Abertura da semana da Consciência Negra tem feira, shows, culinária e dança em BH

Nesta segunda-feira, 20 de novembro, comemora-se o Dia da Consciência Negra. A data é tão importante que leva para as ruas do Brasil comemorações que duram uma semana. O objetivo? Uma reflexão sobre a introdução dos negros na sociedade brasileira.

Neste domingo (19), o Barreiro recebeu a “Mostra Afro Barreiro Alforriado Matias​”, parte da programação especial que deve movimentar a capital.

Buscando promover a produção negra, a mostra reuniu música, com apresentações de rap, dança com a presença do grupo Soul, artesanato, culinária e diversas oficinas, como a de penteados.

Pedagoga e cabeleireira, Rita sempre se envolve com projetos de valorização dos negros.

Rita Cupertino é pedagoga e também cabeleireira. Em sala de aula, ensina aos alunos (maioria negra) a importância do empoderamento de cada um deles. Fora das salas, atua no salão Bela Afro “ensinando a trabalhar a questão do cabelo,  a consciência através do movimento negro”, como explica.

Rita aproveitou a experiência na Mostra Afro para ensinar aos interessados como montar penteados com turbante e como fazer tranças.  “Todas as minhas atuações são dentro desse objetivo de trazer a beleza e a valorização do negro para uma realidade ainda sem protagonismo”.

Alecsandra Martins produz brincos com material reciclado e bambu.

O objetivo é o mesmo de Alecsandra Martins que além de contadora é artesã e produz brincos afro. “São produtos feitos com material reciclado (caixinha de leite e CD’s), revestido em capulana  (tecido africano), e também brincos de bambu. A oportunidade de estar aqui, ter espaço, podendo trazer meu trabalho, é gratificante”.

Já o produtor cultural do evento, Marlon Andreata, diz que atividades assim são extremamente importantes para conscientizar as pessoas, independente da idade. Ele lembra o caso do ex-escravo e homenageado da mostra, o Alforriado Matias, ao contar que “um senhor, escravo de 60 anos se assumiu negro e buscou seu espaço. Quantos de nós também podemos e devemos fazer isso? É momento de empoderamento, lucidez”.

Marlon Andreata é produtor cultural e considera essencial esse tipo de eventos para a cidade.

Ainda segundo o produtor, os movimentos de valorização da cultura e da população negra tem crescido no país e em Belo Horizonte. “Quanto mais representatividade, melhor. Ainda existe muitas pessoas que não se enxergam pertencentes a nenhum espaço, e precisam ser acessadas por movimentos que trazem a importância da história negra”.

Sobre​ ​Alforriado​ ​Matias

Chamada anteriormente de Vargem Grande, a grande fazenda do Barreiro era administrada pelo escravocrata Major Cândido Brochado e mantinha muitos escravos. Foi quando surgiu a figura do Alforriado Matias, que ao ser contemplado pela lei do sexagenários (Lei 3.270 de 28 de setembro de 1885), tendo mais de 60 anos, teve seu direito de liberdade negado. Ele também foi vendido a outro senhor e o serviu por décadas.

Matias jurou vingança ao senhor de engenho e durante um período ficou em cativeiro sendo alimentado e informado do paradeiro do Major. Ao saber da viagem de Brochado para Freitas, hoje região da Pampulha, fez justiça com as próprias mãos, culminando um processo que pode ter mudado o rumo da história do Barreiro.

“História de um negro corajoso que trocou sua liberdade pela chance de representar todos ali” comenta Marlon.

O alforriado Matias foi um negro, escravo, que residiu na região do Barreiro e se tornou símbolo de luta.

Macuinaíma

Rodrigo Zacarias é estudante e presidente do Instituto Macunaíma, responsável pela produção da Mostra Afro Barreiro. O Instituto surgiu há cerca de 8 meses e foi construído por artistas e professores do Barreiro que já possuem algum tempo de militância na região, como explica Rodrigo.

Rodrigo é presidente do Instituto Macunaíma, que teve como inspiração pro nome, o livro de Mario de Andrade.

“O Barreiro é um bairro de 130 mil habitantes e tem uma multicultura. Tem imigrantes italianos, alemães,  suecos, etc. E o nome Macunaíma foi tirado do livro de Mário de Andrade, que faz menção de toda cultura brasileira”.

Para saber mais sobre o Instituto  basta acessar aqui o Facebook deles.

A data

O dia 20 de Novembro foi escolhido como uma homenagem a Zumbi dos Palmares, data na qual morre, lutando pela liberdade do seu povo no Brasil, em 1695.

Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares, foi um personagem que dedicou a sua vida lutando contra a escravatura no período do Brasil Colonial, onde os escravos começaram a ser introduzidos por volta de 1594.

Nos quilombos, os negros se organizavam contra as doutrinas escravistas e também reuniam-se para conservar elementos da cultura africana no Brasil.

Para Rodrigo Zacarias, as reflexões provocadas pela semana da Consciência Negra deveriam ocorrer todos os dias. “O negro é negro todo dia, ele sofre todo dia. Então isso tem que ser implantado todos os dias,  lembrado todos os dias. Esse projeto abre espaço para outros projetos que vão além”, diz.

Eliza Dinah

Jornalista e redatora do portal Bhaz

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