‘Cozinhas solidárias’ se mobilizam para ajudar população de rua em BH

marmitas doação
Projetos buscam levar alimento para as milhares de pessoas afetadas diretamente pela pandemia (Camilla Muller/Arquivo Pessoal)

As madrugadas estão cada vez mais frias, a pandemia continua sem dar sinal de alívio, e a oferta de emprego está escassa. Na avaliação de pessoas que trabalham diretamente com a população em situação de rua, as ruas da capital estão ganhando novos moradores progressivamente. Como forma de auxiliar os que mais precisam, projetos se mobilizam para aliviar a fome de milhares em BH e região metropolitana.

“O pedido que a gente mais escuta é água”, conta Camilla Muller, coordenadora da cozinha solidária do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto). A cozinha foi inaugurada no mês passado, mas mesmo com a parceria com outros movimentos sociais e coletivos, como o MST (Movimentos dos Trabalhadores Rurais sem Terra) e o Sindieletro (Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores na Indústria Energética de Minas Gerais), ainda precisa de ajuda para seguir entregando refeições para uma média de 300 pessoas por dia.

Além da distribuição de marmitas pela região, como nas ocupações no Complexo da Lagoinha, Anita Garibaldi, e Anita Santos, e a entrega de refeições na sede, o projeto também tem um trabalho de acolhimento da população marginalizada. “A ideia é pegar aquele morador de rua que quer voltar para o seio da sociedade, que quer uma reintegração digna, de alimentação, de moradia”, explica Camilla. Para isso, a iniciativa também conta com um setor jurídico e de assistência social.

‘Pessoas como eu, você…’

Camilla compartilha diversos casos. “Por exemplo, hoje eu recebi um pedido de ajuda de um rapaz que está no abrigo municipal. Uma pessoa totalmente fora do estereótipo que é vendido. Ele veio pra BH em uma proposta de trabalho informal, trabalhou, foi dispensado, não teve condição de manter o aluguel, alimentação, e hoje está morando na rua, vem para o abrigo todo dia”. O projeto agora tenta ajudá-lo a voltar à sua terra natal, no interior paulista.

A iniciativa ainda trabalha com a população LGBTQ+ e mulheres em situação de rua que saíram de casa por conta da violência doméstica. “A rua é muito associada a drogas, como a favela é associada a traficantes, sendo que, na verdade, 99,9% dos moradores de favela são pessoas como eu, você, João, Maria… Enfim, brasileiros trabalhadores que nesse momento de pandemia, de forte crise econômica, passam por dificuldades”, relata.

Mais iniciativas

Igor Lana lidera outro projeto na capital mineira, que também distribui refeições para a população em situação de rua (veja mais aqui). Mesmo já trabalhando com esse grupo há cerca de três anos, foi na pandemia que a iniciativa estourou de vez. “Eu sempre trabalhei com morador de rua. Como eu fazia comida para eles, algumas famílias da ocupação viam que eu fazia comida e almoçavam lá em casa. Foi quando eu dei início nesse projeto doando comida também. Aí de repente, quando eu assustei, tinha 250 famílias”, relata.

Igor mora em uma das centenas de casas de madeira na Ocupação Terra Nossa e, quando percebeu que o suporte recebido pelas famílias no período da pandemia não estava sendo suficiente, resolveu agir. A partir daí, a cozinha solidária passou a ser liderada pela esposa e com a ajuda de mais quatro voluntários. “Comecei com 100, depois foi para 250 [famílias], aí foi piorando a necessidade do povo… na hora que assustei, tinha 400 famílias”, conta.

Apesar do crescimento no ano passado, ele conta que, nos últimos meses, a ajuda “deu uma esfriada”. “Hoje estamos atendendo uma média de 150 famílias por dia. Esfriou. O ano passado arrebentou, este ano já está meio fraco, acho que as pessoas estão ficando meio desgastadas, porque tá meio complicado, essa pandemia não passa, empresas quebraram, estão fechadas”, aponta.

Como ajudar?

Nós dois projetos, a água foi o item mais pedido, seguido do arroz. As doações podem ser feitas em dinheiro ou em material.

A Cozinha Solidária da Comunidade Terra Nossa fica na rua Gilson Filho, 70, no bairro Taquaril, na região Leste de BH. O projeto aceita doação de água, arroz, feijão, e macarrão. O coordenador ainda se oferece para buscar os alimentos, nos dias em que tiver carro disponível. Para doações em dinheiro, basta enviar o valor para o pix 31998460045.

Já a Cozinha Solidária MTST fica na rua Mucuri 271, no bairro Floresta, também na região Leste da capital. O projeto aceita doação de água, arroz, óleo, e proteína, como carne e ovo, além de materiais de limpeza e cozinha. “Precisamos de material de cozinha grande, como bacia grande e panela de pressão grande, pois cozinhamos para muitas pessoas”, explica Camilla.

Pix:

  • Jairo dos Santos Pereira: 10139365664
  • Luiz Gustavo A V Matos: 31999422671

A coordenadora ainda convida as pessoas a se voluntariarem na cozinha. “Faz muito bem pra gente aquele carinho, eles se sentem olhados pela sociedade. Não se sentem marginalizados”, pontua.

Edição: Giovanna Fávero

SIGA O BHAZ NO INSTAGRAM!

O BHAZ está com uma conta nova no Instagram.

Vem seguir a gente e saber tudo o que rola em BH!