Motorista fugiu por medo e chorou durante todo o depoimento, diz PCMG

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Delegados passaram detalhes da investigação (Reprodução/Redes Sociais + Divulgação/PCMG)

O motorista que dirigia o ônibus envolvido no gravíssimo acidente na BR-381 prestou depoimento à Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), ontem (7). O homem de 47 anos conversou com os policiais durante três horas, chorou o tempo todo e justificou ter fugido por medo. Uma mulher, filha da representante legal da empresa do ônibus, também foi ouvida e acabou passando mal. Os trabalhos de investigação continuam.

“O motorista se apresentou voluntariamente com um advogado. Muitas partes do depoimento a gente não pode revelar. Ele apresentou várias versões do fato e colaborou da melhor formar possível com a investigação. Não deixou de dar nenhuma resposta, prestou os esclarecimentos e chorou o tempo todo”, informou o delegado regional Paulo Tavares.

O ônibus que despencou de uma ponte, em João Monlevade, na região Central de Minas Gerais, estava com 48 passageiros e 19 pessoas morreram. A razão do acidente, segundo o motorista, foi “falha técnica”. “Ele disse que o ônibus voltou de marcha ré e teve problema no freio. Isso vai ser confirmado, ou não, por provas periciais”. Antes da queda do veículo, o motorista conseguiu sair e não apresentava ferimentos.

Dois passageiros desembarcaram em Governador Valadares antes da tragédia, conforme informaram os policiais. Os trabalhos da perícia devem ficar prontos em 30 dias.

Fuga

Desde o dia do acidente, o paradeiro do motorista era desconhecido. Após três dias foragido, ele se entregou à polícia e explicou o motivo da fuga. “Ele disse que ficou com medo. Muitas pessoas, segundo ele, paravam no local e procuravam pelo motorista. Ele se sentiu acuado e fugiu”, disse o delegado. O local onde o homem estava não foi revelado. “Ficou na região [do acidente], sem sair da comarca. Não podemos dizer como ele fugiu”.

O homem chorou durante as três horas de depoimento, conforme detalhou a delegada Ana Paula Locatelli Bonato. “O emocional dele estava bastante abalado. Mesmo assim, o depoimento esclareceu alguns fatos e não teve nenhuma incoerência”, afirmou. Até o momento, já foram ouvidas dez pessoas no inquérito.

O motorista foi liberado depois do depoimento e será ouvido pelos policiais em outra oportunidade. Neste momento, segundo Tavares, não há motivos para a prisão dele. “Não havia cautelar contra ele. As investigações vão continuar e ele ainda tem novas colaborações com o inquérito. No entender do inquérito, não há necessidade de custódia cautelar”.

Representantes da empresa

O delegado Tavares espera ouvir, na próxima semana, os representantes legais da empresa Localima Turismo. Ontem, a filha deles foi ouvida pela PCMG. “A senhora alegou que não conhece muito bem os trâmites da empresa, pois quem a conduz são os pais e irmãos dela. Durante o depoimento, ela teve mal-estar e foi atendida. Resolvemos encerrar, já que não trazia qualidade no depoimento que pudesse ser usada”.

O responsável pela investigação deseja conclui o inquérito “no menor prazo”. “Precisamos da oitiva dos representantes da Localima. Aguardamos para que a mulher e o marido, que é o gerente, estejam aqui na semana que vem”. Por fim, o delegado ressaltou que não se pode falar sobre quais crimes os envolvidos podem responder. “É complexo falar isso agora”, finalizou.

O caso

O veículo da empresa Localima Turismo saiu do povoado de Santa Cruz do Deserto, em Mata Grande, Alagoas, às 9h da manhã da quinta-feira (3), em direção a São Paulo. Após uma falha mecânica, o ônibus caiu do local conhecido como Ponte Torta, de uma altura aproximada de 35 metros, na última sexta (4).

De acordo com balanço divulgado em conjunto pelo Corpo de Bombeiros, Polícia Civil e Defesa Civil de Minas Gerais, quatro vítimas não sofreram ferimentos e não precisaram ser socorridas. Além dos militares do Corpo de Bombeiros, dezenas de moradores da região atuaram como voluntários no local do acidente.

A empresa Localima afirmou que não vai se furtar da responsabilidade. “Somaremos todas as nossas forças e emprenho para prestar total assistência às vítimas e aos familiares. Nada, absolutamente nada, trará de volta a vida das vítimas. Foi uma fatalidade que gostaríamos de ter evitado”, disse, em trecho de nota (leia a íntegra abaixo).

Nota da Localima na íntegra

“A empresa LOCALIMA vem, através da presente Nota, expressar nosso pesar e nossa profunda tristeza pelas vítimas e seus familiares acerca do acidente ocorrido no dia 04/12/2020. 

Informamos, ainda, que a LOCALIMA possui contrato de arrendamento junto à empresa J.S. TURISMO, a qual transporta seus passageiros dentro das regras dos órgãos fiscalizadores – ANTT e Polícia Rodoviária Federal. 

Não nos furtaremos da nossa responsabilidade, e somaremos todas as nossas forças e empenho para prestar total assistência às vítimas e aos seus familiares. 

Nada, absolutamente nada, trará de volta a vida das vítimas. Foi uma fatalidade que gostaríamos de ter evitado. 

Todos os fatos estão sendo apurados, e a nossa empresa possui interesse direto na devida elucidação, sendo certo que as reparações serão realizadas, caso a caso, para que a dor das vítimas e dos seus familiares sejam amenizadas. 

Lamentamos o ocorrido, e nos sentimos profundamente abalados por este grave acidente. Não obstante, nossa equipe esclarece que se coloca à inteira disposição, dando suporte humano, digno, com compaixão e empatia, para amenizar a dor daqueles que sofrem, sejam vítimas ou seus familiares. 

Com profundo pesar, LOCALIMA”.

Edição: Thiago Ricci
Vitor Fórneas[email protected]

Repórter do BHAZ de maio de 2017 a dezembro de 2021. Jornalista graduado pelo UniBH (Centro Universitário de Belo Horizonte) e com atuação focada nas editorias de Cidades e Política. Teve reportagens agraciadas nos prêmios CDL (2018, 2019 e 2020), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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