Zema não assina nova carta a Bolsonaro, que ironiza compra de vacina

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Bolsonaro xingou de ‘idiota’ quem pede pela compra de vacinas (Reprodução/Redes sociais)

Governadores de 14 estados brasileiros enviaram uma nova carta a Jair Bolsonaro (sem partido) pedindo para que o governo federal tome providências e procure órgãos internacionais para a compra de mais vacinas contra a Covid-19. O apelo feito nesta quarta-feira (4), após o recorde de mortes causadas pelo coronavírus, não teve a adesão do mineiro Romeu Zema (Novo). Em visita a Uberlândia, ontem, Bolsonaro ironizou os pedidos por mais imunizantes: “Só se for na casa da tua mãe”.

Na carta, os governadores disseram que estão no “limite de suas forças e possibilidades”. Além disso, pontuaram que a vacinação em massa “é a alternativa que se afigura como a mais recomendável, e, provavelmente, a única capaz de deter a pandemia”. “Percebemos que é preciso agilizar mecanismos de compra, explorar e concretizar todos os meios de aquisição disponíveis, para vacinar, no menor espaço de tempo possível, a maior quantidade de brasileiros. Se não tivermos pressa, o futuro não nos julgará com benevolência”.

“Neste momento, há novas, reais e importantes justificativas para que o Brasil obtenha, com celeridade, novas remessas de imunizantes, a principal delas é a chegada e a rápida disseminação, já no estágio de transmissão comunitária, da nova variante P1, que tem se revelado ainda mais letal, prejudicando os esforços para proteger a vida de nossas cidadãs e cidadãos, bem como de suas famílias”, acrescentaram os governadores.

Os chefes de estado também demonstraram apreensão com a disseminação da nova variante do coronavírus. “O mundo acompanha com preocupação o rápido avanço do contágio por essa variante no Brasil, o que torna o bloqueio da disseminação desse tipo de vírus matéria de interesse de diversas nações, inclusive porque outras variantes podem dela advir”, afirma a carta (leia na íntegra abaixo).

O que diz o Governo de Minas

Procurada sobre a abstenção de Zema, a assessoria do Governo de Minas mandou o mesmo posicionamento quando questionada sobre a não assinatura do gestor em outro movimento de governadores (relembre aqui). Por nota, Zema disse que “acredita que o momento é de união em torno de soluções no combate à pandemia, com a aceleração do processo de vacinação e o financiamento dos leitos de UTI. Ainda segundo o governador, embates políticos devem ficar em segundo plano, com foco na solução de problemas”.

Uma outra informação passada é a de que Zema foi até Brasília para pedir a compra de mais imunizantes. “O governador Romeu Zema, junto ao secretário de Saúde Carlos Eduardo Amaral, teve agendas com o presidente Jair Bolsonaro, ministro Eduardo Pazuello, presidente da Câmara, Arthur Lira, em Brasília, na última terça-feira, para solicitar a compra de mais vacinas, a fim de ampliar a vacinação em Minas Gerais”.

‘Na casa da tua mãe’

Ontem (4), no período da tarde, Bolsonaro fez uma visita a Uberlândia, região do Triângulo Mineiro, e aproveitou para ironizar o pedido por mais vacinas. O presidente do Brasil chamou de “idiota” as pessoas que pedem para que o governo adquira mais imunizantes, e seus apoiadores riram e o aplaudiram. Segundo Jair Bolsonaro, no ano passado, ele editou três medidas provisórias destinando dinheiro para a compra de vacinas.

“Tem idiota que a gente vê nas redes sociais, na imprensa, falando ‘vai comprar vacina’… Só se for na casa da tua mãe. Não tem para vender no mundo. Nós somos os poucos países que fabricam vacina no mundo. Este mês, no mínimo, 22 milhões de vacinas serão entregues à população. Alguns poucos governadores queriam o direito de comprar a vacina, se eles comprassem quem iria pagar? Eu”, declarou o presidente. Ele disse, ainda, que o ministro Eduardo Pazuello assinou, na quarta-feira (3), um contrato para a compra de imunizantes da Pfizer

Carta dos governadores na íntegra

CARTA AO PRESIDENTE DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL

Os Governadores dos Estados abaixo assinados solicitam ao Presidente da República Federativa do Brasil imediata adoção das providências necessárias a fim de viabilizar a obtenção – junto a entidades estrangeiras e organismos internacionais – de novas doses de imunizantes contra a Covid19, de modo a auxiliar no controle do aumento exponencial dos casos de infecção e do número de óbitos pelo coronavírus, conforme observado nos últimos dias em todo o território nacional.

Os Entes Federados têm envidado todos os seus esforços, mas estão no limite de suas forças e possibilidades. Nos últimos meses, instalaram milhares de novas vagas em Unidades de Terapia Intensiva, contrataram profissionais de saúde de diversas áreas e viabilizaram a compra de equipamentos, além de investirem em medidas como o distanciamento social e a orientação da população por meio de estratégias claras de comunicação.

