Imagens mostram banhistas ilhados em Capitólio: ‘Uma nuvem branca’

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Turista que estava no local relembrou momentos de desespero com a família (CBMMG/Divulgação + Luiggi Pavaneli/Arquivo Pessoal)

“Eu olhei para trás e vi uma nuvem branca. Só deu tempo de gritar ‘sobe, sobe, sobe!’, aí já veio aquele tanto de água, veio gente caindo já desmaiada, veio tudo de uma vez”. Essa é a principal memória que o paulista Luiggi Pavaneli tem da cabeça d’água que arrastou 20 banhistas e deixou dois mortos em Capitólio, no Sul de Minas, nesse sábado (2). Ele estava em um passeio com a família no momento do acidente e contou ao BHAZ que não consegue esquecer a cena desesperadora.

Luiggi, que mora em Franca, município no interior de São Paulo, viajou com um grupo de 20 pessoas para Capitólio. Dez deles – incluindo quatro crianças – estavam no local no momento que a água desceu. Todos ficaram ilhados por quase sete horas. “Eu, meu tio, meu irmão, as duas meninas do meu irmão, a minha cunhada, duas menininhas pequenininhas que estavam sob nossa responsabilidade… Todos estavam embaixo da cachoeira mesmo. Nós ficamos os dez ilhados no mesmo lugar”, lembra.

Em vídeos enviados ao BHAZ, é possível ver o local antes do acidente – com o clima tranquilo e pouca água – e o depois, com adultos e crianças ilhados em pontos espalhados entre as águas agitadas. “Gente, olha o perigo. Filmei mais cedo, estava no carro dormindo e a minha família inteira está ilhada. Olha aí as pessoas ilhadas, não tem como ajudar, chamaram os bombeiros e estamos aguardando ainda”, diz Luiggi, claramente abalado, nas imagens.

‘Ficou só a coisa ruim na cabeça’

Depois de várias horas, Luiggi e sua família foram todos resgatados com apenas alguns ferimentos leves. Os momentos de terror que eles viveram, no entanto, estão longe de ficar no passado. “Nós todos escapamos só com arranhão, inclusive as crianças, graças a Deus. Ficou só a coisa ruim na cabeça da gente, principalmente das crianças. Elas estão bem abaladas, é um trauma muito grande”, conta.

O homem relata ainda que nunca viu nada parecido. “Na hora que eu vi a nuvem, eu já reagi, falei pra todo mundo subir. Meu irmão até perguntou o que foi e eu falei ‘só sobe’, porque na hora eu só vi uma nuvem branca”, lembra. Segundos depois, eles descobriram que Luiggi estava certo em se preocupar – e que a “nuvem” era, na verdade, um perigo muito maior.

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Bombeiros já completam mais de 24h fazendo buscas (Corpo de Bombeiros/Divulgação)

“Depois que a gente foi ver que aquela nuvem ali já era a água. Aí na hora que a gente subiu nas pedras, a gente já viu as pessoas caindo lá de cima. Tinha muita gente mais lá para cima”, lembra. O homem relata que, por conta do desespero, não conseguiu ver muitos detalhes, mas a movimentação foi grande. “Lá embaixo tinha gente com jet ski ainda, deveria ter umas 30, 40 pessoas”, conta.

Passeio encerrado

Mesmo com o grande número de banhistas, ele relata que o espaço não tinha nenhum profissional ou estrutura para prevenir situações como a que a família viveu. “Foi só o resgate depois. Não tinha alarme de avisar, nada. Se tivesse alarme, a gente teria saído muito antes”, conta. Luiggi lembra ainda que, além dos familiares, dividiu com outros turistas o medo e a aflição de ver gente caindo em meio à agua. “Nós ficamos ilhados no mesmo lugar, mais para frente ficou um casal e, do outro lado, mais um rapaz. Na curva do rio, ficou mais um monte de gente. Foi muita gente mesmo”, conta.

Depois da experiência traumática, a família decidiu encerrar o passeio. Os tios que estavam com eles voltaram para a cidade natal, São José do Rio Preto, e Luiggi, o irmão e os sobrinhos também já estão de volta em casa. Apesar da gratidão por terem sobrevivido sem ferimentos, o caminho para apagar as memórias ainda será longo: “Agora estamos bem de saúde, estamos seguros, mas ainda com o trauma, né?”.

Final trágico

Até agora, a cabeça d’água já deixou duas pessoas mortas. Trata-se de duas mulheres adultas que ainda não foram identificadas. Além dessas, outras 16 pessoas foram resgatadas com vida, de acordo com o tenente Pedro Aihara, porta-voz do Corpo de Bombeiros de Minas. “Onze foram retiradas por helicópteros e cinco por equipes de terra. Uma tinha uma fratura mais grave e foi atendida por helicóptero e conduzida até a Santa Casa de Passos”, disse o tenente à reportagem do BHAZ.

Aihara explica ainda que os bombeiros continuaram trabalhando no local durante todo o dia de hoje (3) e devem seguir por lá até que encontrem uma vítima que ainda está desaparecida. A princípio, a corporação havia sido informada de que duas pessoas estavam sumidas, mas, por enquanto, consideram apenas uma. “Alguns populares falaram que seriam duas vítimas, mas, no cruzamento de dados, a princípio é considerado que seria somente um homem”, pontua o tenente.

