Funcionários do João XXIII paralisam trabalho após denúncia de superlotação

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Funcionários do Hospital Pronto-Socorro João XXIII protestam por conta de superlotação da unidade (Divulgação/Asthemg)

Após denúncias de superlotação e pacientes sendo atendidos em corredores, funcionários do turno da manhã do Hospital de Pronto-Socorro João XXIII iniciaram uma paralisação nesta terça-feira (13). Os profissionais estão reunidos em frente a unidade, localizada na avenida Alfredo Balena, na região Centro-Sul de Belo Horizonte. Em imagens divulgadas à imprensa, é possível ver corredores lotados e atendimentos sendo feitos de forma improvisada.

A Fhemig (Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais), informou que “não foi notificada pela Asthemg (Associação Sindical dos Trabalhadores em Hospitais de Minas Gerais) sobre o movimento” (Veja a nota abaixo).

De acordo com a Asthemg, ainda não há previsão para que os trabalhadores voltem ao trabalho. Profissionais que estavam no turno da noite continuam trabalhando, para que os pacientes não sejam desassistidos. “A situação de caos foi definitivamente instalada no João XXIII com o fechamento de um ambulatório [Sala 7]. A mudança desalojou os pacientes que eram tratados ali para o corredor”, diz trecho da nota divulgada pelo sindicato.

Imagens mostram superlotação em corredores do João XXIII (Divulgação/Asthemg)

Segundo a instituição, o corredor lotado coloca em proximidade arriscada pacientes comuns e aqueles em tratamento de Covid-19. “Neste corredor, também o pessoal da enfermagem trabalha sob tensão redobrada, divididos entre a responsabilidade de dar medicação e de administrar a própria calma e a dos pacientes expostos ao trânsito contínuo de pessoas e macas”, continua a nota.

Reivindicações

“O fechamento de todos os ambulatórios e o fato de ter acumulado todas as sete clínicas em um único ambiente, num único ambulatório, tem levado os profissionais a cometerem erros. Aumentam os riscos da medicação ser feita de forma errada, além da possibilidade de descontrole das prescrições e dos exames a serem feitos nos pacientes o que coloca em risco a integridade dos mesmos”, continua o sindicato.

Veja as reivindicações dos profissionais:

  • Reabertura imediata da Sala 7 no ambulatório, para que os pacientes dos corredores possam ser atendidos de forma um pouco mais digna;
  • Garantia de ambiente adequado e salubre na Sala 6, para os pacientes e os funcionários, já que o local é fechado por ser tratamento de Covid-19 e tem chegado a 39ºC sem sistema de ventilação apropriado;
  • Revisão da decisão de fechamento da sutura onde as pacientes femininas e crianças eram tratadas de forma mais digna, com respeito à sua vulnerabilidade e privacidade;
  • Reposição do quadro de funcionários da enfermagem;
  • Reconsideração das condutas administrativas que estão sendo implantadas com consequências que prejudicam a assistência dos pacientes.

Superlotação é ‘comum’

Por meio de nota), a Fhemig diz não ter conhecimentos das denúncias e que também não foi notificada pela Asthemg. “A Fhemig esclarece ainda que o Hospital João XXIII é referência no atendimento a traumas, queimaduras e outras urgências graves; portanto, cabe à unidade receber os casos, que são atendidos em primeiro momento. Conforme o quadro clínico, os pacientes são encaminhados para a Central de Internação, aguardando transferência, fluxo adotado desde sempre pelo hospital”.

Para a fundação, a superlotação do hospital é algo comum. “Por se tratar de um pronto-socorro, referência para todo o Estado, o Hospital João XXIII possui alta taxa de ocupação. No momento, está operando com cerca de 120% de sua capacidade. Mesmo com essa lotação, continua a garantir a qualidade do seu atendimento e a segurança dos seus pacientes, resguardados por rígidos padrões clínicos e sanitários”.

A Fhemig ainda destaca que não compactua com o protesto. “Consideramos que manifestações tempestivas afetam ainda mais o cotidiano do hospital em um momento onde todos os esforços são necessários, comprometendo irresponsavelmente a assistência. Dessa forma, apesar da Fhemig manter o diálogo com os representantes dos servidores periodicamente, a decisão de promover uma paralisação nesse momento crítico, sem aviso prévio, gera significativos impactos no atendimento, principalmente aos casos de urgência”.

Nota da Asthemg

“BASTA! A partir de amanhã [hoje], 13/10, trabalhadores do Hospital João XXIII se recusam a seguir a política de negligência do governo nos cuidados aos pacientes Os trabalhadores do Hospital João XXIII denunciam que os pacientes estão correndo risco e comunicam a decisão deles de se recusarem a trabalhar em condições precárias.

Se até amanhã [hoje], terça (13), a Fhemig não tomar providências para restabelecer as condições dignas de trabalho no Pronto Socorro, os servidores da saúde não irão mais atuar em ambiente hospitalar que coloca a vida dos pacientes em risco. Servidores da saúde não vão ser cúmplices desta situação e exigem a abertura da sala 7 para retirar os pacientes dos corredores.