Esse conjunto de ações, ainda que indispensável, demonstra estar próximo do exaurimento. Ninguém discorda de que, nas próximas semanas, talvez meses, a pandemia seguirá ceifando vidas, ameaçando, desafiando e entristecendo todos nós.

Nesse contexto, a vacinação em massa, com a maior brevidade possível, é a alternativa que se afigura como a mais recomendável, e, provavelmente, a única capaz de deter a pandemia, permitindo que o Brasil, seus Estados e Municípios, aos poucos, possa retornar à normalidade, com as devidas medidas sanitárias e econômicas.

Reconhecemos que, neste grave momento, há no mundo uma extraordinária procura por vacinas, junto a diferentes fornecedores. Acompanhamos o anúncio de novas aquisições pelo Ministério da Saúde, mas também percebemos que é preciso agilizar mecanismos de compra, explorar e concretizar todos os meios de aquisição disponíveis, para vacinar, no menor espaço de tempo possível, a maior quantidade de brasileiros. Se não tivermos pressa, o futuro não nos julgará com benevolência.

Por isso, pedimos ao Governo Federal, especialmente por meio dos Ministérios da Saúde e das Relações Exteriores, esforço ainda maior para obter, em curto prazo, número consideravelmente superior de doses. Caso seja possível, sugerimos também o requerimento de apoio e intermediação da Organização Mundial da Saúde.

Neste momento, há novas, reais e importantes justificativas para que o Brasil obtenha, com celeridade, novas remessas de imunizantes, a principal delas é a chegada e a rápida disseminação, já no estágio de transmissão comunitária, da nova variante P1, que tem se revelado ainda mais letal, prejudicando os esforços para proteger a vida de nossas cidadãs e cidadãos, bem como de suas famílias.

O mundo acompanha com preocupação o rápido avanço do contágio por essa variante no Brasil, o que torna o bloqueio da disseminação desse tipo de vírus matéria de interesse de diversas nações, inclusive porque outras variantes podem dela advir.

O percentual de vacinas aplicado no Brasil, a despeito do empenho de Governadores, Prefeitos e profissionais da saúde em todo o País, ainda é muito baixo e, no ritmo atual, infelizmente, atravessaremos o ano lamentando a irreparável perda de vidas, além da baixa expectativa de imunizar efetivamente todos os grupos prioritários. Os exemplos cada vez mais bem-sucedidos de países que estão contendo a pandemia por meio da vacinação, combinada com outras práticas de prevenção e higiene, não remete a outro caminho que não seja o esforço político e diplomático de todos – liderado no plano das relações internacionais pelo Governo brasileiro – a fim de garantir, desde logo, novos carregamentos de vacinas.

Esses imunizantes são hoje para o Brasil e para os brasileiros muito mais do que uma alternativa ou medicamento: representam a própria esperança da população e, nesse sentido, nenhum governante pode correr o risco de não esgotar todas as possibilidades ou de procrastinar ações e procedimentos. Cada minuto, cada hora e cada dia são preciosos e decisivos, e constituem a triste diferença entre viver ou morrer.

Por fim, os Governadores que subscrevem este documento estão, como sempre estiveram, à disposição para colaborar para a consecução das medidas propostas, e confiam que o Governo Federal pode acelerar os procedimentos necessários – utilizando a importância geopolítica, histórica e econômica do Brasil – à obtenção de novos aportes de imunizantes para a população brasileira.

Brasília, 4 de março de 2021.

RENAN FILHO

Governador do Estado de Alagoas

WALDEZ GOÉS

Governador do Estado do Amapá

RUI COSTA

Governador do Estado da Bahia

CAMILO SANTANA

Governador do Estado do Ceará

RENATO CASAGRANDE

Governador do Estado do Espírito Santo

FLÁVIO DINO

Governador do Estado do Maranhão

MAURO MENDES

Governador do Estado de Mato Grosso

HELDER BARBALHO

Governador do Estado do Pará

JOÃO AZÊVEDO

Governador do Estado da Paraíba

PAULO CÂMARA

Governador do Estado de Pernambuco

WELLINGTON DIAS

Governador do Estado do Piauí

FÁTIMA BEZERRA

Governadora do Estado Rio Grande do Norte

EDUARDO LEITE

Governador do Estado do Rio Grande do Sul

BELIVALDO CHAGAS

Governador do Estado de Sergipe

Edição: Thiago Ricci
Andreza Miranda[email protected]

Graduada em Jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2020. Participou de duas reportagens premiadas pela CDL/BH (2021 e 2022); de reportagem do projeto MonitorA, vencedor do Prêmio Cláudio Weber Abramo (2021); e de duas reportagens premiadas pelo Sebrae Minas (2021 e 2023).

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