afirma que, se as 50 mil doses a mais tivessem chegado, a capital estaria vacinando a população de 55 a 53 anos nesta semana.

Vacinação de gestantes

Ainda de acordo com o secretário, a SMSA (Secretaria Municipal de Saúde) estuda ampliar a vacinação para gestantes e puérperas sem comorbidades, conforme determinado pelo Governo de Minas, mas ainda não consegue contemplar o grupo por causa da falta de doses.

“Não temos vacina para elas. As grávidas de BH também foram privadas da vacinação com a falta desse quantitativo que o estado deveria ter mandado e não mandou”, declarou Jackson Machado, que também afirmou que a capital “foi punida por seguir as regras”.

Cronograma de vacinação

O Governo de Minas divulgou hoje um calendário de vacinação para a população adulta do estado (veja aqui), elaborado com base na expectativa de doses a serem enviadas pelo Ministério da Saúde. A informação havia sido adiantada pelo governador Romeu Zema (Novo) e foi confirmada pelo secretário Estado de Saúde, Fábio Baccheretti, em entrevista coletiva hoje.

Questionado se Belo Horizonte conseguiria seguir o cronograma estadual, o secretário Municipal de Saúde, Jackson Machado, afirmou que a possibilidade vai depender do “cumprimento das normas” por parte do Governo de Minas: “Temos condições de seguir qualquer determinação. Se chegarem doses para vacinarmos de 40 anos para frente, vamos vacinar”. Segundo ele, “o problema é a falta de critério e de transparência na distribuição de doses”.

“BH não é uma cidade desorganizada, como dizem por aí. Fizemos vários esboços de cronogramas de vacinação, mas todos tiveram que ser abortados porque as regras não foram cumpridas. Se fizéssemos outro hoje, com certeza teria que ser revisto todo dia, porque o estado decide mandar para outros municípios”, disparou Jackson Machado em outro momento.

Durante a coletiva da SES-MG (Secretária de Estado de Saúde de Minas Gerais), Fábio explicou que BH recebeu menos doses, desta vez, por conta de mudanças em critérios que buscam equilibrar a distribuição dos imunizantes entre as cidades do estado.

“Não é decisão do Estado, é uma decisão colegiada, do Conselho dos Secretários Municipais de saúde. O Ministério Saúde também participa. Criou-se, então, um entendimento que, ao invés de usar como base a vacinação de influenza, se utiliza a proporção em relação aos habitantes para que não haja diferença em relação à população”, disse o secretário estadual. “A base de distribuição de vacinação que o Ministério da Saúde usa para comorbidade é a base da vacinação da influenza de 2017, 2018 e 2019. Por isso, houve uma grande diferença proporcional entre vários municípios”, explica.

De acordo com Fábio, a decisão foi de que 14% da população de cada município deve ser considerada como composta por grupo de comorbidade, e a distribuição de doses se dará ao equivalente a tal proporção. “Como Belo Horizonte teve um sucesso grande nessa vacinação, quando se faz a distribuição se vê uma diferença enorme em número de população e vacinas a serem distribuídas. Além disso, BH recebeu as duas primeiras remessas da vacina Pfizer integralmente (uma recomendação à época, do Ministério da Saúde) para esse grupo comorbidade”, relembrou. “Na última semana, quando foi distribuída vacina para comorbidade, Belo Horizonte estava com 12% enquanto outras cidades estavam com 7% e 8%. Por isso, recebeu uma quantidade menor de vacina, para equilibrar”, concluiu.

Veja o cronograma de vacinação divulgado pelo Governo de Minas hoje:

  • Entre 55 a 59 anos – Junho
  • Entre 50 a 54 anos – Julho
  • Entre 35 a 49 anos – Agosto
  • Entre 25 a 34 anos – Setembro
  • Entre 18 a 24 anos – Outubro

Ofícios às autoridades

O secretário ainda acrescentou que a PBH prepara dois ofícios para encaminhar ao Ministério Público e ao Ministério da Saúde: um a respeito da diminuição das doses enviadas à capital, e outro sobre o encaminhamento de medicamentos do “kit intubação” aos estados.

“Nas últimas remessas, Minas foi contemplada com pouquíssimas doses de medicamentos em relação aos leitos de UTI no estado. O que o governo do estado está fazendo sobre isso? Nada. BH está recebendo um quantitativo muito menor de kits intubação do que cidades que têm quantidade de leito muito menor”, detalhou Machado.

‘Planejamento 100% atrapalhado’

O secretário Municipal de Saúde ainda se queixou da falta de comunicação por parte do Governo de Minas em relação ao envio de doses de vacina contra a Covid-19 à cidade. Segundo ele, a PBH não sabe com antecedência quantas doses vai receber em cada remessa, prejudicando a antecipação dos grupos a serem vacinados nas semanas seguintes.

“Eles só falam ‘amanhã vocês vêm buscar as doses’, e nunca sabemos as quantidades, então é impossível saber qual grupo vai ser vacinado. O planejamento fica 100% atrapalhado, porque não incluímos nenhum grupo se não soubermos que tem vacina para a totalidade dele. É muito difícil se planejar se não temos acesso ao número de doses e qual imunizante receberemos, isso é em cima da hora”, explicou.

Jackson Machado ainda acrescentou que chegou a conversar com o secretário de Estado de Saúde de Minas Gerais, Fábio Baccheretti, sobre a menor quantidade de doses enviada à capital mineira. Segundo ele, o responsável pela pasta estadual se limitou a dizer que a redução da proporção foi uma determinação do Coes.

Vacinação em BH

A vacinação contra Covid-19 por ordem de idade em Belo Horizonte começou na última semana, quando, na segunda-feira (7), começaram a ser imunizados os moradores de 59 anos, sem comorbidades. Ainda na última semana, a vacinação chegou até o público de 56 anos de idade completos até 30 de junho deste ano.

Até hoje, segundo informações da Secretaria Municipal de Saúde, 987.804 pessoas já receberam a primeira dose de alguma vacina contra a Covid-19 em BH, e 410.027 já receberam a segunda dose. Em relação ao público-alvo da imunização – a população de 18 anos ou mais -, 48,5% já foram imunizados com a primeira dose e 20,1% com a segunda dose, até essa segunda-feira (14).

Ainda de acordo com as informações atualizadas ontem pela pasta, 53.088 pessoas entre 56 a 59 anos, fora dos grupos prioritários, já receberam a primeira dose da vacina na última semana.

Edição: Roberth Costa
Sofia Leão[email protected]

Repórter do BHAZ desde 2019 e graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Participou de reportagens premiadas pelo Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, pela CDL/BH e pelo Prêmio Sebrae de Jornalismo em 2021.

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