Na mesma sentença que determinou a prisão de Eduardo Cunha, expedida na manhã desta quinta-feira (30), o juiz Sérgio Moro alegou que o ex-deputado tentou “intimidar e constranger” o presidente interino Michel Temer (PMDB) para sair da prisão. O juiz usou o argumento para reforçar a prisão decretada hoje.
De acordo com o magistrado, Cunha utilizava o processo em que era réu para envolver terceiros. Ele fazia isso por meio das perguntas feitas por sua defesa. Desta forma, o político apresentou vários quesitos dirigidos ao presidente “que nada diziam respeito ao caso concreto”, diz o juiz.
Moro acrescentou que o ex-deputado fez isso para tentar sair da prisão preventiva. “Cunha esperava provocar alguma espécie de intervenção indevida da parte dele (Temer) em seu favor. Porém, sem sucesso”, afirma o magistrado.
Recorrente
De acordo com trechos da decisão, a ação de Cunha já havia sido apontada pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Teori Zavascki, morto em acidente aéreo em janeiro deste ano. Porém, nem mesmo a prisão preventiva o impediu de prosseguir com o modus operandi de extorsão, ameaça e intimidação.
Segundo Moro, Zavascki já adiantava a atuação direta ou com a utilização de terceiros, inclusive de outros parlamentares federais para extorquir e intimidar empresários e terceiros. “Desta forma, ele tentava para obter vantagem indevida, para pressionar ou retaliar testemunhas, inclusive colaboradores na Operação Lavajato. Até mesmo advogados de testemunhas ou de colaboradores”, diz a decisão.
Por fim, o juiz ressaltou que não há qualquer registro de que Michel Temer tenha cedido a tentativa de intimidação de Cunha. “Igualmente, não pode o Judiciário ceder a qualquer tentativa de chantagem”, diz Moro.