Zema faz política ao ignorar ação de governadores para não melindrar Bolsonaro

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Bolsonaro e Zema se cumprimentam em solenidade no fim de 2019, antes da pandemia (Marcos Corrêa/PR)

“Cada minuto, cada hora e cada dia são preciosos e decisivos, e constituem a triste diferença entre viver ou morrer”. Esse é o trecho mais dramático da carta de 14 dos 27 governadores enviaram, na quinta (4), ao presidente da República e ao Ministério da Saúde. Um texto que não tem “choradeira ou mimimi”, como rebate Bolsonaro, quando alguém lhe cobra vacina, mas um apelo dramático pela vida. Quase um pedido de socorro em favor da priorização de medidas e vacinas para combater o mal maior (a Covid-19).

Nem por isso, o governador Romeu Zema (Novo) se dispôs a assiná-la. Por quê? Porque está fazendo política, aquela velha que ele tanto criticou quando era candidato. E ainda criticou os que assinaram o documento, que, segundo ele, incentivarem o “embate político” em meio à pandemia. Ao contrário do que disse, os governadores pediram, cautelosamente, empenho e apoio do governo Bolsonaro para combater e conter a nova e galopante onda da pandemia. Não houve uma crítica política sequer por parte deles.

Está pensando em se reeleger

Quando assim age, o governador mineiro está fazendo a sua política de aliança com Bolsonaro pensando nas eleições do ano que vem. Quando espera contar, de novo, com o apoio dele, e quando trocarão apoio para se manterem no poder. Isso, sim, é fazer política, pequena, é bom que se diga, nesse momento de riscos e mortes dos cidadãos. Evitar as mortes é o verdadeiro embate político, administrativo e econômico, social e humano pelo qual deveria esmerar.

Os mineiros estão correndo igualmente o mesmo risco de outros brasileiros. Na mesma quinta, a Assembleia Legislativa de Minas aprovou a extensão da calamidade pública de quase 100 municípios porque a situação está se agravando pelo interior mineiro. O Plano Minas Consciente não está se mostrando eficiente, conforme o slogan do governo mineiro. Ao contrário, muitas cidades que ficaram nas ondas amarelas e verdes, não se cuidaram nem fizeram o dever de casa. Agora, estão entrando em colapso da onda vermelha para uma nova cor, a roxa do lockdown, do luto, da morte e do desespero.

Iniciativa por coordenação nacional

Agora, os governadores articulam anunciar medidas restritivas em conjunto contra avanço da Covid-19. Até o momento, 21 estados já confirmaram que participarão do movimento diante de ausência de uma articulação nacional.

Eles concordaram em divulgar ações que sirvam até o dia 14 de março, período no qual o país atravessa o pior momento da pandemia, reafirmado pelo alto número de mortos. Desta vez, Minas deverá participar.

Com mais mortos, Bolsonaro fica mais Bolsonaro

Para onde a gente vai? Perguntou o presidente Bolsonaro quando criticou medidas restritivas adotadas por governadores e prefeitos para combater a pandemia. Ele fez a pergunta que um presidente da República, responsável e dedicado à população, deveria dar a resposta. Até porque a realidade ‘grita’ todos os dias que estamos indo numa marcha macabra, caso não seja feito algo mais sério.

Até que a vacinação seja plena e em massa, o país requer um plano de comunicação para ampliar a conscientização pelo uso de máscaras, distanciamento social e uso do álcool em gel. Caso contrário, sem vacinação plena e em massa, teremos mortes em massa, como aliás, 2021 registra desde seu início. Em 60 dias, tivemos 42 deles com mais de mil mortes por Covid e suas complicações a cada dia.

Questão de responsabilidade

Em 25 de fevereiro, quebrou-se o recorde de 2020 pela primeira vez, com 1.582 mortes; na terça passada (2), 1.726; na quarta (3), 1.840. Bolsonaro parece ter feito pacto com a morte. Quanto mais elas aumentam mais ele fica insensível e intolerante com a população que deveria proteger e para qual deveria governar. Chama de “mimimi” e “frescura” quem pede vacinas e controle da pandemia. E ainda culpa a imprensa por registrar a cada dia o aumento de infectados pela Covid e suas variantes.

Não é uma questão de ficar chorando ou lamentando as mortes, o que qualquer ser humano faria e está fazendo diante das mortes que seriam evitáveis. A questão que se coloca é de uma ação administrativa emergencial, deixando a política para depois, para aqueles que sobreviverem e fizeram o dever de casa de acordo com suas responsabilidades.

Orion Teixeira[email protected]

Jornalista político, Orion Teixeira recorre à sua experiência, que inclui seis eleições presidenciais, seis estaduais e seis eleições municipais, e à cobertura do dia a dia para contar o que pensam e fazem os políticos, como agem, por que e pra quem.

É também autor do blog que leva seu nome (www.blogdoorion.com.br), comentarista político da TV Band Minas e da rádio Band News BH e apresentador do programa Pensamento Jurídico das TVs Justiça e Comunitária.

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