Os trabalhadores estarão as 7hs do dia 13/10, terça feira, na porta do Hospital João XXIII, quando apresentarão documentos e imagens e depoimentos de pacientes referente as denúncias. Os profissionais da enfermagem alertam para a contínua precarização das condições de atendimento que eles vêm enfrentando nesta instituição de reconhecida excelência que é o HPS.

Nos últimos meses, a gestão do hospital, sob responsabilidade da Fhemig, tem feito mudanças no espaço de atendimento dos pacientes que os colocam em risco. Os servidores ressaltam que é um dever ético o de não compactuarem com situações que ameaçam a continuidade do trabalho de qualidade prestado no HPS.

A situação de caos foi definitivamente instalada no João XXIII com o fechamento de um ambulatório (Sala 7). A mudança desalojou os pacientes que eram tratados ali para o corredor. O corredor lotado coloca em proximidade arriscada pacientes comuns e aqueles em tratamento de covid-19. Neste corredor, também o pessoal da enfermagem trabalha sob tensão redobrada, divididos entre a responsabilidade de dar medicação e de administrar a própria calma e a dos pacientes expostos ao trânsito contínuo de pessoas e macas.

O fechamento de todos os ambulatórios e o fato de ter acumulado todas as sete clínicas em um único ambiente, num único ambulatório, tem levado os profissionais a cometerem erros. Aumentam os riscos de medicação ser feita de forma errada além da possibilidade de descontrole das prescrições e dos exames a serem feitos nos pacientes o que coloca em risco a integridade dos mesmos. A incompreensível opção da gestão pelo caos no Pronto Socorro também pode ser vista na Sala 3. Ali foram reunidos os atendimentos para 7 (sete) tipos diferentes de clínicas que antes possuíam espaço próprio.

Outro retrocesso que pode ser verificado no HPS foi o fechamento da sala de sutura (para cuidado de pequenos ferimentos) onde eram acolhidas mulheres e crianças. Esses pacientes perderam o espaço que lhes garantia mais privacidade e agora são cuidadas juntamente com os pacientes homens.

Mais uma vez, o pessoal da enfermagem, habituado com o atendimento humanizado que vem prestando ao longo de anos, sabe que essas mudanças não são boas para os pacientes que buscam atendimento no HPS. Por isso vimos a público fazer esse alerta para evitar danos a um serviço de saúde exemplar em Minas Gerais e no Brasil. É preciso agir enquanto é tempo.

Desse modo, os trabalhadores destacam aqui o que já foi solicitado por meio de documentos à administração do HPS, feita pela Fhemig:

  • A reabertura imediata da Sala 7 no ambulatório, para que os pacientes dos corredores possam ser atendidos de forma um pouco mais digna;
  • Garantia de ambiente adequado e salubre na Sala 6, para os pacientes e os funcionários, já que o local é fechado por ser tratamento de Covid-19 e tem chegado a 39ºC sem sistema de ventilação apropriado;
  • Revisão da decisão de fechamento da sutura onde as pacientes femininas e crianças eram tratadas de forma mais digna, com respeito à sua vulnerabilidade e privacidade;
  • Reposição do quadro de funcionários da enfermagem;
  • Reconsideração das condutas administrativas que estão sendo implantadas com consequências que prejudicam a assistência dos pacientes”.

Nota da Fhemig

“A Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) informa que, até o momento, não foi notificada pela Asthemg sobre o movimento, assim como o Hospital João XXIII, que também não foi informado pela associação e não teve conhecimento prévio das denúncias.

A Fhemig esclarece ainda que o Hospital João XXIII é referência no atendimento a traumas, queimaduras e outras urgências graves; portanto, cabe à unidade receber os casos, que são atendidos em primeiro momento. Conforme o quadro clínico, os pacientes são encaminhados para a Central de Internação, aguardando transferência, fluxo adotado desde sempre pelo hospital.

Por se tratar de um pronto-socorro, referência para todo o Estado, o Hospital João XXIII possui alta taxa de ocupação. No momento, está operando com cerca de 120% de sua capacidade. Mesmo com essa lotação, continua a garantir a qualidade do seu atendimento e a segurança dos seus pacientes, resguardados por rígidos padrões clínicos e sanitários.

A manutenção da escala de servidores completa tem sido dificultada devido aos afastamentos daqueles que pertencem ao grupo de risco durante a pandemia.

Consideramos que manifestações tempestivas afetam ainda mais o cotidiano do hospital em um momento onde todos os esforços são necessários, comprometendo irresponsavelmente a assistência. Dessa forma, apesar da Fhemig manter o diálogo com os representantes dos servidores periodicamente, a decisão de promover uma paralisação nesse momento crítico, sem aviso prévio, gera significativos impactos no atendimento, principalmente aos casos de urgência.

O Hospital João XXIII está se esforçando para dar continuidade aos seus relevantes serviços em um cenário desfavorável, mantendo a população mineira assistida nesse momento, assim como sempre atuou na saúde pública – com seriedade e compromisso”.

Edição: Aline Diniz
Vitor Fernandes[email protected]

Sub-editor, no BHAZ desde fevereiro de 2017. Jornalista graduado pela PUC Minas, com experiência em redações de veículos de comunicação. Trabalhou na gestão de redes do interior da Rede Minas e na parte esportiva do Portal UOL. Com reportagens vencedoras nos prêmios CDL (2018, 2019, 2020 e 2022), Sindibel (2019), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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