[Coluna do Orion] Por que a Globo mudou sua linha editorial 

Dia desses, mais de um leitor cobrou-me esclarecimento pela súbita mudança de postura e posição da Rede Globo de Televisão no cenário político e, claro, de todo o sistema Globo. Depois de ombrear a campanha pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), fritá-la junto com o ex-presidente Lula (PT) durante todo o ano de 2016, de uma hora para outra, ela virou-se contra o atual governo que ajudou a colocar no lugar deles (os petistas).

De imediato, foi difícil achar uma resposta, mas, a cada dia, vai ficando mais claro que o movimento feito pela ‘vênus platinada’ está umbilicalmente associado à própria sobrevivência, aliás, como tem sido em toda a sua trajetória, especialmente, da emissora que é o carro-chefe das Organizações.

Além de influência política e poder, o que a Globo pretende, agora, é, simplesmente, se reaproximar da sociedade e recuperar a audiência sem a qual os dois primeiros perderiam o sentido. Enquanto maior grupo de comunicação da América Latina, a TV Globo passou a sofrer críticas intensas e uma forte campanha negativa.

Ao mesmo tempo em que busca se reaproximar do eleitorado, tenta tirar o Michel Temer do jogo. A Globo tem esses objetivos, que não nada estratégicos, porque a campanha que fizeram e fazem contra ela é eficiente, deixando-a marcada como a revista Veja, de que é uma mídia governista, que é contra o Lula e o PT. Durante o ano passado inteiro, 2016, o líder petista queimou sozinho na Globo.

Já no final do ano passado, começaram a vazar coisas dos tucanos; surgiram as primeiras denúncias contra os senadores Aécio Neves (MG) e José Serra (SP), que estavam metidos na delação da Odebrecht. De novembro pra cá, a situação deles só piorou. Depois do que fez contra os petistas, a tática global se resume a lavar a própria imagem, chutando Temer, Aécio e outros ‘cachorros mortos’.

A audiência aberta da emissora está caindo. Hoje, tem 52%; os outros 48% estão com a Rede Record, TV Band, SBT e outros. Por isso, teme perder mais. Já teve mais de 60%; alguns programas estão perdendo para a concorrência. Vive crise de conteúdo e, no geral, uma perda histórica de audiência. Age para recuperar o protagonismo e virar fonte creditícia novamente, tornando-se parceira dos vazamentos, razão pela qual mudou sua linha editorial.

As denúncias estão passando por ali. Tanto é que, poucas horas depois que os áudios vazaram na coluna de Lauro Jardim, no jornal O Globo, da conversa de Temer e Aécio com o dono da JBS, o Jornal Nacional e a GloboNews apareceram ao vivo com a edição pronta em torno da mesma denúncia.

Rodrigo Maia é a nova arma

Com apoio da Globo, cresce movimento na Câmara dos Deputados para que o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM/RJ), assuma o lugar de Temer. O atual presidente pode até vencer nessa primeira etapa da denúncia, mas não resistiria a uma segunda e terceira, como planeja a Procuradoria-Geral da República.

O desgaste de Temer aumenta a cada dia e a cada nova delação (o ex-presidente Eduardo Cunha começa a falar). Se a denúncia for aceita e o STF autorizado a processá-lo, Temer terá que deixar o cargo por 180 dias, período no qual Maia assumiria e tomaria conta da cadeira até o final do atual mandato (2018). Se estiver bem, pode até se recandidatar a presidente.

Temer já tomou conhecimento dessas articulações, até em função do distanciamento de Rodrigo Maia. Os aliados do presidente passam o dia contando votos e sabem que ele ainda não tem o número necessário para barrar a denúncia na Comissão de Constituição e Justiça nem no plenário. Tudo somado, em Brasília, todo mundo sabe que o lado que a Globo apontar é aquele que terá chances de ganhar.

(*) Jornalista político; leia mais no www.blogdoorion.com.br

 

Orion Teixeira[email protected]

Jornalista político, Orion Teixeira recorre à sua experiência, que inclui seis eleições presidenciais, seis estaduais e seis eleições municipais, e à cobertura do dia a dia para contar o que pensam e fazem os políticos, como agem, por que e pra quem.

É também autor do blog que leva seu nome (www.blogdoorion.com.br), comentarista político da TV Band Minas e da rádio Band News BH e apresentador do programa Pensamento Jurídico das TVs Justiça e Comunitária.

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