Buscas continuam

A informação de apenas um desaparecido – um homem, cuja identidade ainda não foi confirmada, que foi visto afundando na água – é considerada como a oficial justamente porque o cruzamento de dados é a ferramenta mais confiável que os bombeiros têm no momento. A corporação, no entanto, não ignora completamente a possibilidade de haver uma segunda vítima desaparecida: “A gente não está descartando nada ainda, então estamos atuando em três frentes diferentes”.

Além do espaço de difícil acesso, os bombeiros agora lidam também com um outro fator que dificulta os trabalhos – uma mudança no fluxo da água. “A altura onde aconteceu esse acidente é na região da Cascatinha. Nesse local tem uma ponte e a água acabou atravessando da direita para a esquerda, então é uma área de buscas relativamente grande”, explica Aihara. Apesar disso, o tenente garante que os bombeiros já preparam um plano de buscas para os próximos dias e contam também com a ajuda da Marinha do Brasil.

Cuidados

Época de férias e calor aumenta o movimento em cachoeiras e afins – e o banhista deve ficar atento. Segundo a Defesa Civil de Minas, cabeça d’água – popularmente chamado de tromba d’agua – “é o fenômeno de aumento rápido e repentino da água em cachoeiras, rios e lagos devido a chuvas intensas nas cabeceiras ou em trechos mais altos do curso d’água”.

“Representa um grande perigo para os banhistas. A presença de folhas, o aumento do volume de som de cascata e a mudança da cor da água são indicativos do fenômeno. Ao notar a presença de qualquer um desses sinais, saia imediatamente”, explica o órgão mineiro.

“Evite frequentar esses locais em períodos chuvosos. E, se optar por ir, não vá sozinho. Dê preferência aos lugares com a presença de guarda-vidas e pesquisa sobre as condições meteorológicas na região”, complementa.

Confira também as orientações dos bombeiros na hora de curtir a natureza:

1 – Cuidado com o nível dos rios. No verão, especialmente quando faz sol e muito calor durante o dia, geralmente chove muito à tarde ou à noite, dependendo da região. Normalmente o volume de água dos rios fica mais alto e aumenta também os riscos de afogamento. A correnteza fica mais forte e, com qualquer descuido, ela leva você;

2 – Seguro morreu de velho. Mesmo que você esteja careca de conhecer o local, verifique a profundidade antes de mergulhar. As águas se movimentam o tempo todo e, com elas, as pedras, os troncos de árvores e a terra no fundo do rio;

3 – Muito cuidado com as pedras. O fato de elas estarem secas não quer dizer que não estão escorregadias. Por onde passa, a água deixa limo e, mesmo que imperceptível algumas vezes, ele é perigoso. O risco de levar um escorregão nesses locais é muito, super, hiper, extragrande. Fique de olho especialmente nas pedras que possuem uma “sujeira” preta, pois escorregam como sabão.

4 – Se vai com família, nunca deixe as crianças sozinhas. Elas geralmente são aventureiras, curiosas e não têm dimensão dos perigos. Não tire os olhos delas;

5 – Cuidado com os chinelos e sandálias de dedo. São um perigo, escorregam nas pedras pois não dão firmeza nenhuma aos pés e podem aprontar um tombo de uma hora para outra, além de agarrarem na lama. Prefira sandálias específicas para caminhadas e trekking nas montanhas;

6 – Nas áreas mais difíceis de atravessar, não arrisque pulos e, se possível, caminhe usando as mãos também. Em alguns momentos, andar de quatro garante a passagem segura. Antes de dar um passo, teste se está seguro antes de colocar seu peso todo sobre o apoio – seja uma pedra, um tronco, um galho;

7 – Jamais atravesse uma corredeira. Ela pode parecer fraquinha, mas a água tem muita força sempre e as pedras submersas são extremamente escorregadias. Sem equilíbrio você não tem chance alguma. Em último caso, o auxílio de uma corda é imprescindível;

8 – Cuidado com as águas muito geladas, que podem dar câimbra nas pernas imediatamente. Quando o poço é fundo, não dá pé o risco aumenta pela ansiedade causada;

9 – Cuidado com as famosas “cabeças d’água”. Mesmo com dia lindo elas podem chegar ao local onde você está, vindas de outras regiões onde caiu chuva pesada;

10 – Não use bebida alcoólica ou qualquer outra substância entorpecente. Você precisa estar no melhor do seu juízo para tomar decisões acertadas, medir seus passos com precisão e controlar bem seu corpo;

11 – Não participe ou promova brincadeiras de empurrar ou dar tombo em colegas. Deixe as brincadeiras para outra hora em que a vida de ninguém esteja em risco. Faça brincadeiras saudáveis e divirta-se com responsabilidade, sempre respeitando o outro;

12 – Use roupa de banho e leve toalhas para se secar. As águas de cachoeiras são geralmente muito geladas e podem trazer um resfriado. Levar uma peça de roupa extra também é uma boa pedida, já que voltar para casa com roupa molhada é sinônimo de ficar doente e cheio de assaduras.

Edição: Thiago Ricci
Giovanna Fávero[email protected]

Editora no BHAZ desde março de 2023, cargo ocupado também em 2021. Antes, foi repórter também no portal. Foi subeditora no jornal Estado de Minas e participou de reportagens premiadas pela CDL/BH e pelo Sebrae. É formada em Jornalismo pela PUC Minas e pós-graduanda em Comunicação Digital e Redes Sociais pela Una.

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