Polícia investiga grupo que aplicava golpe do ‘boa noite, Cinderela’ em BH

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A Polícia Civil investiga o envolvimento do religioso nos golpes de “boa noite, Cinderela” (Amanda Dias/BHAZ)

A Polícia Civil está investigando um grupo suspeito de aplicar o golpe do “boa noite, Cinderela” em Belo Horizonte. A corporação emitiu um mandado de prisão para uma jovem de 19 anos, e investiga o envolvimento de um religioso. Uma terceira envolvida se suicidou durante a apuração do caso. Na última quinta-feira (24), a polícia cumpriu quatro mandados de busca e apreensão referentes à investigação.

O delegado Guilherme Santos contou que as investigações tiveram inicio no último mês. O porteiro de um prédio que fica na Zona Sul de BH desconfiou da movimentação das duas suspeitas durante visita ao apartamento de um morador.

“O porteiro do prédio achou estranho que as meninas chegaram ao local com duas bolsas pequenas e saíram com mochila. Ele interfonou para o apartamento do morador para ver se estava tudo bem, e ele não atendeu, então ele acionou a Polícia Militar”, pontuou o delegado.

Jovem foi para a casa da vítima e chamou a amiga

Segundo Guilherme Santos, a Polícia Militar subiu no apartamento, acordou a vítima, que estava “completamente grogue”. O homem de 51 anos relatou o que teria acontecido aos policiais, que fizeram uma busca no apartamento e encontraram uma arma com o registro vencido.

Por conta da arma, o homem teve que ser conduzido à delegacia. Quanto à ação das jovens, a vítima relatou que contratou uma delas através de um aplicativo, e ela ofereceu uma amiga. “Ele falou ‘pode trazer a amiga’, e de repente ele apagou e no outro dia encontrou um pó branco nos copos que estava bebendo”, informou o delegado.

A Polícia Militar chegou a ir até o endereço das jovens, que havia ficado registrado no celular da vítima, utilizado para chamar um motorista para levá-las embora. Entretanto, os policiais não as encontraram em casa. O homem teve joias, perfumes e outros bens roubados. As jovens utilizaram um remédio dissolvido na bebida para dopá-lo.

Garota de 19 anos está foragida

De acordo com Guilherme, as mulheres agiam da seguinte forma: “Elas criavam perfis em redes sociais e aplicativos, marcavam encontros com as vítimas e, após dopá-las, furtavam objetos das casas delas. Levantamentos ainda indicam que o material furtado era destinado a um religioso, na região metropolitana”.

Após a denúncia, as jovens de 19 e 21 anos receberam indiciamento pelo crime. No entanto, durante os trabalhos policiais, a jovem de 21 anos cometeu suicídio, e a outra teria fugido do estado. “Ela tentou parar de aplicar esse golpe e teria tido uma pressão da parceira dela, e como ela tinha, segundo levantado, um perfil depressivo, ela cometeu suicídio”, informou Santos.

Durante as investigações, a polícia conseguiu pegar os celulares delas, e, a partir daí, descobrir mais detalhes dos golpes aplicados. “Descobrimos que elas selecionavam as vítimas por sites de programas ou por meio de aplicativos. Elas usavam diversos nomes e faziam programa também. ‘Meu Patrocínio’ é uma plataforma que elas usavam muito”, revelou o delegado.

Envolvimento de religioso

Com as investigações nos celulares, a polícia começou a desconfiar do envolvimento do religioso nos golpes de “boa noite, Cinderela”. Isso porque a equipe encontrou diversas mensagens trocadas entre as garotas e o homem, que mostram que elas destinavam parte dos materiais furtados a ele.

“Analisando as mensagens, vimos que quando elas saíram da primeira vítima, elas mandaram vídeo para o religioso dizendo que tinha sido muito bom o roubo e que estariam indo para a segunda vítima da noite”, afirmou Guilherme Santos.

Ele acrescentou: “Quando elas saem da segunda vítima, elas mandam áudio para esse religioso falando assim: ‘Fulano, a noite foi muito boa, conseguimos 60 mil em produtos, faz agora um trabalho bem forte para a polícia não pegar a gente’. A polícia identificou cinco vítimas e, com base em relatos, estima-se que elas tenham furtado em torno de R$ 100 mil.

Religioso nega envolvimento

“A gente pôde observar que à medida que as investigações foram avançando, elas foram pedindo trabalhos mais fortes para esse pai de santo para afastar a investigação policial, e passaram a pedir, inclusive, trabalhos para que a vítima desse caso morresse”, disse o delegado Guilherme.

Diante disso, a Polícia Civil abriu uma nova investigação para apurar o envolvimento do religioso no esquema de aplicação de golpes. Ele chegou a dar depoimento na delegacia, e disse que tinha conhecimento que as meninas praticavam esse roubo, mas alegou não ter qualquer participação. Segundo o homem, ele recebia os produtos como doação.

A corporação apreendeu diversos produtos furtados em posse do religioso, sendo esse material restituído à vítima de 51 anos. “A vítima compareceu à delegacia e reconheceu vários objetos, inclusive, um anel que possui o nome da filha”, afirmou Santos.

Outras vítimas

A autoridade alertou sobre a importância de outras vítimas desse grupo procurarem a Polícia Civil para registrar o crime. “É importante que quem tenha sido vítima procure a delegacia e faça o boletim de ocorrência. Vamos buscar qualificar as vítimas, para que elas possam ser ouvidas, a fim de demonstrarmos a reiteração delitiva. Queremos avaliar também qual é a verdadeira participação do religioso”.

De acordo com a polícia, as investigações prosseguem com objetivo de identificar outras pessoas que atuaram no golpe.

‘Boa noite, Cinderela’

“Até um tempo estava sem ocorrências relevantes nesse sentido, pode ser um indicativo de que esteja voltando a prática desse crime, que era muito comum em festas, mas deu uma parada por conta da pandemia”, disse Guilherme Santos sobre o golpe do “boa noite, Cinderela”.

O “boa noite, Cinderela” é um golpe no qual a vítima é dopada ao ingerir uma bebida alcoólica misturada com uma ou mais substâncias alcaloides, substâncias de origem natural ou sintética. O álcool, nesse caso, é usado como potencializador dos efeitos da substância. 

Com PCMG

Edição: Giovanna Fávero
Andreza Miranda[email protected]

Graduada em Jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2020. Participou de duas reportagens premiadas pela CDL/BH (2021 e 2022); de reportagem do projeto MonitorA, vencedor do Prêmio Cláudio Weber Abramo (2021); e de duas reportagens premiadas pelo Sebrae Minas (2021 e 2023).

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