Um vídeo circula nas redes sociais com a informação de que o litro da gasolina em um posto de combustível de Belo Horizonte estaria custando mais de R$ 8, em meio à alta dos preços por causa da greve dos tanqueiros. O preço exorbitante, no entanto, é falso, de acordo com o proprietário do estabelecimento, que garante que tomará providências legais contra o responsável pelo vídeo. A história chegou a virar caso de polícia, e as autoridades também confirmaram que a informação não procede.
“Aí, galera, acredite se quiser. Posto Shell, em frente à UFMG, na Antônio Carlos, R$ 8 o litro da gasolina. Oito reais o litro da gasolina comum!”, diz o homem na gravação, feita no posto Trópico, na região da Pampulha. Ele mostra o cartaz que exibe os preços do combustível, que estaria sinalizando o valor de R$ 8,888.
Farsa
Na verdade, o homem filmou o momento em que a gerente do posto trocava o valor exibido no cartaz: quando ela apagou a tinta preta que define os números, o valor ficou em branco, antes que as barras fossem coloridas novamente, determinando os novos algarismos.
“Isso é fake. Minha gerente tirou o preço da placa por ter acabado o combustível e, ao tirar o preço, ficaram os dígitos 8888. Essa pessoa desinformada postou nas redes sociais dizendo que o posto estava praticando o preço de R$ 8,888. Mas já estamos tomando providências contra esse indivíduo”, explica ao BHAZ o proprietário do posto Trópico, Anderson Luiz Jota.
O estabelecimento, assim como muitos na cidade, ficaram sem combustível nesta sexta-feira (26). Antes que a gasolina e o etanol acabassem, os preços do litro no local estavam em R$ 5,69 e R$ 4,19, respectivamente. O desabastecimento é consequência da greve dos transportadores de combustíveis e de derivados de petróleo de Minas Gerais, e, consequentemente, das filas que a população belo-horizontina fez para abastecer seus tanques.
Outro boato sobre um suposto preço exorbitante da gasolina também foi compartilhado a respeito do posto Alto da Raja, na avenida Raja Gabáglia, no Estoril, na região Oeste de Belo Horizonte. Mensagens compartilhadas nas redes sociais afirmavam que o litro da gasolina no local também estaria sendo vendido a mais de R$ 8. A informação também foi desmentida por responsáveis pelo estabelecimento, que estava ofertando o litro por R$ 5,39 antes que o combustível também acabasse no local.
Caso de polícia
Depois que o vídeo passou a circular nas redes sociais, policiais da Decon (Delegacia Especializada em Defesa do Consumidor), da Polícia Civil de Minas Gerais, foram até o posto de combustível para confirmar se o litro da gasolina estaria, de fato, sendo vendida por mais de R$ 8.
“Os policiais da Decon estiveram no local e constaram que a informação não procedia. O que ocorreu foi que ao não ter mais gasolina para comercializar, o empresário zerou o letreiro com o valor por litro”, informou a Polícia Civil, que realizou ações em diversos postos da capital depois de receber denúncias de preços abusivos.
Preços altos
O preço do combustível em Belo Horizonte, apesar de não ter atingido R$ 8 por litro, está em tendência de alta nos últimos dias. De acordo com o diretor do site Mercado Mineiro, em um posto consultado, os preços do etanol aumentaram, respectivamente, R$ 0,80 e R$ 0,60 em apenas uma semana.
“A variação está tão difícil de prever, que até o varejo pode sofrer com a greve: já estão surgindo lojas que estão fazendo promoções, porque sabem que os consumidores vão ficar mais dentro de casa nos próximos dias. A demanda está muito forte, e os preços do combustível subiram muito da última sexta (19) para cá”, conta ao BHAZ Feliciano Abreu, diretor do Mercado Mineiro.
Ele também explica que o acúmulo de pessoas que fizeram filas para abastecer os veículos hoje acabam provocando um aumento ainda maior nos preços. “Com a greve, o consumidor fica perdido, assustado, e vai para a fila com medo de ficar sem combustível. Isso estimula o aumento do preço, porque muita gente paga o que tiver que pagar para ‘sobreviver’. É preciso ter mais cuidado, menos ansiedade, mas não da para falar assim, porque tem gente que precisa do carro todo dia para trabalhar”, completa.
Feliciano Abreu ainda aponta que a greve dos tanqueiros pode piorar ainda mais a situação econômica que Belo Horizonte enfrenta, além de afirmar que a provável é que a região metropolitana e o interior de Minas sigam a mesma tendência da capital.
Greve e filas
Longas filas de carros se formaram em direção aos postos de gasolina em Belo Horizonte, nesta sexta-feira, depois que os transportadores de combustíveis e de derivados de petróleo de Minas Gerais deflagraram greve. A categoria reivindica a redução do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) do diesel, e não tem previsão para voltar às atividades.
Depois de promover uma carreata de caminhões nessa quinta-feira (25), que saiu de Betim, na região metropolitana de BH, e terminou na Cidade Administrativa, o SindTanque-MG (Sindicato das Empresas Transportadoras de Combustível e Derivados de Petróleo do Estado de Minas Gerais) definiu a paralisação da categoria. De acordo com o presidente do sindicato, Irani Gomes, mais de 300 caminhoneiros participaram da mobilização ontem, e toda a categoria aderiu à greve no estado.
Os tanqueiros reivindicam que o governo do Estado diminua de 15% para 12% a alíquota do ICMS que recai sobre o diesel. “São mais de 2 mil caminhoneiros participando, 100% da categoria aderiu à paralisação. Estamos aguardando um posicionamento do Governo de Minas. Enquanto não se manifestar, a greve dura por tempo indeterminado”, afirma Irani Gomes.
Procurado pela reportagem, a gestão estadual afirma que as mudanças nos preços dos combustíveis “não são em função do ICMS, mas sim da política de preços praticada pela Petrobras”, e descarta a possibilidade de redução da alíquota no momento, “em virtude da situação financeira do estado”.
“Sobre a manifestação realizada ontem na Cidade Administrativa, o Governo esclarece que esteve disponível para ouvir as demandas dos tanqueiros, mas não houve pedido de reunião por parte dos manifestantes”, completa o comunicado da administração municipal.
Nota do Governo de Minas
“O Governo de Minas esclarece que as recentes mudanças no preço dos combustíveis não são em função do ICMS, mas sim da política de preços praticada pela Petrobras. O Estado reafirma seu compromisso de não promover o aumento de nenhuma alíquota de ICMS até que seja possível começar a trabalhar pela redução efetiva da carga tributária. No momento, em virtude da situação financeira do estado, a Lei de Responsabilidade Fiscal exige uma compensação para aumentar receita em qualquer movimento de renúncia fiscal, o que não torna possível a redução da alíquota.
Informamos ainda que o Preço Médio Ponderado ao Consumidor Final (PMPF) é atualizado mensalmente levando-se em consideração os preços praticados pelos postos revendedores em todas as regiões do Estado. O resultado da pesquisa realizada pela Secretaria de Fazenda é baseado nas Notas Fiscais emitidas por 4.272 postos revendedores distribuídos em 828 municípios mineiros.
Sobre a manifestação realizada ontem na Cidade Administrativa, o Governo esclarece que esteve disponível para ouvir as demandas dos tanqueiros, mas não houve pedido de reunião por parte dos manifestantes”