Um choque de realidade

choque de realidade
Bolsonaro e Collor à esquerda e Daniel Silveira em destaque no telão (Fábio Rodrigues Pozzebom/EBC + Michel Jesus/Câmara dos Deputados)
coluna colunista

A vida do eleitor de Bolsonaro não anda nada fácil…

Os que o escolheram por sua promessa de “tirar o estado do cangote do cidadão” tiveram que engolir a insistência de Paulo Guedes em recriar a CPMF, o pouco caso com as mudanças na sistemática do imposto de renda, a relutância em privatizar até mesmo a Casa da Moeda e foram dormir com a nomeação de um general para o comando da Petrobrás, esperando que ele seja ao menos um pouco mais competente que Pazuello.

Aqueles que nele votaram pela sua proposta de combater a corrupção já tiveram que aturar o Queiroz, os depósitos na conta da primeira dama, a rachadinha do filho, o abandono das “dez medidas contra a corrupção”, a ingerência no comando da Polícia Federal e o desembarque de Sérgio Moro do governo federal.

Já aqueles que apertaram o 17 porque estavam insatisfeitos com a “velha política” devem ter uma síncope ao vê-lo abraçado com Collor e de mãos dadas com o Centrão, distribuindo cargos e emendas como nunca antes na história deste país…

Os que o elegeram por seu “jeitão espontâneo” e que saíram às ruas pedindo o impeachment dos ministros do STF se surpreenderam com seu abraço em Toffoli, com o exequatur de Gilmar Mendes à indicação de Kassio Marques ao Supremo e ainda devem estar sem entender os motivos pelos quais o Planalto entregou a cabeça do deputado Daniel Silveira, mantido na prisão pelos votos de 365 de seus pares, simplesmente por ter destilado a mais fina essência do bolsonarismo.

Enfim, os saudosistas da “eficiência e integridade” do regime militar se espantaram com o ostracismo de Mourão e com a voracidade dos oficiais em ocupar cargos no governo, comparável apenas ao seu apetite por leite condensado, picanha, cerveja e bacalhau…

Estelionato eleitoral

Não há como disfarçar o gosto amargo deixado pelo verdadeiro estelionato eleitoral praticado por Bolsonaro, que se esquecendo da promessa de acabar com a reeleição, já se lançou candidato para 2022 – e não tem medido esforços para viabilizar a sua candidatura.

Os índices de rejeição do presidente e de desaprovação ao seu governo seguramente já captam a insatisfação de parcela significativa de seus eleitores, muito embora ainda seja um mistério ele manter o apoio da terça parte do eleitorado.

No entanto, pior do que a situação daqueles que a cada semana veem cair por terra as promessas e bravatas do presidente, é a situação daqueles que não o escolheram e que tem que sobreviver em um país à deriva, em meio à pior pandemia da história nacional, com altos índices de desemprego, estagnação econômica e sem vislumbrarem sequer uma luz no fim do túnel.

Rodolpho Barreto Sampaio Júnior[email protected]

Rodolpho Barreto Sampaio Júnior é doutor em direito civil, professor universitário, Diretor Científico da ABDC – Academia Brasileira de Direito Civil e associado ao IAMG – Instituto dos Advogados de Minas Gerais. Foi presidente da Comissão de Direito Civil da OAB/MG. Apresentador do podcast “O direito ao Avesso”.

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