Governo Zema repete os mesmos passos de Pimentel após rompimento de barragem

Bárbara Ferreira/BHAZ

“Estão seguindo os mesmos passos do governo anterior no âmbito econômico e a favor da mineração. É impossível alguém ver tudo o que aconteceu e a quantidade de vítimas, respaldar a empresa dizendo que ‘desta vez a Vale aprendeu’ e que se trata de um ‘incidente’. É um desrespeito com a dor das pessoas que não terão parentes encontrados. Isso não pode continuar”.

A avaliação acima foi feita pela ambientalista Maria Teresa Corujo durante o 58º Fórum Mineiro dos Comitês de Bacias Hidrográficas, realizado nessa quarta-feira (13), no auditório da Rodoviária de Belo Horizonte. A especialista foi a única integrante do Conselho Estadual de Política Ambiental de Minas Gerais (Copam) que votou contra o licenciamento ambiental da barragem de Córrego do Feijão, da Vale, que se rompeu e deixou centenas de mortos e desaparecidos em Brumadinho.

“Precisamos fazer pressão, pois o poder econômico continua mandando em tudo, as pessoas estão morrendo soterradas em lama, a água está sendo gravemente comprometida e os atores políticos continuam agindo como se nada tivesse acontecido”, diz Maria.

Os órgãos ambientalistas temem que as discussões sobre a tragédia do rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho, se limitem ao governo e à mineradora, sem a participação popular. Algo semelhante ao caso da Samarco, com o rompimento da barragem de Fundão, em 2015, na cidade de Mariana.

Os presidentes de comitês de bacias também reivindicam uma maior participação nas discussões com a Vale, ao contrário do ocorrido com a relação entre governo e Samarco. Quem salienta isso é o presidente do fórum, Marcus Vinícius Polignano. “Queremos mudança para valer, não é tentando abafar que vai resolver. Brumadinho é uma consequência de uma Mariana mal resolvida. Como não se puniu, não se responsabilizou e ainda se construiu uma empresa financiada por quem destruiu tudo para se fazer processo de recuperação, mostrou que o crime compensa. Ou mudamos isso, ou vamos pagar o pato”, disse Polignano.

Abafamento

Segundo o presidente do fórum, o governo não pode adotar medidas de abafamento que, segundo o próprio, é uma tentativa de amortizar o ocorrido. “Gradativamente esse desastre vai saindo da mídia, entra nos gabinetes e não sai mais. O que aconteceu em Mariana, aconteceu em Brumadinho, é mais do mesmo”, conta.

Ele ressalta ainda que a consideração do governador em classificar o ocorrido como um incidente é um equívoco grave. “Não existe acidente em algo absurdamente previsível como Brumadinho, onde se colocaram os trabalhadores da empresa em uma área onde seriam as primeiras a serem mortas. Há que se rever isso e, principalmente, que o governador reveja seus conceitos”, disse Polignano.

Falta diálogo

Segundo Maria Corujo, há um movimento para que o secretário de Meio Ambiente, Germano Vieira, seja demitido. Ele também era secretário da pasta na gestão de Fernando Pimentel. “A presença dele no governo é algo gravíssimo, mostra que o setor econômico sinalizou que ele deveria continuar, pois mantém o sistema como sempre foi. Fizemos um abaixo-assinado pela retirada do atual secretário e não tivemos retorno”, diz.

Além disso, a ambientalista conta que, desde antes do desastre em Brumadinho, tenta falar com o governador.

“Mandei um e-mail ao governador, ligamos para a secretaria solicitando a oportunidade de conversar com o Zema e explicar a situação do Estado. Deixamos claro que queríamos reunir com ele ou alguém indicado que não fosse o secretário Germano ou alguém indicado por ele. Demorou cinco dias para responderem e disseram que tudo estava sendo resolvido em cada pasta. No dia seguinte aconteceu o rompimento em Brumadinho”, conta.

Para o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Paraopeba, Winston de Souza, o prejuízo causado pela lama no principal rio atingido pelos rejeitos ainda é imensurável. “O dano causado é imensurável e irreversível. O rio está morrendo e a Vale não nos responde sobre a reivindicação de sermos protagonistas no processo de recuperação, já que conhecemos o rio”.

O promotor Frederico Generoso, que esteve no evento representando o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), disse que está acompanhando as discussões. “O trabalho está sendo feito com proximidade à comunidade e todas as apurações e responsabilizações penais cabíveis estão em pleno antamento”, ressaltou o promotor.

Governo

Questionado sobre o pedido dos ambientalistas para participação no processo de recuperação dos danos causados em Brumadinho, o governo afirmou que fará um processo incluindo todos os órgãos.

“O processo de recuperação das bacias hidrográficas atingidas pelo desastre em Brumadinho, no empreendimento da Vale, vai integrar todos órgãos públicos com interface ao tema e representantes da sociedade civil”, disse o governo.

Quanto à saída do secretário de Meio Ambiente, Germano Vieira, o governo afirmou que ele será mantido.

“Sobre o secretário, a manutenção dele no cargo foi decidida após diálogo com setores ambientalistas que defendiam sua continuidade na direção da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad). A escolha também teve o objetivo de valorizar um servidor técnico e efetivo da Semad”.

A Vale também foi procurada, mas, não deu retorno até o fechamento desta matéria.

Nota do governo na íntegra

O processo de recuperação das bacias hidrográficas atingidas pelo desastre em Brumadinho, no empreendimento da Vale, vai integrar todos órgãos públicos com interface ao tema e representantes da sociedade civil.

Sobre o secretário, a manutenção dele no cargo foi decidida após diálogo com setores ambientalistas que defendiam sua continuidade na direção da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad). A escolha também teve o objetivo de valorizar um servidor técnico e efetivo da Semad.

Rafael D'Oliveira[email protected]

Repórter do BHAZ desde janeiro de 2017. Formado em Jornalismo e com mais de cinco anos de experiência em coberturas políticas, econômicas e da editoria de Cidades. Pós-graduando em Poder Legislativo e Políticas Públicas na Escola Legislativa.

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