[Eleições 2018] Zema promete instalar câmeras para ‘vigiar’ PM e implantar avaliação estilo Uber para servidores

Henrique Coelho/Bhaz

Adepto ao discurso do liberalismo econômico e à redução da máquina pública, o candidato ao Governo de Minas, Romeu Zema, do partido Novo, promete privatizar todas as empresas do Estado, pois, conforme o próprio, a gestão privada é mais eficiente e está “imune a nomeações públicas e interferências políticas”. Além disso, o concorrente sugeriu criar avaliação estilo Uber para servidores públicos, instalar câmeras na farda de policiais e atacou a existência da Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig) que, segundo ele, serve apenas como “cabide de emprego”.

“Sou favorável à privatização de todas as empresas do Estado, no momento certo, com valorização, de maneira transparente e com a condição de que o consumidor seja o grande ganhador. Quanto à Codemig, ela deveria se tornar um departamento de Secretaria da Fazenda, reduzindo uma centena de empregos que servem como cabide político. Quando se cria uma empresa para receber royalties, como a Codemig, ela paga PIS, Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social), Imposto de Renda e Contribuição Social à União, fazendo com que o governo perca parte da arrecadação. Uma burrice”, disse Zema, em entrevista ao Bhaz.

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O candidato foi questionado também sobre o escalonamento de salários em Minas, melhorias na educação, judicialização da saúde no Estado, controle das barragens de mineradores e sobre a Legislação Eleitoral, que ele considera injusta pois “privilegia quem já está dentro”.

Romeu Zema é empresário e concorre pela primeira vez a um cargo político, almejando de cara o Executivo mineiro. O candidato foi o terceiro sabatinado na série de entrevistas do Bhaz com os concorrentes Governo de Minas. Relembre as diretrizes da cobertura da disputa política deste ano feita pelo portal aqui.

Regularização dos salários

Os servidores mineiros sofrem, há dois anos, com o parcelamento e atrasos no pagamento. Segundo Zema, caso eleito, a previsão para regularizar a situação é de dois a três anos.

“Não é algo que se faça do dia para a noite. Com toda certeza, vamos tomar as medidas de redução de despesas imediatamente. Vamos cortar cargos comissionados, pois Minas virou um cabide de empregos; vamos tomar medidas para ampliar as receitas sem aumentar impostos, para atrair empresas para Minas; renegociar a dívida do Estado com o Governo Federal, que infelizmente ainda não foi feito, pois a contrapartida são medidas de austeridade e o atual governo não tem interesse em fazer isso. A certeza que dou é que o escalonamento vai parar de piorar”.

Quanto ao corte de despesas, o candidato prometeu reduzir o número de secretarias de 21 para nove. “Vamos cortar burocracias. O estado é extremamente cheio de gente desnecessária em muitas áreas. Mas, vale ressaltar, que vamos fazer esse corte sem afetar o serviço público, como professores e médicos”, afirma.

Piso para os professores

O candidato do Novo garantiu que não haverá aumento para os professores garantindo o piso salarial, por enquanto. A razão é o descontrole dos gastos públicos. “O Estado não consegue pagar o valor atual pontualmente, por isso, não seria recomendável falar em ampliar despesas. Não vou assumir esse compromisso – de pagar o piso aos professores -, por hora, pois minha prioridade é pagar em dia”, diz.

Entretanto, Zema garante que irá melhorar a Educação em Minas usando a distribuição de verba com incentivo.  O ensino precisa se valorizado. Aqui, uma escola que ensina muito bem recebe os mesmos valores de outra que ensina mal. No meu ponto de vista, isso está errado. Temos de pegar a escola com melhor desempenho e reconhecê-la. O que queremos fazer é uma calibragem na distribuição de verbas. Seria uma gestão com princípio simples, quero que quem produz mais ganhe mais e compartilhe boas práticas com as outras escolas”, sugere.

Controle da ação policial

Zema foi questionado pelo especialista em segurança pública, coordenador do Núcleo de Estudos Sociopolíticos (NESP), Robson Sávio, sobre o controle externo das polícias e mais transparência na apuração de violações e arbitrariedades policiais no Estado.

Em resposta, o candidato sugeriu que irá usar a tecnologia para reduzir os problemas na polícia. “Deveríamos ter dois crivos para julgar uma ação policial, um interno e externo, para ver se os dois chegam à mesma conclusão. E, se houver divergência, vamos criar uma arbitragem para dirimir. Não concordo com julgamentos internos, pois sabemos que legisladores se protegem e o mesmo acontece com policiais. Outra proposta seria a instalação de câmeras fixadas nos uniformes para filmar as ações policias e garantir que eles tenham direito a plena defesa”, afirma.

