O vereador Jair di Gregório (PP) é o responsável pelo engavetamento de requerimento para que a Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH) investigue denúncias de irregularidades envolvendo o Mídia Ônibus, o sistema que gerencia a venda de espaços publicitários nas traseiras dos ônibus de Belo Horizonte.
A denúncia envolvendo o Mídia Ônibus foi levantada em janeiro deste ano pelo Bhaz. De acordo com a reportagem, a Empresa de Transporte e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans), que era responsável pelo Midia Ônibus, transferiu sua operação para o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (SetraBH), sem licitação. Inclusive, o Ministério Público questiona a transferência e cobra a realização da licitação para que a BHTrans volte a operar o Mídia Ônibus.
Na época, após a divulgação da polêmica, o vereador Pedro Patrus (PT), presidente da Comissão de Acompanhamento da Auditoria do Transporte Público Coletivo da Câmara Municipal de Belo Horizonte, prometeu solicitar a realização de uma audiência pública na CMBH para discutir a operação da Mídia Ônibus.
Entretanto, a proposta se tornou um imbróglio. Isto porque, o presidente da Comissão de Desenvolvimento Econômico, Transporte e Sistema Viário, Jair di Gregório, recusou, sem uma justificativa, o requerimento de Pedro Patrus para a abertura da investigação.
Pedro Patrus explicou ao Bhaz que acredita que a decisão de rejeitar a proposta seja seja de caráter pessoal, como mostra vídeo em que Jair di Gregório (PP) diz boicotar projetos de outros integrantes da Casa por motivações religiosas e pessoais. Veja:
Contatos infrutíferos
Desta forma, assim como outros assuntos ligados ao transporte na Capital, o tema continua emperrado na CMBH. O Bhaz entrou em contato com Jair di Gregório para entender a justificativa para a rejeição do requerimento e, novamente, esbarrou no silêncio, tal como tem ocorrido com as empresas de ônibus de BH nos recentes casos de acidentes ocorridos com ônibus da Capital.
Na última semana, o Bhaz esteve na Câmara Municipal para entrevistar Jair di Gregório. Na quinta-feira (1º), a reportagem foi informada que o vereador estava cumprindo agenda na cidade de Formiga, no interior do Estado.
Sua assessoria pediu, então, que fosse encaminhado e-mail solicitando a resposta do vereador, já que o mesmo, segundo alegou sua assessoria, “conversa com a imprensa somente por meio de notas”. Foram, então, encaminhadas as perguntas. Entretanto, até ontem, não foi possível obter retorno.
O Bhaz fez, então novo contato. Sua assessoria informou que o parlamentar não poderia atender, porque estava em reunião. Porém, outro vereador da Casa informou que, na verdade, Jair di Gregório estava “de prosa” com colegas nos corredores da Câmara.
Por fim, a reportagem conseguiu agendar entrevista com o vereador para a tarde da última terça-feira (6), às 17h. Em conversa, o mesmo afirmou ser uma pessoa de compromisso. Entretanto, minutos antes do horário acertado para a entrevista, uma de suas assessoras entrou em contato com a redação do Bhaz informando que o vereador não falaria. Desde então, não foi possível conseguir contato com Jair di Gregório nem o retorno de sua assessoria. Desta forma, o Mídia Ônibus da capital segue sem ser investigado.
Bhaz e população querem respostas
Sem as respostas do vereador, publicamos as perguntas a ele enviadas. Confira:
Por que o requerimento para a realização da audiência pública foi rejeitado? No despacho, não há, por parte do vereador, a justificativa para o cancelamento do evento.
Qual sua opinião sobre a polêmica envolvendo o Mídia Ônibus?
Na 6ª Reunião Ordinária, do dia 8/2, conforme mostra vídeo com a gravação da sessão (do minuto 28 em diante), o senhor disse que não aceita propostas que venham do vereador Pedro Patrus, por questões pessoas, tais como “a falta de Deus”. Qual a relação deste posicionamento com a rejeição do requerimento?
Em relação à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da BHTrans, porque o senhor, como presidente da Comissão de Desenvolvimento Econômico, Transporte e Sistema Viário, não assinou o requerimento para a abertura da investigação?
Em sua campanha, o senhor dizia ser um vereador que iria atuar em ‘defesa da família’. O senhor está sendo favorável à família belo-horizontina ao não contribuir para que se investigue uma denúncia de irregularidade no sistema de transporte?
Jair de Gregório envia respostas
Às 16h55, uma hora e dez minutos após a publicação da reportagem, o vereador Jair de Gregócio enviou suas respostas ao Bhaz, que seguem abaixo:
Por que o requerimento foi negado, já que no despacho de deliberação e convocação não há, por parte do vereador, a justificativa para o cancelamento do evento?
O requerimento foi negado porque a competência da matéria é da Comissão de Desenvolvimento Econômico, Transporte e Sistema Viário. A atribuição da Comissão de Direitos Humanos e Defesa do Consumidor, como consta no artigo 52, inciso VII, alínea J: ”j) política de transporte, abastecimento, armazenamento e distribuição dos alimentos.
Qual a sua opinião em relação à polêmica do Mídia Ônibus?
Essa polêmica deve ser investigada também na auditoria “Abertura da caixa preta da BHTrans”, na qual a Comissão de Desenvolvimento Econômico, Transporte e Sistema Viário e mais 3 vereadores acompanham a auditoria. O MP também move ação civil pública que questiona a BHTrans, o SetraBH e a Frontti Mídia.
Obtivemos acesso a um vídeo da 6ª Reunião Ordinária, gravado pelo portal da Câmara no dia 08/02/2018, em que o vereador declara não aceitar propostas que venham do Pedro Patrus (PT), por questões pessoas, tais como “a falta de Deus”:
Não há questão pessoal nesse caso. Apenas cumprimento do regimento interno.
Qual a relação deste posicionamento com a negativa do projeto? O senhor levou em consideração problema pessoal com o vereador na hora de rejeitar o requerimento?
Cumprimento do regimento interno.
Em relação a CPI, por que o senhor, como presidente da Comissão de Desenvolvimento Econômico, Transporte e Sistema Viário, não assinou a petição para abertura da ‘caixa-preta da BHTrans’?
Porque é uma CPI proposta com cunho pessoal, tanto que não conseguiram assinatura dos outros vereadores. E também porque a Comissão de Desenvolvimento Econômico, Transporte e Sistema Viário acompanha todo o processo de auditoria, juntamente com mais 3 vereadores: Álvaro Damião, Nely e Juliano Lopes.
Em sua campanha, o senhor dizia ser em ‘defesa da família’. O senhor acredita estar sendo favorável à família belo-horizontina ao não contribuir para que se investigue uma denúncia de irregularidade no sistema de transporte?
Não apenas digo, como tenho como bandeira em meu mandato a “Defesa da Família”. Basta verificar meus votos e proposições na casa. Estou contribuindo e fiscalizando como presidente da Comissão de Desenvolvimento Econômico, Transporte e Sistema Viário, assim como os demais integrantes da comissão. Somos a favor, sim, da investigação, inclusive estivemos presente na abertura dos envelopes da auditoria e verificação independente dos contratos das empresas do Serviço de Transporte Público Coletivo e Convencional de Passageiros por Ônibus do Município de Belo Horizonte. Criamos um grupo de parlamentares para acompanhar o andamento e os resultados da auditoria. Todos queremos a abertura da caixa preta da BHTrans.
Atualizado às 17h20, para inclusão das respostas enviadas pelo vereador Jair di Gregório.
