Barragem abandonada ameaça se romper em Brumadinho: ‘Estamos morrendo de medo’, diz prefeito

Bárbara Ferreira/BHAZ

Nesta segunda-feira (12), dia em que se completa 200 dias do crime ambiental cometido pela Vale, que deixou centenas de vítimas em Brumadinho, a cidade teme vivenciar uma nova tragédia. A Barragem B1-A, que pertence a empresa Emicon Mineração e Terraplanagem, estaria em risco eminente de rompimento, podendo causar uma nova tragédia ambiental. A estrutura está abandonada e não foi descomissionada, como mandam os protocolos de segurança.

Em caso de um novo rompimento na cidade, o número de vítimas seria menor do que o registrado na tragédia no Córrego do Feijão, já que, segundo a prefeitura, são poucas famílias abaixo da barragem. Elas já estariam, inclusive, sendo removidas da região. De acordo com o prefeito de Brumadinho, Avimar de Melo, o rompimento causaria danos ao Rio Manso, que abastece parte de BH e grande parte de Brumadinho.

“Em relação a vidas, estamos fazendo de tudo para que não exista nenhuma morte. Todas as famílias, acredito que são em torno de cinco, serão evacuadas da zona de risco. A questão é o estrago. Caso a barragem se rompa, a lama chegaria ao Rio Manso e, além disso, três pontos da BR-381 seriam atingidos”, afirma.

Avimar de Melo explica que a empresa já não atua no município há mais de 10 anos, contudo, a Defesa Civil Municipal identificou a barragem em risco. “A Defesa Civil do município constatou que a barragem está abandonada e algumas rachaduras. Antes de termos novos problemas, acionamos os bombeiros, a Polícia Civil e o Ministério Público, para tomarmos providências. Não podemos ter que encarar outra tragédia. Ainda estamos sofrendo muito pelo ocorrido”, diz Avimar.

Segundo dados da Agência Nacional de Mineração (AMN), a Emicon mantém na região duas barragens: a B1-A, com 38 metros de altura e 914,5 mil metros cúbicos de rejeitos, e a barragem de Quéias, com 75 mil metros cúbicos. A mineradora registrou no sistema também os diques B3 e B4 que, somados, contam com mais de 25 mil metros cúbicos de lama de mineração.

Das barragens, somente a B1-A tem potencial alto de destruição, segundo a ANM. Os diques B3 e B4 têm, respectivamente, potenciais médio e baixo. A barragem Quéias não tem este tipo de classificação.

Nenhuma das estruturas têm estabilidade garantida, entretanto, elas não são construídas com método à montante, que é o mesmo das barragens que se romperam em Mariana e Brumadinho.

Na tarde desta segunda, secretários da prefeitura, representantes dos órgãos públicos e da Emicon se reuniram na cidade para discutir medidas que evitem mortes e uma nova tragédia ambiental. “Estamos fazendo esta reunião para discutir o que fazer.

O prefeito afirma que o medo é iminente na cidade. “É uma tragédia como a outra. Pode ser menor em relação ao número de vidas, que queremos que seja zero. Mas, o impacto ambiental é o mesmo. Estou morrendo de medo de faltar água em Brumadinho. Não podemos ter que encarar outra tragédia, ainda estamos sofrendo muito”, diz Avimar.

Em relação à tragédia no Córrego do Feijão, até o momento, 248 corpos foram identificados e 22 pessoas continuam desaparecidas.

Água em BH

Procurada, a Copasa disse que não vai se pronunciar sobre o impacto do possível rompimento no abastecimento de água de Belo Horizonte e Brumadinho. O BHAZ entrou em contato com o vereador Irlan Melo, relator da CPI de Brumadinho na Câmara de BH. A CPI apura os impactos da mineração no abastecimento da capital.

Segundo o vereador, caso o Rio Manso seja atingido, a capital sofrerá com a falta de água. “O Rio Manso faz parte do sistema Paraopeba, que atende cerca de 30% de Belo Horizonte. Nós já fomos prejudicados pelo fato de o rio Paraopeba ter sido atingido. Agora, caso o Rio Manso venha a ser afetado, aproximadamente 100% das pessoas que moram nas regionais Oeste e Barreiro ficariam sem água”, diz o vereador.

Impactos

Quanto à BR-381, a empresa responsável pela administração da via, a Arteris, disse, em nota, que já há um plano de contingenciamento em estudo para garantir o fluxo e a segurança dos usuários.

“Arteris Fernão Dias, responsável pela administração da BR-381 entre Contagem e Guarulhos, comunica que tomou conhecimento hoje em reunião realizada na sede da Prefeitura de Brumadinho sobre possibilidade de rompimento de barragem de propriedade da mineradora Emicon, com possível interferência no tráfego da BR-381. Diante da referida situação, a Concessionária informa que está avaliando as medidas a serem adotadas para preservar o fluxo e a segurança dos usuários que trafegam pela rodovia”, diz a nota na íntegra.

O BHAZ tentou contato com a Emicon, mas sem retorno. A matéria será atualizada caso a Emicon retorne à reportagem.

Rafael D'Oliveira[email protected]

Repórter do BHAZ desde janeiro de 2017. Formado em Jornalismo e com mais de cinco anos de experiência em coberturas políticas, econômicas e da editoria de Cidades. Pós-graduando em Poder Legislativo e Políticas Públicas na Escola Legislativa.

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