Colégio da Zona Sul de BH anula prova após professor usar texto anti-Bolsonaro em questão

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Uma avaliação de Língua Portuguesa aplicada em alunos do Ensino Médio do Colégio Loyola, em BH, foi anulada por conter um texto do humorista e colunista da Folha de S. Paulo, Gregório Duvivier, com críticas direcionadas ao atual presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL). Pais de alunos questionaram a prova, o que levou o colégio da Zona Sul da capital a anular toda a avaliação.

De acordo com a instituição de ensino, o protocolo seguido consta no documento de “Abordagem de Temas Transversais para formação integral inaciana na escola básica”, que prevê um posicionamento apartidário. Já o sindicado dos professores alega que houve um cerceamento da liberdade.

A polêmica teve início na última segunda-feira (7), quando alunos do 2º ano do Ensino Médio realizaram a 1ª Avaliação Globalizante de Língua Portuguesa, da 3ª Etapa Letiva de 2019.

Logo na primeira questão, os alunos se depararam com o texto “Único jeito de não ficar triste é ficar puto”, de Duvivier. A crônica, publicada na Folha no dia 28 de agosto, dispara críticas ao atual governo comandado por Bolsonaro.

“Esse governo é um gatilho poderoso pra depressão. As queimadas, o apocalipse iminente, a recessão inevitável, o desemprego crescente, a vergonha mundial. O presidente parece eleito pela indústria farmacêutica pra vender antidepressivo”, diz um trecho do texto.

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Pais que tiveram acesso ao material após a aplicação procuraram a escola para reclamar do conteúdo exposto no texto. Diante do clamor, o Colégio Loyola optou por anular toda a avaliação.

Questionada se o profissional de ensino que aplicou a prova tinha conhecimento da linha de ensino da escola antes de colocar o texto na prova, a unidade de ensino disse que “tratará internamente as questões relativas à gestão de processos e equipes”. Em nota (confira na íntegra abaixo), o colégio acrescenta que “mantém-se aberto ao diálogo com as famílias e pessoas que integram a comunidade escolar”.

No entanto, a presidente do Sinpro (Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais), Valéria Morato, acredita que houve um cerceamento de liberdade de cátedra do profissional de ensino que aplicou a prova.

“Entendo que o professor que aplicou essa avaliação já está lá há muito tempo, portanto, tem confiança e conhece as diretrizes do colégio, não houve nenhuma intenção partidária. A partir do momento em que o colégio passa a ceder a essas pressões de pais, há um cerceamento à liberdade de cátedra”, diz.

Ainda segundo Valéria, a escola precisa dar segurança aos profissionais. “Acho que a escola precisa ter segurança no processo político pedagógico. O Loyola é um colégio com muitos anos de mercado e tem respaldo da população. Portanto, precisa se fortalecer. A sociedade vive um momento de cerceamento em diversos setores, o colégio não pode ceder a esta postura anti-democrática”, ressalta a professora.

Nota do Colégio Loyola

“Prezada Comunidade Educativa,

Sobre a 1ª Avaliação Globalizante de Língua Portuguesa da 3ª Etapa Letiva de 2019, aplicada à 2ª Série do Ensino Médio na última segunda-feira, o Colégio Loyola:

  • Está ciente dos questionamentos apresentados por parte das famílias da comunidade escolar.
  • Está procedendo com o levantamento de informações sobre o contexto da aplicação dessa atividade, para tomada de providências cabíveis.
  • Informa que a avaliação está anulada. A Coordenação Pedagógica da 2ª Série EM orientará alunos e famílias sobre os procedimentos que serão adotados, garantindo o não prejuízo acadêmico a todos os alunos.
  • Tratará internamente as questões relativas à gestão de processos e equipes.
  • Informa que, para orientação do trabalho docente nas séries, possui como diretriz o documento denominado “Abordagem de Temas Transversais para formação integral inaciana na escola básica”. Esse documento tem como objetivo nortear o trato adequado de conteúdos em sala de aula, resguardando a qualidade acadêmico-pedagógica para além de qualquer posicionamento político e/ou ideológico.
  • Reafirma seu posicionamento apartidário para condução do processo educativo.
  • Mantém-se aberto ao diálogo com as famílias e pessoas que integram a comunidade escolar, ressaltando, para isso, que o canal de Comunicação institucionalizado para trato das questões acadêmico-pedagógicas permanece sendo a Coordenação Pedagógica de Série.
  • Ressalta a seriedade da Proposta Pedagógica da escola e o compromisso de oferecer uma educação de excelência, pautada nos valores inacianos e cristãos.

 Cordialmente, pelo Conselho Diretor,

Juliano Oliveira

Diretor Geral”

Rafael D'Oliveira[email protected]

Repórter do BHAZ desde janeiro de 2017. Formado em Jornalismo e com mais de cinco anos de experiência em coberturas políticas, econômicas e da editoria de Cidades. Pós-graduando em Poder Legislativo e Políticas Públicas na Escola Legislativa.

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