Policial militar mata cachorro a tiros em Venda Nova e revolta moradores

Cachorro vira-lata morto
(Reprodução/Redes sociais)

Um cachorro vira-lata foi morto a tiros por um policial militar que estava de folga na manhã desta quinta-feira (24), no bairro Letícia, região de Venda Nova, em Belo Horizonte. De acordo com o dono do cachorro e uma testemunha, em relatos ao BHAZ, o cachorro teria se soltado da coleira e rosnado para um cão da raça american bully que estava com o policial, sendo atingido por dois tiros em questão de segundos. A PM argumenta que, segundo o policial, “ele agiu em Estado de Necessidade, conforme previsto no Código Penal brasileiro”.

Vídeos e fotos mostram a movimentação na rua Elias Antônio Issa, por volta das 11h30 de hoje, depois que o homem disparou contra o cachorro. Moradores da região chamaram o policial de “assassino”, enquanto o dono do cão lamentava a morte do animal na rua. “Ele [o cão] tinha 11 anos. Quando chegou lá em casa, meu filho tinha 4 anos. Eles cresceram juntos, ele era da nossa família, agora meu filho chegou e encontrou ele morto”, conta o homem, que preferiu não se identificar.

O dono relata que saiu com o cachorro para ir ao supermercado, prendendo sua coleira do lado de fora do estabelecimento. “Ele se soltou e estava correndo, fiquei uns 20 minutos atrás para conseguir pegá-lo. Ele correu na direção da rua Padre Pedro Pinto e veio um policial à paisana subindo com um cachorro. Quando os cães se viram, acabaram se estranhando e rosnaram um para o outro. O rapaz pegou uma arma e nem tentou afastar meu cachorro, deu dois disparos, sendo que no primeiro ele já caiu”, conta.

‘Irresponsável’

Após dar os tiros, o policial teria dito ao dono do cachorro que ele era “um irresponsável”, porque o animal havia fugido. “Ele ainda disse que eu tinha que ser preso e falou: ‘você tem sorte de eu não dar um tiro na sua cara'”, relata o homem. Ainda segundo ele, o cão nunca havia atacado ninguém antes, e todos no bairro já o conheciam. “Naquele momento que se soltou da guia, ele só queira correr. Estou arrasado”, completa.

Ao BHAZ, uma testemunha confirmou que o policial teria confrontado e ameaçado o homem com a arma. “O dono está desesperado. A comunidade saiu aqui na rua e chamou o policial de assassino. Todo mundo assustou com o que aconteceu, na hora pensamos que era uma bomba. Quando eu fui ver o que estava acontecendo, vi o policial dando o segundo tiro”, conta a mulher, que também preferiu não se identificar.

“A gente fica indignado com isso, porque cansamos de ver a luz do dia bala perdida. A bala poderia atingir outra pessoa. O que aconteceu foi um absurdo e não tenho nem palavras. A vida de um animal ninguém pode tirar”, defende a mulher, além de argumentar que o policial é “totalmente despreparado”.

‘Estado de necessidade’

A mulher ainda contou que, quando a PM chegou ao local, os agentes colocaram o policial na viatura e teriam tentado intimidar o dono do cão. “A perícia da Polícia Civil foi chamada e mandaram não tirar o cão do lugar. O policial militar que veio aqui não queria fazer a ocorrência e falou: ‘É bom que a Polícia Civil vindo eles já fazem o boletim de ocorrência'”.

Procurada pelo BHAZ, a Polícia Militar afirmou que, segundo versão do policial de folga, ele estava caminhando com seu cão quando os dois foram atacados por um “cachorro de grande porte que estava solto na via”. “[O policial] chegou a gritar para que o animal se afastasse. Ainda de acordo com o militar, ao defender-se e defender o seu cão de uma agressão oriunda de outro animal, ele agiu em Estado de Necessidade, conforme previsto no Código Penal brasileiro, efetuando disparos de arma de fogo”, diz nota da corporação (leia na íntegra abaixo).

“A PMMG esclarece ainda que o policial militar e o proprietário do cão atingindo foram conduzidos à Delegacia de Polícia Civil, com os materiais apreendidos, para as providências cabíveis”, completa.

O BHAZ também questionou a Polícia Civil a respeito da ocorrência. A corporação confirmou que a perícia técnica compareceu ao local e que a ocorrência foi recebida na Delegacia de Plantão 4. “Os envolvidos foram ouvidos e foi instaurado um procedimento para apuração do caso”, afirma a PCMG.

Nota da PM

“Com relação ao REDS 2021-30395701-001, a Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) esclarece que, segundo a versão do policial militar, que estava de folga e a paisana, durante caminhada com seu cão, da raça American Bully, eles foram atacados por um cachorro de grande porte que estava solto na via e que chegou a gritar para que o animal se afastasse. Ainda de acordo com o militar, ao defender-se e defender o seu cão de uma agressão oriunda de outro animal, ele agiu em Estado de Necessidade, conforme previsto no Código Penal brasileiro, efetuando disparos de arma de fogo. A PMMG esclarece ainda que o policial militar e o proprietário do cão atingindo foram conduzidos à Delegacia de Polícia Civil, com os materiais apreendidos, para as providências cabíveis”.

Edição: Roberth Costa
Vitor Fórneas[email protected]

Repórter do BHAZ de maio de 2017 a dezembro de 2021. Jornalista graduado pelo UniBH (Centro Universitário de Belo Horizonte) e com atuação focada nas editorias de Cidades e Política. Teve reportagens agraciadas nos prêmios CDL (2018, 2019 e 2020), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

Sofia Leão[email protected]

Repórter do BHAZ desde 2019 e graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Participou de reportagens premiadas pelo Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, pela CDL/BH e pelo Prêmio Sebrae de Jornalismo em 2021.

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