Vizinha se mobiliza e cria corrente do bem para ajudar mulher que teve casa incendiada pelo ex em BH

casa incendiada pelo ex
No momento em que o ex entrou na casa, Rosângela estava dormindo na casa da mãe, embaixo da sua (Arquivo Pessoal/Rosângela da Paixão)

Boa parte das mulheres brasileiras sofrem com violências praticadas dentro de casa, muitas vezes pelos próprios companheiros ou ex-companheiros. Esta triste realidade é comprovada pelo Fórum Brasileiro de Segurança – que mostrou, em pesquisa feita neste ano, que 48,8% dos casos de violência contra a mulher são cometidos dentro de casa – e confirmada em casos como o de Rosângela Antônia da Paixão, moradora de BH que por pouco não perdeu a vida no último sábado (11). Após um ataque do ex-companheiro, ela acabou ganhando a ajuda de uma corrente de solidariedade.

Por não aceitar o fim do relacionamento, o ex-marido de Rosângela esteve na casa dela – localizada no bairro Novo Aarão Reis, na região Norte de Belo Horizonte – e incendiou vários móveis. Segundo o registro policial, antes de provocar o incêndio, ele chegou a ameaçar a mulher, de 43 anos, com uma faca por acreditar que ela estava com outro homem no local.

O incêndio logo se alastrou por todo o imóvel e o autor fugiu pelos fundos. E enquanto a casa pegava fogo, Rosângela assistia, do lado de fora, sem acreditar no que estava acontecendo. Em conversa com o BHAZ, ela contou que se separou do ex-marido há cerca de seis meses e que até hoje ele não aceitou o término. No momento do incêndio, felizmente, ela estava dormindo na casa da mãe, que fica embaixo da sua.

“A minha casa estava vazia, e a minha sorte foi essa. Todo o apoio agora está sendo muito importante. Preciso muito de ajuda pra reconstruir a minha casa, os móveis eu vou conquistando aos poucos. Com um colchão e um fogão dá pra eu sobreviver tranquilo, eu durmo no chão até Deus me abençoar”, disse.

Segundo a Defesa Civil de Belo Horizonte, que realizou uma vistoria no local, o incêndio atingiu a cozinha, os quartos e a sala gerando danos na parte elétrica e hidráulica, além de queda de parte do telhado e rachaduras nas paredes. O local precisou ser interditado e Rosângela foi orientada a providenciar os reparos necessários.

Corrente de solidariedade

Com o objetivo de ajudar Rosângela a reerguer sua casa, Ivone Nicolão, vizinha da mulher, criou uma vaquinha online para arrecadar o valor necessário para a compra do material de construção. Até o momento, já foram doados R$ 1.290.

Além do apoio financeiro, Ivone também oferece, em um espaço da comunidade, apoio psicológico a Rosângela e outras 42 mulheres vítimas de violência. Se trata do Instituto da Mulher Amada, que oferece atividades que fomentam amor próprio, autoestima e a independência financeira.

“Esse grupo acolhe todas as mulheres da comunidade. A cada dia a gente tem uma demanda diferente, pois a cada dia é uma violência nova. A gente percebeu que a demanda delas era mais uma demanda psicológica, mas também conseguimos nesse ano uma máquina de fabricar chinelos e, a partir disso, a gente trabalha também o empoderamento feminino, já que muitas delas não trabalham e dependem do agressor”, conta.

Grupo de ajuda à mulheres

Ivone Nicolão tem 43 anos, é agente comunitária da PBH (Prefeitura de Belo Horizonte) e também já foi vítima de uma relação abusiva. Dos traumas, ainda presentes em sua vida, ela carrega uma incessante vontade de oferecer ajuda àquelas que ainda vivem essa triste realidade.

“Eu tive um relacionamento de 22 anos. Durante dois anos foram só flores, mas o restante foi só violência psicológica o tempo todo. Hoje eu penso que se eu tivesse alguém naquela época que tivesse me ajudado, quem sabe eu não estaria melhor? Então eu me vi na obrigação de ajudar mulheres daqui da comunidade que enfrentam o mesmo problema”, conta ao BHAZ.

E a voluntária parece ter alcançado o seu objetivo. Hoje, o projeto atende 43 mulheres em situação de vulnerabilidade e, quase diariamente, elas se reúnem para conversar sobre as suas cicatrizes.

“Já tiveram mulheres que a gente conseguiu abrigar, com muito custo. A partir disso elas saíram dessa situação de abuso, se fortaleceram e hoje elas têm clareza pra falar das dificuldades que tiveram, o que no momento é muito difícil de falar”, explica.

Encontro das mulheres atendidas peloInstituto da Mulher Amada, no bairro Novo Aarão Reis (Ivone Nicolão/Arquivo Pessoal)

Saiba como ajudar

Além da vaquinha online que foi criada por Ivone e outros moradores do bairro Novo Aarão Reis, Rosângela também está recebendo doações financeiras através de sua conta bancária. Para contribuir com depósitos ou transferências, os dados são os seguintes:

Caixa Econômica Federal/Rosângela Antônia da Paixão

Agência: 2101

Conta Poupança: 79774393

Edição: Giovanna Fávero
Larissa Reis[email protected]

Graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2021. Vencedora do 13° Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão, idealizado pelo Instituto Vladimir Herzog. Também participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.

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