Conselho Estadual LGBT

O Coletivo Brejo das Sapas questionou sobre quais as propostas o candidato pretende encaminhar à Assembleia Legislativa para a criação do Conselho Estadual de Cidadania de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais de Minas Gerais. Zema parabenizou a ação do grupo, mas garantiu que prefere investir na mudança da cultura e dispensar a responsabilidade sobre o Governo.

“É ilusão pensar que o Estado vai resolver problemas que cabem às pessoas. Temos de lembrar que as coisas funcionam quando a sociedade amadurece e a cultura muda. No Brasil, temos a mania de achar que lei muda as coisas. Se isso fosse verdade, seríamos os mais desenvolvidos do mundo, pois somos os que mais produz leis. Parabéns ao movimento, mas não jogue esse ônus para o Estado, pois leis não funcionam assim”, ressaltou.

Barragens em Minas

O candidato também prometeu tirar da responsabilidade de fiscalizar as barragens de mineradoras do Estado e repassar à gestão privada. Segundo o concorrente, se a ação tivesse sido feita, o desastre de Mariana não aconteceria.

“Vamos colocar seguradoras, pois ela vai fiscalizar. Se houver algum sinistro, essa empresa terá de ressarcir o Estado. A lógica é: se eu tenho que pagar algo, eu acompanho de perto. Se a Samarco tivesse uma seguradora, esse acidente não teria acontecido. Além disso, no governo há muitas indicações políticas e a competência para fiscalizar falta. Então, nossa ideia é levar isso para a iniciativa privada. Isso não é feito hoje, pois não faz parte da lógica do político reduzir o Estado, apenas ampliar e criar mais cargos”, atacou o candidato.

Curtidas x votos

O partido Novo, atualmente, é um dos líderes em números de interações nas redes sociais e tem se mostrado bem ativo, principalmente no Facebook. Questionado sobre como converter isso em votos, Zema criticou o sistema eleitoral.

“A Legislação Eleitoral é injusta, pois privilegia quem está dentro, com tempo de rádio e TV, acesso ao fundo eleitoral etc. Mas eu vejo que a população ficou mais crítica depois da crise, pois viu que escolhas ruins podem lhes custar o emprego, uma perda financeira e outras coisas. Com isso, surgiram novas opções, acredito que estou inserido nisso”, acredita Zema.

Estabilidade no funcionalismo público

Com raiz no meio empresarial, em que demissões são recorrentes quando há queda de rendimento, o candidato do partido Novo disse que a estabilidade dos servidores públicos será atrelada ao rendimento.

“Vamos manter a estabilidade com contrapartida. O funcionário deve ter um bom desempenho e manter-se atualizando. Infelizmente, uma minoria do funcionalismo público acha que porque passou em um concurso a vida está ganha e isso prejudica a população”, afirma.

Segundo Zema, a tecnologia também pode ajudar nesse processo. “É de conhecimento público que as avaliações internas são distorcidas. Os chefes querem privilegiar suas turmas etc. Podemos usar sistemas semelhantes como o de aplicativos de transporte, como o Uber, para colher essas avaliações. Depois, podemos criar índices internos e propor melhorias e metas, como por exemplo, o número causas julgadas por um juiz. Quem estiver abaixo, terá uma nova oportunidade, se não melhorar perde o cargo”, sugere.

Estado mínimo

De viés liberal, Zema acredita que o Estado deve participar do mercado em ações que possam trazer lucro sendo “forte e eficiente”. Por exemplo, na aceleração de startups. “Do meu ponto de vista, o Estado tem de fazer uma espécie de doação, pois essas empresas embrionárias precisam de recurso para sobreviver. Essas startups com potencial conseguem pagar esse valor em um ano, com impostos, geração de emprego e desenvolvimento”, afirma.

Ainda sobre as intervenções do Estado na vida das pessoas, Zema diz que é contrário à legalização do aborto e descriminalização do consumo de drogas. “Pode ser que isso seja contra o liberalismo, mas sou da opinião que o direito a vida vem primeiro e quem faz uso de droga perde o poder sobre si”, diz.

Perfil

Romeu Zema tem 53 anos, é natural de Araxá, cidade do Triângulo Mineiro. Formado em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas (SP), o pré-candidato iniciou sua trajetória profissional aos 11 anos.

Já foi cobrador, frentista, balconista, estoquista, caixa, comprador, vendedor, analista de marketing, analista comercial e gerente. Em 1991, assumiu o controle das Lojas Zema, fazendo a empresa sair de quatro pontos para 430 lojas nos estados de Minas Gerais, São Paulo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Bahia e Espírito Santo.

Rafael D'Oliveira[email protected]

Repórter do BHAZ desde janeiro de 2017. Formado em Jornalismo e com mais de cinco anos de experiência em coberturas políticas, econômicas e da editoria de Cidades. Pós-graduando em Poder Legislativo e Políticas Públicas na Escola Legislativa.

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