A vereadora de Uberlândia, Dandara Tonantzin (PT), sofreu ataques racistas nas redes sociais e registrou um boletim de ocorrência nessa quarta-feira (7). A parlamentar mais votada da cidade do Triângulo Mineiro diz em entrevista ao BHAZ que o sentimento é de “impotência” e de que é preciso “muita luta”.
Os ataques começaram pelas redes sociais do parlamentar Cristiano Caporezzo (Patriota) com quem Dandara discordou sobre a atuação do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na pandemia de Covid-19. “Falei sobre vacina, propina e ele defendeu o presidente. Foi um debate do jogo democrático”, diz.
O parlamentar do Patriota postou um trecho da fala de Dandara e a resposta dada por ele à vereadora. Nos comentários da publicação, duas pessoas atacaram a parlamentar petista. “Recebemos comentários racistas e um deles foi: ‘Que preguiça desse povo encardido'”.
“Um outro me chamava de macumbeira, mãe de santo num tom depreciativo, como se estivesse me diminuindo: ‘Não sabia que tinha isso ai na Câmara'”, relata Dandara.
Tristeza
Diante dos ataques recebidos, Dandara diz ter ficado muito assustada, pois vieram de perfis verdadeiros. “Fiquei muito assustada. Já sofri outros ataques, mas de perfis falsos. As pessoas estão se sentindo autorizadas a destilar o ódio e preconceito. Me assustou a coragem dos racistas pensarem que nada vai acontecer, ou seja, confiando na impunidade”.
Casos como este, segundo a vereadora, reforçam a necessidade da luta continuar, mas, ao mesmo tempo, deixa um “sentimento de impotência”.
“Confesso que me sinto muito impotente às vezes. Por mais que a gente lute, que o povo negro resista, parece que o racismo nunca vai ter fim. Se eu que sou uma parlamentar passei por isso, imagina o que as minhas vizinhas, que são empregadas domésticas, passam todos os dias”.
Ocorrência
Dandara registrou um boletim de ocorrência. A vereadora, juntamente com a assessoria, conseguiu identificar os perfis de onde vieram os ataques: uma corretora de imóveis, que acabou demitida, e um músico da cidade. O caso está sendo investigado pela Polícia Civil.
“Fizemos representação criminal dos dois. Com a corretora nós colocamos racismo, pois se treta de discriminação coletiva e não somente contra uma pessoa. Quando ela disse ‘povo encardido’, fala do povo negro em geral. O músico representamos contra injúria, pois ataca com racismo religioso”, explica a parlamentar.
A Polícia Civil informou ao BHAZ que “um inquérito policial foi instaurado para apurar as circunstâncias, motivo e autoria do crime”. “A PCMG apura a provável ocorrência dos crimes de injúria racial e racismo. A investigação tramita na 1ª Delegacia de Polícia Civil em Uberlândia”.
A corporação esclareceu que mais detalhes vão ser repassados “em momento oportuno”.
Nota da Polícia Civil
“A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) informa que a vítima, de 27 anos, registrou a ocorrência nesta quarta-feira (7), em Uberlândia. Um inquérito policial foi instaurado para apurar as circunstâncias, motivo e autoria do crime. A PCMG apura a provável ocorrência dos crimes de injúria racial e racismo. A investigação tramita na 1ª Delegacia de Polícia Civil em Uberlândia. Outros detalhes serão repassados em momento oportuno”.