Áudio de professor da Una com falas machistas e racistas causa rebuliço no centro universitário

Reprodução/Google Street View

Um professor do Centro Universitário Una, de Contagem, foi alvo de diversas críticas por falas machistas e racistas em sala de aula. Em áudio, que foi divulgado nessa quarta-feira (22), o professor Fabiano Zica foi gravado durante sua aula de Filosofia do dia anterior, terça-feira. De acordo com alunos do professor e o próprio educador, o áudio foi tirado de contexto e não corresponde com a postura do docente. A Una, por sua vez, emitiu uma nota informando que repudia quaisquer tipos de discriminação.

O áudio, gravado e divulgado por uma pessoa não identificada, mostra opiniões machistas e racistas. “Não haveria escravidão se o negro não consentisse com ela, nunca teve nada a ver com cor”. O professor também comenta sobre o feminismo. “A 30 anos atrás, mulher não trabalhava e elas não saíam pela rua afora batendo em ninguém não, arrancando sutiã, tudo feiosa, né? […] Deus deu um castigo às feministas, cuidado viu, se a senhora se intitula como tal. Coloca ‘feminista’ no Google e vê lá que ‘muiezada’ horrorosa”.

“O mercado de trabalho valoriza características masculinas, homem não é ‘mimimi’. Preciso explicar isso não, né? A mulher é ‘mimimi’, via de regra. O homem homossexual ‘mimimi’ também não vai atingir cargos de gestão”. O professor continua e fala que o heterossexual não consegue atingir grandes cargos por causa de sua família, enquanto o homossexual, por não ter família, pode ir mais longe. “Quanto mais disponível, mais perto do dinheiro vocês está”.

Zica ainda questiona, pelos trechos divulgados, o feminicídio. “É um negócio absolutamente preconceituoso. Matar uma mulher é pior que matar outra pessoa?”. O áudio termina com o professor explicando que, no Brasil, os assassinos estão impunes. “O Brasil só prende 0,5% dos assassinatos, matar alguém vale a pena, pode matar alguém que a chance de ser preso é mínima”.

Muitas pessoas se manifestaram contra o professor. “Eu senti nojo, repulsa e muita vergonha de fazer parte dessa instituição ao assistir esse vídeo. Como aluno, eu exijo que a Una – Instituição de Ensino tome as devidas providências para que discursos de ódio como este fique longe das salas de aula. Professor Fabiano Zica, nós não vamos nos calar e nem retroceder, espero que depois dessa você repense duas, três, cinco vezes antes de destilar ódio”, relata João Marco, aluno de Publicidade e Propaganda da Una.

“Seguindo o raciocínio dele que que o maior dom da mulher é reproduzir… Uma mulher estéril não vale nada. É um lixo sem utilidade nenhuma. Ele foi machista e homofóbico. Tenho uma pergunta: em que contexto essas frases não seriam preconceituosas?”, conta a estudante Gabriela Lopes. O coletivo “Não Me Kahlo” divulgou, no início da noite, reprodução de supostas ameaças ao estudante que gravou e divulgou o áudio.

Defesa ao professor

Contudo, parte dos alunos de Fabiano Zica presentes na aula disseram que o áudio não condiz com a postura do professor e que foi gravado de forma maldosa. Além disso, iniciaram a campanha #SomosTodosZica, em apoio ao docente. “Estou triste pela injustiça que está acontecendo com meu excelente professor Fabiano Zica da Una! Um aluno gravou TRECHOS da aula dele sem o contexto todo, para no final prejudicar ele. Eu tive aula com ele (um dos melhores professores de direito que já tive) e sei o quanto é competente e ético”, comenta a estudante de Direito da Una, Raphaela Resende.

“Acho legal, quando fiz a leitura de alguns comentários sobre esse assunto, uma minoria chamando o professor de LGBTfóbico e querendo respeito, para termos respeito temos que aprender a respeitar! E usar parte de um áudio e sair falando mal da pessoa é falta de respeito!”, comenta Felipe Barbosa, ex-estudante da Una.

Um ato em apoio ao professor será feito na universidade nesta quinta-feira (23), às 20h30. Quase 100 pessoas estão previstas para comparecer. No mesmo momento, um ato contra o professor também será realizado no local. Para este, estão previstas aproximadamente 60 pessoas.

O Bhaz tentou contato com o professor, mas não foi atendido e não obteve retorno até o momento desta publicação. Através de uma postagem em seu Facebook pessoal, Fabiano Zica se manifestou. O docente explicou que “esta aula de 90 minutos foi resumida […] e, para serem pronunciadas não tomam mais que 2 minutos e que, se olhadas em separado, causam desconforto até a mim mesmo. Estas frases soltas e tiradas do contexto não refletem a minha opinião como ser humano e muito menos como professor”.

O professor ainda explica que “As frases citadas foram ditas dentro do contexto de hipóteses usadas para justificar como o preconceito é muitas vezes verbalizado e não como ponto de vista próprio”. Veja na íntegra:

O Bhaz entrou em contato com a Una, que emitiu uma nota sobre o ocorrido: “A Una não tolera qualquer tipo de discriminação em suas instalações e trabalha, diariamente, pela construção de espaços inclusivos e respeitosos para todas as pessoas. Apoiamos e nos orgulhamos de toda a diversidade que a Universidade abraça que, por sinal, se configura uma de suas principais características. Desta forma, vamos avaliar e apurar as denúncias recebidas e adotar as medidas cabíveis”.

Vitor Fernandes[email protected]

Sub-editor, no BHAZ desde fevereiro de 2017. Jornalista graduado pela PUC Minas, com experiência em redações de veículos de comunicação. Trabalhou na gestão de redes do interior da Rede Minas e na parte esportiva do Portal UOL. Com reportagens vencedoras nos prêmios CDL (2018, 2019, 2020 e 2022), Sindibel (2019), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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