Kalil descarta ensino a distância na rede municipal: ‘No Cabana vão fazer o quê?’

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Volta às aulas em BH ainda não tem qualquer previsão (FOTO ILUSTRATIVA: Amanda Dias/BHAZ)

Em meio a incertezas que rondam o ensino durante – ou mesmo pós – pandemia, uma alternativa está completamente descartada na rede pública municipal de Belo Horizonte: a educação a distância. Em entrevista exclusiva ao BHAZ, o prefeito Alexandre Kalil (PSD) classificou a modalidade como “piada de mau gosto”.

“Isso é uma piada, né, gente. Isso é quem nunca visitou Belo Horizonte, nunca andou. Apesar da gente estar incrementando Wi-Fis na periferia, isso aí é desconhecer a pobreza total. Isso é uma piada de mau gosto. Você dar aula pra… você vai fazer a… isso me cansa, sô. O que sai da lógica me cansa”, respondeu o prefeito da capital mineira.

“A distância pra Savassi, pra Lourdes, pra Gutierrez… E lá no Cabana [do Pai Tomás, na região Oeste de BH] eles vão fazer o quê? Lá no São Tomás [região Norte]? Então isso é desumano, falar um negócio desses é desumano”, complementou, ao reforçar que o ensino a distância aumentaria a desigualdade social.

Sem previsão

Além de descartar a possibilidade de realizar aulas virtuais – como, por exemplo, a rede estadual de ensino tem feito (leia mais aqui) -, Kalil rejeita qualquer possibilidade de projetar alguma data-limite para a volta das aulas presenciais.

“Primeiro que temos escolas infantil e fundamental. Então isso muda um pouco, são creches e fundamental. Que pai que vai mandar alguma criança para a escola? ‘Ah, mas quando vai voltar?’ Não sou astrólogo, não sou astrólogo… Como vou te responder? Vai voltar no dia que o pessoal falar: ‘chegou a hora de voltar, agora pode abrir, vamos voltar assim, assim, assim, nesse protocolo assim'”, afirma.

A secretaria municipal de Educação segue a linha do prefeito ao dizer que “não é o momento de pensarmos na conversão de atividades remotas em eventuais dias letivos”. “É um momento de avaliar a garantia do acesso, do acolhimento, da inclusão e do engajamento das crianças e suas famílias, no retorno às atividades escolares. Estamos dialogando sobre estas possibilidades que estão sendo testadas em forma de pilotos, agora, com todos os professores”, diz, por nota (leia na íntegra abaixo). 

“O programa implementado não está focado em cumprimento de calendário, mas na reconstrução de metodologias e práticas pedagógicas no contexto da pandemia e suas consequências para a sociedade e a sua relação com o conhecimento e a escola”, finaliza.

Apoio de professores 

Procurado, o sindicato que representa os professores da rede pública municipal da cidade concorda com Kalil e a política adotada pela secretaria de Educação. “Fizemos um seminário de quatro dias com a categoria para justamente discutir alternativas para esse momento. Não temos acordo com a modalidade ensino a distância por vários motivos – um deles é o apresentado pelo Kalil, a exclusão. E o outro é que a transferência da escola para a casa tem muitos problemas”, afirma Vanessa Portugal, diretora licenciada do Sind-Rede BH.

“Entre esses problemas, posso citar, por exemplo, um caso: uma mãe precisou ir à escola no meio da pandemia porque não conseguia ajudar o filho com algumas questões. Ela é analfabeta. Além disso, plataformas para disseminar um conteúdo a distância têm donos. E entendemos que os agentes da construção da proposta educacional são os trabalhadores da educação e gente indicada pela comunidade escolar. Não somos monitores de plataforma”, diz Portugal.

Na visão da educadora, é cedo para falar em projeção da volta às aulas. “Precoce determinar uma data, não adianta fingir que está fazendo alguma coisa. Primeiro: faça alguma coisa para quem, se não é para todos, é para quem? Não adianta fingir que está trabalhando conteúdo com aluno, quando na prática não está”, conclui.

Kalil

O BHAZ realizou entrevista exclusiva com o prefeito Alexandre Kalil nessa terça-feira (30) e tratou de assuntos como coronavírus, transporte público, reeleição, futebol, entre outros. O conteúdo será publicado ao longo dos próximos dias. Confira o que já está no ar:

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Nota da secretaria municipal de Educação na íntegra

“A Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Secretaria Municipal de Educação, publicou, no Diário oficial do Município, edição do último dia 16/6,  uma Portaria convocando  os professores da Rede Municipal de Educação para retorno aos trabalhos, de forma remota.  

Cada professor,  por  meio de suas redes sociais, plataformas ou outros meios tecnológicos, irá gerar conteúdos sobre o Covid-19 e preparar os alunos e seus familiares para o novo contexto escolar. 

É um momento de avaliar a garantia do acesso, do acolhimento, da inclusão e do engajamento das crianças e suas famílias, no retorno às atividades escolares.

Estamos dialogando sobre estas possibilidades que estão sendo testadas em forma de pilotos, agora,  com todos os professores. 

Estão sendo feitas apresentações destes modelos e discussões virtuais coletivas sobre a aplicabilidade das técnicas e vivências  desenvolvidas em cada escola. Cada professor escolhe as melhores maneiras de estabelecer uma nova rotina educacional com seus alunos.

Para isso, as turmas são divididas em agrupamentos menores de modo que o professor tenha condições de orientar seu grupo de maneira muito próxima das famílias e alunos. 

Quanto à reorganização do calendário, ainda não é o momento de pensarmos na conversão de atividades remotas em eventuais dias letivos. 

O programa implementado não está focado em cumprimento de calendário, mas na reconstrução de metodologias e práticas pedagógicas no contexto da pandemia e suas consequências para a sociedade e a sua relação com o conhecimento e a escola”. 

Thiago Ricci[email protected]

Editor-executivo do BHAZ desde agosto de 2018, cargo ocupado também entre 2016 e 2017. Jornalista pós-graduado em Jornalismo Investigativo, pela Abraji/ESPM. Editor-chefe do SouBH entre 2017 e 2018; correspondente do jornal O Globo em Minas Gerais, entre 2014 e 2015, durante as eleições presidenciais; com passagens pelos jornais Hoje em Dia e Metro, TVs Record e Band, além da rádio UFMG Educativa, portal Terra e ONG Oficina de Imagens. Teve reportagens agraciadas pelos prêmios CDL, Délio Rocha, Adep-MG e Sindibel.

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